São Paulo, quinta-feira, 10 de setembro de 2009

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Membros de comissões receberam doações de empresas interessadas

MARIA CLARA CABRAL
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dos oito deputados federais escolhidos para ocupar postos de comando nas comissões do pré-sal, sete receberam na campanha eleitoral doações de empresas diretamente interessadas no setor, aponta levantamento feito pela Folha junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O presidente e o relator da comissão que vai tratar da partilha do pré-sal- projeto considerado o mais importante pelo governo federal- foram financiados pela construtora Camargo Correa.
Parceira da Petrobras em diferentes obras, a construtora repassou R$ 319 mil a deputados envolvidos nos projetos, sendo a empresa que mais doou, em volume de recursos, aos comandantes das comissões.
O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), relator da principal proposta, recebeu R$ 100 mil da Camargo Correa, que é parceira da Petrobras na construção da térmica de Termoaçu, no Estado do deputado.
Já o presidente da comissão, Arlindo Chinaglia (PT-SP), ganhou R$ 169 mil da Camargo Correa, além de R$ 150 mil da Construtora OAS, associada ao IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo).
Procurados, Eduardo Alves e Chinaglia afirmaram que não há constrangimento porque as doações não influenciam em nada o trabalho deles.
Relator do projeto da capitalização da Petrobras, o deputado Antonio Palocci (PT-SP) foi um dos que mais receberam doações de empresas ligadas ao setor petrolífero. Ganhou recursos da UTC e da WTorre, empresas que constroem, respectivamente, plataformas de exploração de petróleo e diques secos para a Petrobras. Palocci não foi localizado para comentar o assunto.
O presidente da mesma comissão, Arnaldo Jardim (PPS-SP) -único deputado da oposição em um dos postos de comando nas comissões-, também recebeu R$ 50 mil da Camargo Correa e R$ 100 mil da Construtora OAS. "Não me sinto constrangido em relação a essa questão porque tenho pensamento próprio e autonomia", afirmou o deputado, que é a favor da participação de quem já usou o FGTS para a capitalização da companhia.
Responsáveis pela comissão que vai criar a Petro-Sal, os deputados Brizola Neto (PDT-RJ, presidente) e Luiz Fernando Faria (PP-MG, relator) contaram com doação da Ipiranga, empresa comprada pela Petrobras em parceria com a Braskem, em 2007.
"Não há conflito de interesses porque a Ipiranga, mesmo depois da fusão, não atua com produção, apenas com derivados de petróleo", diz Brizola Neto, que pretende realizar audiências públicas fora do Congresso para debater o pré-sal. O relator também não vê empecilhos: "Não tem nada a ver uma coisa com a outra, sou parceiro da Ipiranga há mais de 40 anos, pois tenho um posto de gasolina, mas eles nunca me pediram nada".
Na relatoria da última comissão, a que cria o fundo do pré-sal, estará João Maia (PR-RN). Ele recebeu R$ 48 mil da Tora Transportes, que tem entre seus clientes a Petrobras. Irmão de Agaciel Maia -ex-diretor do Senado afastado por ocultar da Justiça uma mansão-, o deputado caiu nas graças da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) desde que relatou a Lei do Gás. Maia não quis falar sobre as doações.
Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) foi único que não recebeu recursos de empresas ligadas ao setor. "Pesou o fato de eu ser fiel ao governo e de estudar o assunto", disse, anunciando que vai priorizar educação e ciência e tecnologia no fundo.
A Folha procurou todas as empresas doadoras para saber o que as motivou a colaborar financeiramente e a expectativa com relação ao pré-sal. As que se dispuseram a falar disseram que as doações foram feitas com transparência e seguiram regras estabelecidas por lei.


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