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Para especialista, definição de classe média "é arbitrária"
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Não existe definição oficial
-muito menos consensual-
do que seja a classe média. No
entanto, não importa qual metodologia adotada, o que as pesquisas do IBGE e de outros institutos mostram é que ela tem
crescido no Brasil desde 2004.
Autor do estudo que, na semana passada, destacou o crescimento da classe média brasileira, o economista Marcelo
Neri, da FGV, diz que o tamanho dessa classe ou a forma como ela é definida é o menos importante em seu estudo.
"O limite que define as faixas
de cada classe eu concordo que
é arbitrário, é uma simplificação. O que mostramos de mais
importante é que está havendo
um crescimento dela e que,
mesmo com as crises internacionais, esse movimento continuou em 2008."
Neri afirma que, em seu levantamento, optou por classificar de classe média os domicílios com renda total entre R$
1.064 e R$ 4.591 porque é essa
faixa de renda que distingue
quem não está entre os 10%
mais ricos nem entre os 50%
mais pobres da população. A
partir desse recorte, o mais importante, segundo ele, foi verificar a evolução.
"O que eu queria chamar a
atenção é que essa classe cresceu. Mesmo se você considerar
como média apenas quem está
na classe A ou B [renda domiciliar superior a R$ 4.591], também houve aumento", diz.
Para ele, no entanto, na hora
de definir o que é a classe média
brasileira, não se deve "importar" a imagem que se tem em
países ricos. "Nos Estados Unidos, classe média é quem tem
dois carros e um projeto para
construir uma piscina. Mas isso
é no país mais rico do mundo",
afirma o economista.
Neri diz que há outras formas
de definir o que seria a classe
média e que uma delas está sendo trabalhada pela FGV e será
divulgada brevemente, levando
em conta não a renda, mas a expectativa das pessoas em relação a seu futuro.
O presidente da Associação
Brasileira de Empresas de Pesquisa, Waldyr Pilli, concorda
com Neri na afirmação de que a
classe média está crescendo no
país, independentemente da
forma como ela é definida.
Em janeiro deste ano, a associação atualizou seu critério de
definição de classes econômicas, conhecido como Critério
Brasil, o mais empregado em
pesquisas de opinião e de mercado.
Esse critério, para facilitar o
trabalho dos pesquisadores em
campo, cria uma tabela de pontos relacionados à quantidade
de bens em cada domicílio e à
escolaridade do chefe de família. A partir dessas informações, as classes são divididas
em oito grupos: A1, A2, B1, B2,
C1, C2, D e E.
"O que queremos com esse
critério é ter uma ferramenta
para estimar o poder de consumo das pessoas. Utilizamos a
tabela de acordo com a posse de
bens porque nem todas as pessoas sabem informar a renda
total domiciliar, mas quase todas sabem dizer quantos rádios, carros ou TVs elas têm em
casa", diz Pilli.
Ele explica que não há uma
regra imutável para definir a divisão das classes econômicas
pelo Critério Brasil.
"O que nós tentamos fazer é
manter a proporção da população que está em cada classe
mais ou menos nos mesmos patamares. Por isso atualizamos
com freqüência o critério. É
uma forma arbitrária de classificar, mas é preciso entender
que o objetivo é justamente diferenciar as pessoas de acordo
com seu poder de consumo, e
não classificar ninguém em termos de classes sociais", afirma
o presidente da associação.
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