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Título público perde espaço nos fundos
Com juros cadentes, gestores compõem carteiras com papéis privados; busca de maior remuneração traz mais risco
Em 2000, títulos públicos federais respondiam por 76% das carteiras, mas em julho eram só 49%; ações subiram de 11% para 18%
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Junto a um crescimento acelerado nos últimos anos, o mercado de fundos brasileiro tem
sofrido uma transformação na
composição de suas carteiras.
Enquanto a participação de títulos públicos tem perdido espaço, o volume de papéis privados tem crescido nos fundos.
Para o investidor, isso traz
possibilidades de ganhos acima
da cadente taxa básica de juros.
Mas também aumenta o risco.
Em 2000, os títulos públicos
federais respondiam por
76,14% das carteiras dos fundos. Em julho deste ano, esse
percentual havia recuado para
os 48,81%. Na outra ponta, as
ações foram de 11,11% para
18,07% no período. Os certificados emitidos pelos bancos,
que rendem juros -CDBs e
RDBs-, tiveram elevação de
4,52% para 8,91% nas carteiras
dos fundos. As debêntures, que
são títulos de dívida que as empresas emitem e vendem para
investidores, subiram de 2,89%
em 2000 para 4,44% neste ano.
O levantamento pertence à
Anbid (Associação Nacional
dos Bancos de Investimento).
"É um movimento pelo qual
já passaram os mercados nos
países avançados. Conceitualmente, esse modelo carrega um
maior risco para o investidor,
pois o setor privado representa
mais risco que o setor público.
Mas vejo isso como uma importante evolução do nosso mercado ", diz o consultor Mauro
Halfeld, professor da Universidade Federal do Paraná.
No caso da caderneta de poupança, sua rentabilidade é definida por regras instituídas pelo
Banco Central. Dessa forma,
indiferente da instituição financeira onde a pessoa aplique,
o retorno que vai conseguir será sempre o mesmo.
Para os fundos de investimento, a realidade é outra.
Qualquer fundo, quer de renda fixa (que normalmente rende juros), quer de variável (que
costuma aplicar em ações), terá
que compor sua carteira de investimentos com diferentes tipos de títulos públicos e privados para conquistar determinada rentabilidade. De um modo geral, o que acontece é o seguinte: o investidor aplica suas economias em um fundo, recursos esses que se somam aos
dos outros investidores e formam o patrimônio do fundo.
Os gestores pegam esse patrimônio e compram no mercado
diferentes títulos.
Em um fundo de renda fixa,
os recursos são aplicados em títulos do governo que pagam taxas de juros e em papéis privados, como as debêntures. Num
fundo de renda variável, os recursos serão usados para adquirir ações.
Num passado recente, os
fundos de investimento carregavam percentual bem mais
elevado de títulos do governo,
que apresentam baixíssima
chance de sofrerem calote.
Nos últimos anos, os títulos
privados vêm conquistando
mais espaço, mesmo com risco
maior de calote. "Com a estabilização econômica e a queda
dos juros, os gestores tiveram
de buscar uma maior diversificação para montar as carteiras
e conseguir rentabilidades
mais atraentes aos clientes",
diz Pedro Paulo Silveira, economista da Gradual Corretora
Há outra categoria importante sendo buscada pelos gestores, as chamadas operações
compromissadas. Sem representatividade até 2003, estão
hoje em cerca de 12% da composição das carteiras.
Nessas operações, em sua
maior parte lastreadas em papéis públicos federais, os gestores adquirem títulos de terceiros com uma data específica de
recompra e juros preestabelecidos. É como se uma instituição financeira alugasse por um
determinado período o título
que pertence a outra.
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