São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Pedágio, política, tucanos e petistas


Pedágio de R$ 2, lucro menor para as empresas, vai dizer o PT; bilhões em investimentos e novas estradas, dirá o PSDB

O PT PRIVATIZOU estradas. Será divertido verificar se Lula vai faturar a privatização, perdão, a concessão, de rodovias. Pelos preços do leilão de ontem, o motorista deixará uns R$ 2 a cada 100 km, em média, no pedágio da Régis Bittencourt (SP-Curitiba), R$ 1,40 na Fernão Dias (SP-BH) ou R$ 3,50 entre o Rio e o Espírito Santo, contra R$ 11 nas estradas paulistas (as de pista dupla). Em tese, a rentabilidade das empresas concessionárias federais será a metade daquela que se conseguiu nas concessões de Covas-Alckmin. Mas o problema petista-lulista não consiste só em decidir se pendura no peito a medalhinha da privatização, perdão, da concessão.
Para começar, o sistema paulista é diferente. Cobra pela concessão, o que encarece o pedágio, mas arrecada dinheiro para mais investimentos em estradas e anexos.
A comparação de preços de pedágio de diferentes estradas é complexa. Depende de localização, veículos que passam por ali, número de pistas, extensão, serviços. É muito mais difícil comparar as vantagens do pacote inteiro, cálculo que tem de levar em conta ainda o preço de concessão, o investimento requerido, duração e rentabilidade do negócio. Mas, se as empresas cumprirem os contratos, Lula tem um trunfo, embora a novidade do pedágio em alguns Estados possa pegar mal. Espremeu as taxas de retorno para níveis que poucos esperavam, de 18% para 9%. No mercado, havia terrorismo, gente a dizer que, com a rentabilidade oferecida pela concessão federal, só apareceriam aventureiros. Seis dos sete trechos de estradas ficaram com megaempresas espanholas do setor. Uma delas, a OHL, dona de quatro empresas de concessão de rodovias paulistas, levou cinco trechos federais. O negócio é bom ou há aventureiros por toda parte?
Mais complexidades. Haverá financiamento do BNDES para as concessionárias federais? Pode ser, mas, para concessionárias em São Paulo, também houve. Quando São Paulo privatizou, os juros eram medonhos de altos? Eram, e isso determina a base do cálculo do retorno do negócio de concessão, de qualquer negócio. Mas os tucanos foram generosos. O IGP-M reajusta o pedágio paulista. Desde 1998, o índice foi 70% maior que o IPCA, uma farra.
Técnicos e governos, petistas ou tucanos, que privatizam chamam de ignorantes e coisas piores quem não emprega a palavra "concessão" para definir a terceirização de um serviço público cujos bens permanecem de propriedade do Estado. Tanto faz.
Privatizações -totais, parciais ou temporárias, de patrimônio ou de serviço- não são em si nem boas nem ruins. Mas "privatização" no Brasil é moeda forte no insulto político-eleitoral. A maioria do povo parece convencida, devido à propaganda e a vários escândalos na venda de estatais, afora vários serviços porcos, que privatização é, em si, coisa ruim. Vide o caso de Geraldo Alckmin, emparedado pelo PT, que o chamou de privatista na eleição presidencial de 2006. Alckmin, o choque de gestão encarnado, negou que privatizaria, negou corte de gastos. Negou-se tanto que se tornou vento.
A nova rodada de concessões de estradas importantes de São Paulo está para começar. Preços e investimentos vão dar pano para a manga política. E eleitoral. E empresarial.

vinit@uol.com.br


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