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São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2003

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POLÊMICA

Herbicida a que a planta é resistente não poderá ser usado; esse era o principal ganho do organismo modificado

Vantagem da soja transgênica segue vetada

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Decisão do governo proíbe os agricultores que optarem por plantar soja transgênica de borrifarem suas plantações com o agrotóxico glifosato. Sem o glifosato, as plantações de soja geneticamente modificada perdem todo o sentido, pois o que caracteriza a transgênica é a resistência ao herbicida. O produtor que desrespeitar a proibição, que pode ser alterada, e for pego por fiscais terá sua colheita destruída, pagará multas e pode ser preso.
O CTA (Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxico) decidiu ontem não autorizar o uso do glifosato sobre as plantas, pois avaliou que não existem ainda dados suficientes para garantir a segurança dos consumidores.
O pedido para a autorização do uso do glifosato na soja transgênica foi feito em caráter emergencial pelo Ministério da Agricultura. E foi o representante da Agricultura no CTA, Julio Sérgio de Britto, quem assinou a nota técnica que mantém a proibição. O CTA é composto por representantes dos ministérios do Meio Ambiente, da Agricultura e da Saúde.
Na prática, a proibição significa que os produtores de soja, embora autorizados por medida provisória a usar as sementes modificadas, correm o risco de serem presos, de pagarem multas e de terem sua colheita destruída.
"Isso é uma incongruência. Todo mundo sabe que o uso do glifosato é necessário nas plantações de soja transgênica", disse o chefe do Departamento Econômico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Getúlio Pernambuco, ao saber da decisão.
Atualmente, o glifosato pode ser usado nas plantações antes de as sementes brotarem. Nos cultivos de soja transgênica, no entanto, o herbicida precisa ser aplicado também quando a planta já brotou, o que continua proibido.
O glifosato é usado antes da eclosão da planta tanto no plantio convencional como no transgênico -técnica autorizada pelo CTA. Depois de a soja convencional brotar, o agricultor usa um coquetel de herbicidas seletivos para controlar ervas daninhas. O uso do glifosato mataria o pé de soja.
A soja geneticamente modificada usada no Brasil, cuja patente mundial pertence à Monsanto, resiste ao glifosato. Em vez de o agricultor investir num coquetel de herbicidas, aplica apenas o glifosato. O controle mais simplificado das pragas com o uso desse herbicida é a grande vantagem do produto transgênico.
A Monsanto, fabricante do glifosato Round Up, já pediu aos ministérios competentes o registro do seu produto para uso após as sementes brotarem. O pedido está sendo analisado.
Pela análise dos grãos colhidos, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância) pode controlar o uso do agrotóxico. A legislação brasileira prevê que todo alimento pode ter um limite máximo de resíduo de um agrotóxico. A soja, por exemplo, pode ter no máximo 0,2 miligramas por quilo de glifosato. Qualquer grão que tiver mais do que isso tem de ser destruído.
Na contramão da decisão tomada ontem, o Ministério da Agricultura criou comissão para avaliar projetos de organismos geneticamente modificados do ponto de vista do agronegócio. Entre as competências da comissão está sugerir procedimentos para produzir sementes transgênicas.


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