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"Spread" no Brasil só perde para Zimbábue, diz estudo
Diferença entre os juros captados e os cobrados pelos bancos é maior que a de 127 países
Para analista, tendência é que, com a estabilização da economia, "spread" fique menor no curto prazo, mas superior à média global
ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO
O "spread" (a diferença entre
o que as instituições pagam para captar recursos e o que cobram dos clientes) aplicado pelos bancos no Brasil é o segundo maior do mundo, ficando
apenas atrás do Zimbábue, apesar de a taxa de inadimplência
no país não estar nem entre as
dez maiores do planeta.
Segundo levantamento do
Fórum Econômico Mundial
com base em dados do ano passado, o "spread" dos bancos
brasileiros ficou em 35,6 pontos percentuais, maior do que a
média das instituições financeiras de 127 países.
Somente o Zimbábue, cuja
economia vive situação caótica
e onde a inflação chegou na casa dos 231 milhões por cento
em julho do ano passado, a diferença entre os juros captados e
os cobrados foi maior: 457,5
pontos percentuais.
O cenário do estudo atual é
similar ao do levantamento anterior -que analisava a situação em 2007-, mas, na ocasião,
o "spread" brasileiro era um
pouco menor: 33,1 pontos percentuais. "Spreads" altos significam custos maiores para empresas e consumidores pegarem empréstimos.
Ao mesmo tempo, a inadimplência no Brasil, que é uma das
explicações usadas pelos bancos para justificar os juros altos, era a 16ª mais alta do mundo (em uma lista menos abrangente, com 34 países), de acordo com dados do FMI referentes ao quarto trimestre de 2008
-quando a crise global estava
em um dos seus momentos
mais agudos. Os números do
Fundo mostram ainda que a taxa de inadimplência no país
vem caindo nos últimos anos.
O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirmou,
por exemplo, no fim de julho,
que o principal fator para o
"spread" bancário é exatamente o nível de inadimplência, que
atingiu seu recorde histórico.
Para Luis Miguel Santacreu,
analista da Austin Rating, é
principalmente por meio dos
juros altos (que se traduzem no
segundo maior "spread" do planeta) que os bancos brasileiros
estão entre os mais rentáveis
do mundo, apesar de a relação
entre crédito e PIB estar abaixo
da média global.
Sobre o calote, ele disse que
os bancos colocam nos empréstimos uma "estimativa que não
se concretiza na vida real".
O analista afirmou que a tendência no curto prazo é que,
com a estabilização da economia brasileira, os bancos "devolvam uma parte da gordura"
obtida com o aumento dos juros durante a crise, mas que o
"spread" deve permanecer entre os mais altos do mundo.
Para que essa queda continue
a ocorrer no médio prazo, Santacreu afirma que são necessárias mudanças como aumento
da competição entre as instituições. "Nós não vimos uma
corrida forte dos bancos para
brigar pelos clientes." Ele diz
ainda que é preciso tempo para
avaliar se é ""perene" o movimento de queda dos "spreads"
pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal, incentivado pelo governo Lula.
Ele cita ainda, entre outras
medidas, a necessidade da reforma tributária e da maior formalização das empresas.
Menores "spreads"
No topo do tabela, entre os
dez com menor "spread", aparecem países desenvolvidos
(como Alemanha e Japão) mas
também economias emergentes: os dois primeiros são Hungria e Lituânia.
Em 2007, porém, havia um
predomínio maior das nações
ricas, o que mostra também o
efeito da crise nas instituições
financeiras desses países, que
ficaram menos dispostas ao risco. A Suíça, que tinha o menor
"spread" em 2007, aparecia na
27ª colocação no estudo sobre
os juros no ano passado.
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