São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2007

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Título público perde espaço nos fundos

Com juros cadentes, gestores compõem carteiras com papéis privados; busca de maior remuneração traz mais risco

Em 2000, títulos públicos federais respondiam por 76% das carteiras, mas em julho eram só 49%; ações subiram de 11% para 18%

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Junto a um crescimento acelerado nos últimos anos, o mercado de fundos brasileiro tem sofrido uma transformação na composição de suas carteiras. Enquanto a participação de títulos públicos tem perdido espaço, o volume de papéis privados tem crescido nos fundos.
Para o investidor, isso traz possibilidades de ganhos acima da cadente taxa básica de juros. Mas também aumenta o risco.
Em 2000, os títulos públicos federais respondiam por 76,14% das carteiras dos fundos. Em julho deste ano, esse percentual havia recuado para os 48,81%. Na outra ponta, as ações foram de 11,11% para 18,07% no período. Os certificados emitidos pelos bancos, que rendem juros -CDBs e RDBs-, tiveram elevação de 4,52% para 8,91% nas carteiras dos fundos. As debêntures, que são títulos de dívida que as empresas emitem e vendem para investidores, subiram de 2,89% em 2000 para 4,44% neste ano.
O levantamento pertence à Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
"É um movimento pelo qual já passaram os mercados nos países avançados. Conceitualmente, esse modelo carrega um maior risco para o investidor, pois o setor privado representa mais risco que o setor público. Mas vejo isso como uma importante evolução do nosso mercado ", diz o consultor Mauro Halfeld, professor da Universidade Federal do Paraná.
No caso da caderneta de poupança, sua rentabilidade é definida por regras instituídas pelo Banco Central. Dessa forma, indiferente da instituição financeira onde a pessoa aplique, o retorno que vai conseguir será sempre o mesmo.
Para os fundos de investimento, a realidade é outra.
Qualquer fundo, quer de renda fixa (que normalmente rende juros), quer de variável (que costuma aplicar em ações), terá que compor sua carteira de investimentos com diferentes tipos de títulos públicos e privados para conquistar determinada rentabilidade. De um modo geral, o que acontece é o seguinte: o investidor aplica suas economias em um fundo, recursos esses que se somam aos dos outros investidores e formam o patrimônio do fundo.
Os gestores pegam esse patrimônio e compram no mercado diferentes títulos.
Em um fundo de renda fixa, os recursos são aplicados em títulos do governo que pagam taxas de juros e em papéis privados, como as debêntures. Num fundo de renda variável, os recursos serão usados para adquirir ações.
Num passado recente, os fundos de investimento carregavam percentual bem mais elevado de títulos do governo, que apresentam baixíssima chance de sofrerem calote.
Nos últimos anos, os títulos privados vêm conquistando mais espaço, mesmo com risco maior de calote. "Com a estabilização econômica e a queda dos juros, os gestores tiveram de buscar uma maior diversificação para montar as carteiras e conseguir rentabilidades mais atraentes aos clientes", diz Pedro Paulo Silveira, economista da Gradual Corretora
Há outra categoria importante sendo buscada pelos gestores, as chamadas operações compromissadas. Sem representatividade até 2003, estão hoje em cerca de 12% da composição das carteiras.
Nessas operações, em sua maior parte lastreadas em papéis públicos federais, os gestores adquirem títulos de terceiros com uma data específica de recompra e juros preestabelecidos. É como se uma instituição financeira alugasse por um determinado período o título que pertence a outra.


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