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Crédito ficará mais caro, dizem economistas
CLÁUDIA TREVISAN
TONI SCIARETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise nos financiamentos
imobiliários norte-americanos
desencadeou um movimento
global de reavaliação do custo
do crédito, que tende a subir.
Isso significa que empresas e o
governo brasileiros poderão
encontrar juros mais elevados
que os atuais quando forem
captar recursos no exterior.
Economistas ouvidos pela
Folha afirmam que a avaliação
do risco embutida na concessão de créditos estava contaminada por um otimismo excessivo, que levou à cobrança de
prêmios mais baixos do que seria razoável. Agora, com a inadimplência no chamado mercado "subprime" [empréstimos de risco maior] dos EUA,
aumentará o pessimismo e,
com ele, o prêmio de risco exigido de todos os devedores.
"O que aconteceu mostra
que todo mundo está machucado e pensando em crédito com
muito mais cuidado que antes",
diz Alexandre Schwartsman,
economista-chefe para a América Latina do Banco Real e ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC (Banco Central).
Joel Bogdanski, consultor de
Política Monetária do Banco
Itaú, ressalta que a baixa taxa
de juros no mercado internacional levou ao surgimento de
bolhas e a uma avaliação condescendente do risco.
Na opinião de Rodolfo Riechert, diretor do UBS Pactual, a
reavaliação do custo do crédito
torna o momento atual péssimo para as empresas brasileiras que pretendem emitir títulos no exterior. "O mercado está fechado até encontrar nova
precificação para dívida."
A incerteza sobre o tamanho
das perdas no mercado "subprime" dos EUA e a falta de clareza sobre quem será afetado
na crise levaram ontem a uma
paralisia nas operações de crédito interbancário europeu. As
instituições financeiras tinham
dinheiro, mas não queriam
correr risco de emprestá-lo.
Para evitar o agravamento da
crise, o Banco Central Europeu
injetou no mercado 94,8 bilhões, cobrando uma taxa de
4%. Segundo Bogdanski, a
atuação segue o que se espera
de autoridades monetárias em
momentos como o de ontem.
Análises recentes das razões
que levaram à crise de 1929
apontam para equívocos do Federal Reserve (o BC norte-americano), que elevou os juros e tirou liquidez do mercado
no momento em que a economia precisava de mais fôlego.
Nas turbulências recentes,
diz Bogdanski, os BCs têm feito
o contrário, reduzindo juros e
elevando a liquidez. Riechert
concorda: "Não sabemos o tamanho do prejuízo com as turbulências, mas vimos que os
bancos centrais deram liquidez
ao mercado, o que mostra que
estão atentos ao desdobramento da crise imobiliária".
Para o economista Gustavo
Franco, ex-presidente do BC, a
crise só terá desdobramentos
mais sérios se contaminar os
bancos. Por enquanto, ele vê
apenas problemas de liquidez
em grandes fundos. Em sua
opinião, ainda é difícil saber
qual será a extensão dos danos
da crise imobiliária nos EUA.
"Se a situação se restringir
aos fundos, não vai ter problema. A preocupação é se passar
dos fundos para os bancos."
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