|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo vê no preço maior solução para o biodiesel
Produção aumentaria se os produtores recebessem mais, afirma ministério
Uso obrigatório do biodiesel elevaria o consumo, que aumentaria os preços, rendendo mais ao produtor;
analistas criticam a opção
FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para tentar resolver o problema da produção de biodiesel, que está abaixo do programado, o governo estuda uma
saída controversa: elevar o uso
obrigatório do combustível.
Segundo o Ministério da
Agricultura, o consumo maior
poderia elevar os preços, o que
aumentaria a remuneração do
setor, um dos principais obstáculos do programa. Analistas
criticam a opção e calculam que
o litro do diesel pode aumentar
até R$ 0,02 na bomba.
O secretário de Agroenergia
do Ministério da Agricultura,
Manoel Bertone, anunciou ontem que o governo "está propenso" a antecipar o cronograma de mistura do biodiesel, que
começa em janeiro com 2% e
prevê 5% nos próximos anos.
"Assim, equilibraríamos o mercado com demanda um pouco
superior à oferta", disse.
Com o plano, o governo pretende ajustar os valores de todo
o setor. Para o secretário, a mudança "puxaria os preços" e
permitiria o uso de valores de
mercado em toda a cadeia produtiva. "A solução é o preço,
não tenho dúvida."
O consultor Univaldo Vedana, da Biodieselbr, calcula que o
litro do diesel teria de subir R$
0,02 para que o ajuste fosse feito. O aumento corrigiria uma
das principais distorções do
biodiesel. Nos últimos leilões
realizados pela ANP (Agência
Nacional do Petróleo), o litro
do combustível foi vendido pelos produtores a R$ 1,80 na média. Na época, o litro do óleo de
soja -principal matéria-prima- valia pouco mais de R$ 1.
Mas, com o aumento da demanda mundial, o preço do
óleo de soja saltou para R$ 2.
Essa diferença é o principal
motivo de o setor ter entregue
apenas 31% do prometido à Petrobras em 2006 e em 2007.
Usineiros aprovaram a idéia.
O presidente da União Brasileira do Biodiesel, Odair Klein, diz
que "ninguém vai vender abaixo dos preços internacionais".
Especialistas, porém, apostam que o efeito pode ser contrário. "Se falta o produto e
mais gente vai comprar, o preço
sobe mais. Não vai ser uma canetada que fará o ajuste", diz Silene Freitas, do IEA/SP.
Vedana concorda e avalia que
o governo erra ao tentar agir na
questão do preço. "O problema
é a matéria-prima. Enquanto
usarmos commmodity em alta,
é lógico que o custo aumenta.
Temos de produzir biodiesel
com outras plantas, que sejam
menos influenciadas pelo mercado internacional", defende.
Se o aumento de R$ 0,02 for
confirmado, a conta poderá ter
de ser paga pelo consumidor. O
vice-presidente da CNT (Confederação Nacional de Transportes), Nilton Gibson, admitiu
que a alta de R$ 0,02 -cerca de
1%- pode ser repassada ao custo dos produtos transportados.
Texto Anterior: Vaivém das commodities Próximo Texto: Consumo de luxo deve ir para a Ásia Índice
|