São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo vê no preço maior solução para o biodiesel

Produção aumentaria se os produtores recebessem mais, afirma ministério

Uso obrigatório do biodiesel elevaria o consumo, que aumentaria os preços, rendendo mais ao produtor; analistas criticam a opção

FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para tentar resolver o problema da produção de biodiesel, que está abaixo do programado, o governo estuda uma saída controversa: elevar o uso obrigatório do combustível.
Segundo o Ministério da Agricultura, o consumo maior poderia elevar os preços, o que aumentaria a remuneração do setor, um dos principais obstáculos do programa. Analistas criticam a opção e calculam que o litro do diesel pode aumentar até R$ 0,02 na bomba.
O secretário de Agroenergia do Ministério da Agricultura, Manoel Bertone, anunciou ontem que o governo "está propenso" a antecipar o cronograma de mistura do biodiesel, que começa em janeiro com 2% e prevê 5% nos próximos anos. "Assim, equilibraríamos o mercado com demanda um pouco superior à oferta", disse.
Com o plano, o governo pretende ajustar os valores de todo o setor. Para o secretário, a mudança "puxaria os preços" e permitiria o uso de valores de mercado em toda a cadeia produtiva. "A solução é o preço, não tenho dúvida."
O consultor Univaldo Vedana, da Biodieselbr, calcula que o litro do diesel teria de subir R$ 0,02 para que o ajuste fosse feito. O aumento corrigiria uma das principais distorções do biodiesel. Nos últimos leilões realizados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), o litro do combustível foi vendido pelos produtores a R$ 1,80 na média. Na época, o litro do óleo de soja -principal matéria-prima- valia pouco mais de R$ 1. Mas, com o aumento da demanda mundial, o preço do óleo de soja saltou para R$ 2. Essa diferença é o principal motivo de o setor ter entregue apenas 31% do prometido à Petrobras em 2006 e em 2007.
Usineiros aprovaram a idéia. O presidente da União Brasileira do Biodiesel, Odair Klein, diz que "ninguém vai vender abaixo dos preços internacionais".
Especialistas, porém, apostam que o efeito pode ser contrário. "Se falta o produto e mais gente vai comprar, o preço sobe mais. Não vai ser uma canetada que fará o ajuste", diz Silene Freitas, do IEA/SP.
Vedana concorda e avalia que o governo erra ao tentar agir na questão do preço. "O problema é a matéria-prima. Enquanto usarmos commmodity em alta, é lógico que o custo aumenta. Temos de produzir biodiesel com outras plantas, que sejam menos influenciadas pelo mercado internacional", defende.
Se o aumento de R$ 0,02 for confirmado, a conta poderá ter de ser paga pelo consumidor. O vice-presidente da CNT (Confederação Nacional de Transportes), Nilton Gibson, admitiu que a alta de R$ 0,02 -cerca de 1%- pode ser repassada ao custo dos produtos transportados.


Texto Anterior: Vaivém das commodities
Próximo Texto: Consumo de luxo deve ir para a Ásia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.