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OPINIÃO ECONÔMICA
A economia global em transformação
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Na semana passada, refletimos sobre o período de incertezas que vem dominando a
economia mundial nestas últimas semanas. A causa principal
das dúvidas que dominam as
mentes de analistas e investidores
são as dificuldades por que passa
a economia norte-americana na
era George W. Bush.
As importações americanas são
hoje o principal motor do desenvolvimento de um grande número de países espalhados pela Europa, Ásia e América Latina. As
condições do financiamento de
seus déficits gêmeos -o fiscal e o
da conta corrente- definem as
pulsações desse gigantesco mercado de poupança global que existe
hoje. Os EUA já são os grandes
devedores mundiais, e o dólar é a
única moeda internacional que
conta.
A maior economia do mundo
vive hoje os efeitos das grandes
transformações tecnológicas que
ocorreram nos anos 90 do século
passado. A digitalização do som e
os avanços nos sistemas de telecomunicações, principalmente os ligados à internet, tiveram efeitos
extraordinários sobre seu sistema
de produção de bens e serviços.
Nesse novo mundo digital, que
foi construído ao longo dos últimos anos, a economia de mercado mostrou sua enorme capacidade de se inovar. Os ganhos de
produtividade em relação à mão-de-obra e os níveis de estoque necessários para realizar a produção de bens e serviços tiveram impacto extraordinário sobre os custos de produção.
Mas foi no campo da concorrência que os ganhos foram mais
impressionantes. Ao permitir ampliar, em escala mundial, os mercados para a compra de matérias-primas, de produtos intermediários e mesmo bens finais, esse sistema global de telecomunicações
está revolucionando o funcionamento de mercados importantes.
Vamos acompanhar um pouco
o que vem acontecendo com a
Wal-Mart, a maior empresa de
varejo dos EUA. Essa empresa liderou os investimentos na construção de uma rede mundial de
fornecedores investindo dezenas
de bilhões de dólares nos últimos
anos. Hoje colhe os frutos dessa
ousadia, deixando para trás seus
concorrentes mais importantes.
Suas compras são hoje realizadas no mundo todo por meio de
leilões eletrônicos em sua rede de
comunicações. Na compra de um
lote de camisas pólo, por exemplo,
seus fornecedores em países tão
distantes como Tailândia ou
Bangladesh fazem seus lances eletrônicos e esperam pelo resultado.
Ganhadores, eles produzem as
encomendas em seus países e as
enviam diretamente para cada
uma das lojas da Wal-Mart, por
meio de uma empresa especializada em logística.
Como sempre acontece nas economias de mercado, as grandes
transformações tecnológicas acabam chegando ao chamado nível
macroeconômico. Esses enormes
ganhos de eficiência, com a ampliação dos mercados pela interligação eletrônica dos espaços nacionais de produção de bens e serviços, estão produzindo nos Estados Unidos efeitos dramáticos sobre o nível de emprego e salários e
balança comercial.
A recuperação da maior economia do mundo, que vem ocorrendo nos últimos trimestres, está se
realizando com uma destruição
de postos de trabalho, pequeno
aumento dos salários nominais,
deflação nos setores competitivos
e aumento das importações. O
aumento do consumo dos americanos, provocado por juros próximos de zero e redução de impostos, está sendo canalizado para
bens produzidos, em parte ou integralmente, em países com custo
de mão-de-obra muito abaixo do
que prevalece nos EUA.
O processo de aumento da competição no mercado eletrônico
ainda é assimétrico. As empresas
americanas lideram esse processo
de transferência, para países da
periferia, de parte de sua produção de bens e serviços. Por isso, os
reflexos desse novo sistema no
equilíbrio macroeconômico na
economia dos Estados Unidos
têm sido mais dramáticos.
Como a história sempre apronta das suas, a percepção dessas
mudanças está ocorrendo em um
período eleitoral no qual o presidente George W. Bush está enfrentando problemas com o fracasso de sua aventura militar no
Iraque. As pressões políticas e de
opinião pública para que sejam
tomadas medidas unilaterais para interromper a destruição de
empregos americanos serão um
duro teste para as convicções de
livre comércio internacional da
única potência mundial dos dias
de hoje.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 60,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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