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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Instituições mortas
FMI e Banco Mundial, que tinham funções definidas,
tornaram-se meros braços do Tesouro americano
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O FUNDO Monetário Internacional voltou aos jornais porque seu diretor-gerente, Rodrigo de Rato, demitiu-se sem explicar por que. Do seu lado, o Banco
Mundial também andou pelas manchetes, mas de forma ainda mais
constrangedora. Sei que esses episódios são circunstanciais, mas eles
confirmam um fato: essas duas instituições estão mortas; não têm
mais razão de ser.
O acordo de Bretton Woods, de
1944, baseado no princípio do câmbio fixo, entrou em colapso em 1971,
quando o governo americano suspendeu a paridade do dólar. O Banco
Mundial, por sua vez, se esvaziou
quando, no início dos anos 1980,
abandonou o desenvolvimentismo
que o caracterizara desde a sua fundação e se transformou no principal
agente de reformas neoliberais
orientadas para o mercado. O Banco
Mundial até essa época financiava
principalmente investimentos dos
Estados em infra-estrutura; a partir
de então se passou a supor que o setor privado se encarregaria da tarefa. Some-se a isso o fato de que se tornava cada vez mais difícil para o
banco obter recursos novos -de forma que se limitava a fazer a rolagem
de empréstimos velhos- para compreendermos por que essa agência
deixou de ser um banco de desenvolvimento para ser apenas instrumento de imposição de condicionalidades a países endividados.
O FMI poderia ter conservado seu
papel de emprestador de última instância para países. Entretanto seus
recursos deixaram há muito de serem suficientes para isso. Procurou
transformar-se em guardião da estabilidade monetária, mas mesmo
nesse ponto fracassou.
A partir do início dos anos 1990,
participou da política de crescimento com poupança externa, ou seja,
com déficit em conta corrente
-uma política que causaria sucessivas crises de balanço de pagamentos
nos países que a adotaram. Dessa
forma, de guardião passou a promotor da instabilidade macroeconômica: passou a apoiar o populismo
cambial que estava implícito nos déficits em conta corrente. E, mesmo
em matéria fiscal, afrouxou, ao atribuir um papel secundário ao déficit
público e só falar em déficit primário -um déficit consistente com elevado déficit público causado por juros.
A morte dessas instituições não é
apenas metafórica. Muitos países
em desenvolvimento perceberam o
logro em que se meteram quando,
nos anos 1970, e, novamente, nos
anos 1990, procuraram crescer com
poupança externa. Assim, no final
dos anos 1990, eles depreciaram
suas moedas e passaram a ter elevados superávits em conta corrente.
Pagaram os empréstimos ao FMI, e
este, agora, sem receitas, tem dificuldades em pagar seus próprios
funcionários.
Deveremos nos lamentar pelo esvaziamento do FMI e do Banco
Mundial? Sim, se estivessem realmente realizando seus papéis -o
primeiro, de emprestador de última
instância, o segundo, de promotor
do desenvolvimento. Em vez disso,
porém, eles se tornaram meros braços do Tesouro americano. Ora, as
políticas dos Estados Unidos em relação aos países em desenvolvimento mudaram radicalmente no final
dos anos 1970. Abandonaram a relativa generosidade desenvolvimentista dos Trinta Anos Gloriosos, e
passaram a ser as políticas de potência preocupada com a emergência
de concorrentes. Em vez de cuidar
de nossa própria vida nacional, poderíamos lamentar a mudança dos
EUA e esperar deles maior benevolência... Fica aos leitores a escolha da
alternativa.
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 73, professor emérito
da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda, da
Reforma do Estado, e da Ciência e Tecnologia, é autor de
"As Revoluções Utópicas dos Anos 60".
Internet: www.bresserpereira.org.br
lcbresser@uol.com.br
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