|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Governo na anarquia mundial
Governos do G7 podem começar hoje a dar cabo da confusão política que impede ação contra anarcofinancismo
|
O GOVERNO dos EUA disse ontem que subiu no telhado o
plano original de compra do
papelório podre dos bancos. Não deve, é claro, desistir de "tabelar" e
comprar os produtos financeiros
que os bancos não querem ter nos
cofres enquanto o governo não subsidiá-los. Mas o governo parece que
viu mais escuridão no fim do túnel e
alguma luz no pacotão britânico, que
inclui a compra de ações dos bancos
alquebrados. Em suma, os americanos podem estatizar parte dos bancos. Talvez seja a solução terminal
que estará em debate na reunião do
G7 que começa hoje. Até agora, o
mundo rico não se entende.
O governo britânico sugeriu ontem que os governos dos países do
G7 passem a funcionar como seguradores dos empréstimos entre bancos -EUA, Japão, Alemanha, Reino
Unido, França, Itália e Canadá compõem o G7. A França e os Estados
Unidos também não gostaram da
idéia. Mais relevante é que não há
ordem política que se contraponha à
anarquia financeira mundializada.
As maiores economias do mundo
combinaram de cortar os juros na
quarta-feira. Dada a velocidade dos
fatos, parece que a "inédita e concertada demonstração de cooperação"
ocorreu na crise de 1873, pois a devastação continuou nos mercados financeiros. Poucas horas depois do
corte, o governo dos EUA avisava
que mais bancos poderiam quebrar.
Dias antes do corte de juros, a Alemanha se estranhava em público
com a França, que havia proposto
um fundo europeu para dar conta da
crise. Pouco antes, o Reino Unido ficara irado com a Irlanda, que garantira os depósitos dos correntistas de
seus bancos, o que poderia estimular
vazamento de dinheiro britânico para a Irlanda. Vários países europeus
protestaram contra a iniciativa irlandesa, para, logo depois, adotarem
medida semelhante. No sábado passado, dada tamanha barafunda e o
cada um por si, a França promoveu
uma cupulazinha com a Alemanha,
o Reino Unido e a Itália para "coordenar as ações", que, no entanto,
continuam descoordenadas.
Um grupo de economistas importantes, entre os quais Barry Eichengreen, Alberto Alesina, Charles Calomiris, Bradford DeLong e Raghuram Rajan, publicou ontem uma
avaliação da crise (em 12 artigos curtos) e um "manifesto" dirigido ao G7,
que, entre outras coisas, pede a "entrada" dos governos nos bancos.
Os elementos básicos do plano para a "quase certamente mais séria
crise econômica de nossas vidas" seria o seguinte: 1) Rápida recapitalização dos bancos, em ação global coordenada [isto é, injeção de dinheiro
dos governos para aumentar o capital dos bancos, de modo que eles voltem a emprestar]; 2) Garantia de depósitos e/ou empréstimos, em ação
global coordenada [isto é, os governos garantiriam cobrir todas as contas dos correntistas e talvez empréstimos, levando todo o risco dos bancos para as contas públicas]; 3) Depois, estímulo macroeconômico
coordenado [ações relativas a taxas
de juros e a gastos públicos].
"Todos
os autores concordaram com o primeiro ponto, muitos com o segundo,
e um bom número com o terceiro",
diz Eichengreen.
Os textos, reunidos sob o título
"Rescuing our jobs and savings:
What G7/8 leaders can do to solve
the global credit crisis", estão no site http://voxeu.org/.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: CVM mira operações financeiras Próximo Texto: BC poderá intervir em banco socorrido Índice
|