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São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2003

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MERCADO FINANCEIRO

Agências dizem que nota não melhora só com valorização de títulos e defendem elevação da Rússia

Risco menor não muda classificação do Brasil

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

Nem a queda do risco-país nem o esforço fiscal recorde praticado pelo governo serão suficientes para elevar a nota do Brasil pelas agências de classificação de risco.
Essa é a opinião de especialistas ouvidos pela Folha. Anteontem, a agência de risco Moody's elevou o status da Rússia para "grau de investimento". O Brasil, também um mercado emergente, precisaria agora subir cinco degraus para alcançar os russos.
Mas, na opinião de analistas, as economias brasileira e russa têm perfis distintos -o que explicaria a distância de classificação entre os dois países.
Marie Cavanaugh, diretora do departamento de "ratings" da Standard & Poor's, diz que a Rússia tem, ao seu lado, uma produção de petróleo expressiva, que a ajuda a gerar receitas.
Outro diretor da agência, John Chambers, dá mais pistas para explicar a escalada da confiança do mercado na Rússia. "Eles promoveram uma reforma fiscal sólida após a moratória de 1998. O Brasil também está no caminho certo e ainda tem a vantagem de ter um sistema financeiro melhor que o da Rússia", diz. Mas, no curto prazo, a agência não projeta melhoria da classificação do Brasil.
No caminho brasileiro ainda estão a vulnerabilidade externa e a relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto), considerada extremamente alta. Hoje, a dívida pública representa 62% do PIB.
A queda do risco Brasil, medido pelo banco JP Morgan -que caiu ontem 1,14% e fechou aos 609 pontos básicos-, também não será suficiente para fazer o Brasil melhorar de avaliação.
"Nosso "rating" mede projeções de médio prazo e não é influenciado pelas variações do risco-país", diz Luis Ernesto Martinez-Alas, vice-presidente sênior da unidade de risco soberano da agência Moody's, em Nova York.
Da S&P, Chambers completa: "O mercado é maníaco-depressivo. Não dá para fazer projeções com base nos seus humores. Risco-país e "ratings" seguem trajetórias diferentes. No primeiro estão incluídos fatores como a liquidez do mercado. No segundo há uma análise do cenário a médio prazo, especialmente sobre a capacidade de o país pagar a sua dívida", afirma Martinez-Alas.
Declarar moratória também não é a solução para o Brasil, dizem as agências de risco.
A Rússia anunciou "default" há cinco anos. "Não acredito que a Rússia tenha conseguido superar as suas dificuldades pelo fato de a moratória ter facilitado a renegociação entre o país e os seus credores", diz Marie Cavanaugh.
"A moratória não iria resolver os problemas do Brasil e ainda poderia afugentar investidores", disse Martinez-Alas, da Moody's.


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