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BC poderá intervir em banco socorrido
Autoridade monetária terá poder de suspender reajustes salariais para executivos e limitar distribuição de dividendos
CMN regulamenta medida que dá ao BC possibilidade de emprestar dinheiro para instituições financeiras que tenham problemas de caixa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central terá carta-branca para gastar o valor que
julgar necessário para socorrer
instituições financeiras que estejam com dificuldades, desde
que receba, em troca, garantias
de que o empréstimo concedido vá efetivamente ser pago.
Além disso, o BC também terá
poder de intervir diretamente
na administração dos bancos
que forem socorridos.
Ontem, o CMN (Conselho
Monetário Nacional) regulamentou, em reunião extraordinária, a medida provisória publicada na segunda-feira que dá
ao Banco Central a possibilidade de emprestar dinheiro para
instituições financeiras que tenham problemas de caixa.
Em troca, os bancos devem
oferecer parte de suas carteiras
de crédito como garantia.
Essas operações, qualificadas
pelo governo de "compra" das
carteiras de crédito, poderão
ser feitas tanto em reais quanto
em moeda estrangeira.
Os bancos que recorrerem a
empréstimos em reais poderão
sofrer restrições por parte do
BC, que terá poder, por exemplo, para suspender reajustes
salariais para os executivos da
instituição e limitar a distribuição de dividendos para seus
acionistas.
Regras rígidas
Para Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC, a instituição aprendeu com os "erros do
passado" e fez regras mais rígidas que o socorro dado às instituições financeiras com o
Proer, no governo Fernando
Henrique Cardoso, em 1995.
O economista pondera que o
risco para a autoridade monetária também é maior, por isso
a exigência de acompanhar de
perto a administração do banco
no dia-a-dia.
"O BC criou essa linha de empréstimo aos bancos que não é
para ser usada. A instituição
tem que ser extremamente
cautelosa, porque ela não conhece de fato o risco da carteira
de crédito do banco, porque
não conhece as empresas e pessoas que são clientes desse banco. No Proer, todos estavam falidos, então os riscos eram conhecidos", afirmou Freitas.
O economista avalia também
que será difícil para o Banco
Central acompanhar a administração dos bancos que tomarão empréstimo oferecendo a
carteira de crédito como garantia. Segundo Freitas, são muitas exigências difíceis de serem
monitoradas.
Liquidez
O economista-chefe da consultoria Austing Rating, Alexsandro Agostini Barbosa, avalia
que as medidas adotadas pelo
governo serão um instrumento
eficaz de injeção de liquidez
nos bancos de pequeno e médio
porte.
"O mercado brasileiro não
tem uma crise de liquidez. O
problema é que os recursos estão empoçados nos grandes
bancos", afirmou.
Para ele, a decisão de vetar
aumento de salários a executivos de bancos que pedirem socorro ao BC é mais uma forma
de mostrar que não haverá "farra" com o dinheiro emprestado. "Não adianta o banco tentar
proteger capital de executivo",
disse Barbosa.
Garantias
Ainda no caso do socorro em
reais, o Banco Central só aceitará como garantia carteiras de
empréstimos com baixa probabilidade de inadimplência
-classificadas nos primeiros
três dos nove níveis de risco estabelecidos de acordo com critérios do próprio BC.
Além disso, o BC exigirá como garantia uma carteira de
crédito que seja, no mínimo,
equivalente a 120% do empréstimo pretendido pelos bancos.
Ou seja, para receber R$ 100
do BC, a instituição financeira
terá que oferecer, em troca,
uma carteira que seja de pelo
menos R$ 120.
No caso dos empréstimos em
dólares, os bancos terão que
oferecer como garantia títulos
da dívida externa emitidos pelo
governo brasileiro ou por qualquer outro país, desde que, segundo agências internacionais
de classificação de risco, sejam
considerados de baixíssimo risco de calote.
Nesse caso, também serão
aceitos outros dois tipos de garantia: carteiras de financiamentos à exportação concedidos no Brasil e, a critério do BC,
garantias reais -imóveis pertencentes ao banco ou mesmo
ações da instituição financeira
em questão.
Prazo de um ano
Tanto nos financiamentos
em dólar quanto em reais, o
prazo para que os bancos paguem de volta o BC não pode
ultrapassar um ano.
Se após o vencimento do empréstimo a instituição financeira não tiver como quitar seu
compromisso, o BC assume definitivamente os ativos entregues como garantia e poderá
vendê-los no mercado para cobrir suas perdas.
Caso, mesmo assim, as garantias não sejam suficientes
para compensar o prejuízo causado pela falta de pagamento, a
diferença será coberta pelo Tesouro Nacional.
O uso das reservas internacionais e a criação de um novo
empréstimo do Banco Central
foram adotadas com o objetivo
de reduzir os efeitos do agravamento da crise financeira dos
Estados Unidos na economia
brasileira.
Essa piora diminuiu a oferta
de crédito e criou dificuldades
para as instituições que pegavam dinheiro no exterior para
as operações realizadas no
mercado interno.
Por meio das reduções do
compulsório que os bancos recolhem, que foram realizadas
nas últimas três semanas, o
Banco Central também decidiu
liberar mais R$ 59,9 bilhões para os bancos.
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