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POLÊMICA
Herbicida a que a planta é resistente não poderá ser usado; esse era o principal ganho do organismo modificado
Vantagem da soja transgênica segue vetada
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Decisão do governo proíbe os
agricultores que optarem por
plantar soja transgênica de borrifarem suas plantações com o
agrotóxico glifosato. Sem o glifosato, as plantações de soja geneticamente modificada perdem todo o sentido, pois o que caracteriza a transgênica é a resistência ao
herbicida. O produtor que desrespeitar a proibição, que pode ser
alterada, e for pego por fiscais terá
sua colheita destruída, pagará
multas e pode ser preso.
O CTA (Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxico)
decidiu ontem não autorizar o
uso do glifosato sobre as plantas,
pois avaliou que não existem ainda dados suficientes para garantir
a segurança dos consumidores.
O pedido para a autorização do
uso do glifosato na soja transgênica foi feito em caráter emergencial
pelo Ministério da Agricultura. E
foi o representante da Agricultura
no CTA, Julio Sérgio de Britto,
quem assinou a nota técnica que
mantém a proibição. O CTA é
composto por representantes dos
ministérios do Meio Ambiente,
da Agricultura e da Saúde.
Na prática, a proibição significa
que os produtores de soja, embora autorizados por medida provisória a usar as sementes modificadas, correm o risco de serem presos, de pagarem multas e de terem
sua colheita destruída.
"Isso é uma incongruência. Todo mundo sabe que o uso do glifosato é necessário nas plantações
de soja transgênica", disse o chefe
do Departamento Econômico da
CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Getúlio
Pernambuco, ao saber da decisão.
Atualmente, o glifosato pode ser
usado nas plantações antes de as
sementes brotarem. Nos cultivos
de soja transgênica, no entanto, o
herbicida precisa ser aplicado
também quando a planta já brotou, o que continua proibido.
O glifosato é usado antes da
eclosão da planta tanto no plantio
convencional como no transgênico -técnica autorizada pelo
CTA. Depois de a soja convencional brotar, o agricultor usa um coquetel de herbicidas seletivos para
controlar ervas daninhas. O uso
do glifosato mataria o pé de soja.
A soja geneticamente modificada usada no Brasil, cuja patente
mundial pertence à Monsanto, resiste ao glifosato. Em vez de o
agricultor investir num coquetel
de herbicidas, aplica apenas o glifosato. O controle mais simplificado das pragas com o uso desse
herbicida é a grande vantagem do
produto transgênico.
A Monsanto, fabricante do glifosato Round Up, já pediu aos ministérios competentes o registro
do seu produto para uso após as
sementes brotarem. O pedido está
sendo analisado.
Pela análise dos grãos colhidos,
a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância) pode controlar o uso do
agrotóxico. A legislação brasileira
prevê que todo alimento pode ter
um limite máximo de resíduo de
um agrotóxico. A soja, por exemplo, pode ter no máximo 0,2 miligramas por quilo de glifosato.
Qualquer grão que tiver mais do
que isso tem de ser destruído.
Na contramão da decisão tomada ontem, o Ministério da Agricultura criou comissão para avaliar projetos de organismos geneticamente modificados do ponto
de vista do agronegócio. Entre as
competências da comissão está
sugerir procedimentos para produzir sementes transgênicas.
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