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Membros de comissões receberam doações de empresas interessadas
MARIA CLARA CABRAL
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dos oito deputados federais
escolhidos para ocupar postos
de comando nas comissões do
pré-sal, sete receberam na
campanha eleitoral doações de
empresas diretamente interessadas no setor, aponta levantamento feito pela Folha junto
ao TSE (Tribunal Superior
Eleitoral).
O presidente e o relator da
comissão que vai tratar da partilha do pré-sal- projeto considerado o mais importante pelo
governo federal- foram financiados pela construtora Camargo Correa.
Parceira da Petrobras em diferentes obras, a construtora
repassou R$ 319 mil a deputados envolvidos nos projetos,
sendo a empresa que mais
doou, em volume de recursos,
aos comandantes das comissões.
O líder do PMDB na Câmara,
Henrique Eduardo Alves (RN),
relator da principal proposta,
recebeu R$ 100 mil da Camargo Correa, que é parceira da Petrobras na construção da térmica de Termoaçu, no Estado
do deputado.
Já o presidente da comissão,
Arlindo Chinaglia (PT-SP), ganhou R$ 169 mil da Camargo
Correa, além de R$ 150 mil da
Construtora OAS, associada ao
IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo).
Procurados, Eduardo Alves e
Chinaglia afirmaram que não
há constrangimento porque as
doações não influenciam em
nada o trabalho deles.
Relator do projeto da capitalização da Petrobras, o deputado Antonio Palocci (PT-SP) foi
um dos que mais receberam
doações de empresas ligadas ao
setor petrolífero. Ganhou recursos da UTC e da WTorre,
empresas que constroem, respectivamente, plataformas de
exploração de petróleo e diques secos para a Petrobras.
Palocci não foi localizado para
comentar o assunto.
O presidente da mesma comissão, Arnaldo Jardim (PPS-SP) -único deputado da oposição em um dos postos de comando nas comissões-, também recebeu R$ 50 mil da Camargo Correa e R$ 100 mil da
Construtora OAS. "Não me sinto constrangido em relação a
essa questão porque tenho
pensamento próprio e autonomia", afirmou o deputado, que
é a favor da participação de
quem já usou o FGTS para a capitalização da companhia.
Responsáveis pela comissão
que vai criar a Petro-Sal, os deputados Brizola Neto (PDT-RJ,
presidente) e Luiz Fernando
Faria (PP-MG, relator) contaram com doação da Ipiranga,
empresa comprada pela Petrobras em parceria com a Braskem, em 2007.
"Não há conflito de interesses porque a Ipiranga, mesmo
depois da fusão, não atua com
produção, apenas com derivados de petróleo", diz Brizola
Neto, que pretende realizar audiências públicas fora do Congresso para debater o pré-sal. O
relator também não vê empecilhos: "Não tem nada a ver uma
coisa com a outra, sou parceiro
da Ipiranga há mais de 40 anos,
pois tenho um posto de gasolina, mas eles nunca me pediram
nada".
Na relatoria da última comissão, a que cria o fundo do pré-sal, estará João Maia (PR-RN).
Ele recebeu R$ 48 mil da Tora
Transportes, que tem entre
seus clientes a Petrobras. Irmão de Agaciel Maia -ex-diretor do Senado afastado por
ocultar da Justiça uma mansão-, o deputado caiu nas graças da ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil) desde que relatou a
Lei do Gás. Maia não quis falar
sobre as doações.
Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) foi único que não recebeu
recursos de empresas ligadas
ao setor. "Pesou o fato de eu ser
fiel ao governo e de estudar o
assunto", disse, anunciando
que vai priorizar educação e
ciência e tecnologia no fundo.
A Folha procurou todas as
empresas doadoras para saber
o que as motivou a colaborar financeiramente e a expectativa
com relação ao pré-sal. As que
se dispuseram a falar disseram
que as doações foram feitas
com transparência e seguiram
regras estabelecidas por lei.
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