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MERCADO FINANCEIRO
Agências dizem que nota não melhora só com valorização de títulos e defendem elevação da Rússia
Risco menor não muda classificação do Brasil
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
Nem a queda do risco-país nem
o esforço fiscal recorde praticado
pelo governo serão suficientes para elevar a nota do Brasil pelas
agências de classificação de risco.
Essa é a opinião de especialistas
ouvidos pela Folha. Anteontem, a
agência de risco Moody's elevou o
status da Rússia para "grau de investimento". O Brasil, também
um mercado emergente, precisaria agora subir cinco degraus para
alcançar os russos.
Mas, na opinião de analistas, as
economias brasileira e russa têm
perfis distintos -o que explicaria
a distância de classificação entre
os dois países.
Marie Cavanaugh, diretora do
departamento de "ratings" da
Standard & Poor's, diz que a Rússia tem, ao seu lado, uma produção de petróleo expressiva, que a
ajuda a gerar receitas.
Outro diretor da agência, John
Chambers, dá mais pistas para explicar a escalada da confiança do
mercado na Rússia. "Eles promoveram uma reforma fiscal sólida
após a moratória de 1998. O Brasil
também está no caminho certo e
ainda tem a vantagem de ter um
sistema financeiro melhor que o
da Rússia", diz. Mas, no curto
prazo, a agência não projeta melhoria da classificação do Brasil.
No caminho brasileiro ainda estão a vulnerabilidade externa e a
relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto), considerada extremamente alta. Hoje, a dívida pública representa 62% do PIB.
A queda do risco Brasil, medido
pelo banco JP Morgan -que caiu
ontem 1,14% e fechou aos 609
pontos básicos-, também não
será suficiente para fazer o Brasil
melhorar de avaliação.
"Nosso "rating" mede projeções
de médio prazo e não é influenciado pelas variações do risco-país", diz Luis Ernesto Martinez-Alas, vice-presidente sênior da
unidade de risco soberano da
agência Moody's, em Nova York.
Da S&P, Chambers completa:
"O mercado é maníaco-depressivo. Não dá para fazer projeções
com base nos seus humores. Risco-país e "ratings" seguem trajetórias diferentes. No primeiro estão
incluídos fatores como a liquidez
do mercado. No segundo há uma
análise do cenário a médio prazo,
especialmente sobre a capacidade
de o país pagar a sua dívida", afirma Martinez-Alas.
Declarar moratória também
não é a solução para o Brasil, dizem as agências de risco.
A Rússia anunciou "default" há
cinco anos. "Não acredito que a
Rússia tenha conseguido superar
as suas dificuldades pelo fato de a
moratória ter facilitado a renegociação entre o país e os seus credores", diz Marie Cavanaugh.
"A moratória não iria resolver
os problemas do Brasil e ainda
poderia afugentar investidores",
disse Martinez-Alas, da Moody's.
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