São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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Índia pode alcançar exportações chinesas

RAY MARCELO
DO "FINANCIAL TIMES", EM NOVA DÉLI

As exportações indianas de produtos industrializados podem atingir os US$ 300 bilhões nos próximos dez anos e rivalizar com as chinesas e de outros produtores asiáticos de baixo custo, se explorarem a "terceirização externa" em setores que precisam de alta capacitação de mão-de-obra.
Até agora, a terceirização externa -tendência mundial crescente a produzir bens industrializados em países em desenvolvimento- esteve em larga medida confinada aos setores que usam mão-de-obra de forma intensiva.
Mas relatório divulgado na semana que passou pela McKinsey Consultants e pela Confederação da Indústria Indiana diz que a terceirização nos setores que exigem capacitação elevada dos trabalhadores deve triplicar, do atual US$ 1,4 trilhão para US$ 4,5 trilhões em 2015.
A Índia, diz o relatório, pode conquistar 3,5% do comércio mundial de produtos industrializados caso aproveite suas próximas oportunidades de terceirização externa.
A expansão da tendência será conduzida pela liberalização do comércio, pelo aumento no número de fornecedores e pela demanda crescente entre os consumidores de países de baixos salários, como a Índia, diz o relatório.
Mas a Índia precisa superar três obstáculos. As empresas precisam melhorar seu desempenho, o governo precisa remover barreiras e as multinacionais precisam encarar o país como uma de suas três maiores bases de produção.
A Índia já exporta US$ 50 bilhões ao ano em bens industrializados, e esse total cresce em cerca de 20% ao ano.
Mas o governo deseja duplicar a participação mundial de menos de 1% que o país detém no comércio mundial dentro de cinco anos.
A McKinsey diz que os conhecimentos indianos nos setores industriais que exigem mão-de-obra capacitada, como o de autopeças, produtos farmacêuticos e têxteis, lhe dão vantagem sobre outros produtores com baixo nível de salário.
"Esses setores estão bem posicionados para expandir suas exportações", disse Denis Vaz, vice-presidente e diretor nacional da subsidiária indiana do Scotiabank. Ele disse que as leis de proteção às patentes farmacêuticas que serão adotadas na Índia no ano que vem podem encorajar empresas a terceirizar a produção de remédios na Índia, onde diversas empresas locais têm a capacidade industrial e de mão-de-obra necessária.
Mas o relatório da McKinsey diz que o governo precisa facilitar essa tendência. Nova Déli elevou os incentivos para estimular exportações, mas o setor acredita que tenha feito pouco para reduzir a burocracia.
O relatório diz que o governo precisa introduzir reformas tributárias abrangentes, desobstruir gargalos nos portos e usinas de energia, fomentar a criação de núcleos fabris e introduzir leis trabalhistas flexíveis.
Os portos continuam cronicamente bloqueados. Têm capacidade para receber 43 milhões de toneladas de frete, em pleno funcionamento, mas precisam se expandir para a casa dos 150 milhões ao longo dos próximos dez anos, e isso apenas para processar as exportações. Demora de 6 a 12 semanas para que produtos embarcados na Índia cheguem aos Estados Unidos, ante menos de um mês na China.
O relatório afirma que, se o governo agir de maneira decisiva para eliminar barreiras à exportação e a demanda dos consumidores indianos crescer, isso pode gerar até 30 milhões de novos empregos na produção e aumentar em 1% ao ano o nível de crescimento do país.


Tradução de Paulo Migliacci


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