São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008

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Fundo eleva pessimismo nas Bolsas da Europa

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, as duas instituições criadas após a Segunda Guerra Mundial (1939/45) precisamente para gerir as finanças globais, só apareceram ontem no terremoto que sacode os mercados -e o fizeram para causar agitação em águas que, pela primeira vez na semana, estavam mais calmas, ao menos na Europa.
Quando Dominique Strauss-Kahn, o gerente-geral do FMI, disse que "o mundo está à beira de uma recessão global", as Bolsas européias de Valores voltaram ao vermelho, depois de terem passado parte do dia em território positivo.
Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, acrescentaria: "A deterioração nas condições financeiras, combinada com um endurecimento monetário, provocará a quebra de empresas e, possivelmente, emergências bancárias".
Não que as duas frases contenham novidades. A recessão global já estava mais ou menos desenhada no relatório sobre as perspectivas econômicas do planeta, liberado anteontem pelo FMI. E a perspectiva de "emergências bancárias" já fora antecipada no mesmo dia por Hank Paulson, o secretário norte-americano do Tesouro, em tese bem mais informado do que Zoellick sobre o que acontece nos mercados.
Mas, num mundo em estado de pânico, qualquer frase negativa provoca desconfiança -e os agentes de mercado vendem alucinadamente o que podem e até o que não podem.
Na Europa, só a Bolsa da Rússia subiu, quase tão espetacularmente quanto vem caindo (10,91%). As outras sofreram quedas, embora mais leves que as desta semana: na Alemanha, 2,53%; em Londres, 1,21%; em Paris, 1,55%; em Madri, 3,83%, o que a levou ao nível mais baixo desde julho de 2005.
O irônico na razão apontada para a queda, após um início de dia promissor, é que, quase no mesmo momento, Anne-Marie Slaughter, reitora da Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da badalada Princeton University, dizia em entrevista ao "site" do Council on Foreign Relations: "O FMI está praticamente invisível na crise. Simplesmente não é um ator".
Tinha razão. A ironia é que o FMI entrou da pior maneira na crise, ainda que explicações de mercado devam ser sempre tomadas com cuidado.
As declarações de Zoellick/ Strauss-Kahn são apenas um elemento a mais no ambiente de profunda desconfiança que domina os mercados. Por isso, os juros para empréstimos entre bancos - na Europa, é a taxa Euribor- não cedem nem após a redução da taxa de juros para o restante do mercado nem após sucessivas injeções de recursos no sistema financeiro.
O Euribor subiu ontem de 5,48% para 5,51%, uma diferença de 1,75 ponto percentual em relação à taxa oficial de juros, reduzida ontem para 3,75%. A brecha é o dobro da que vinha sendo habitual.
O Euribor é também a taxa de referência para os empréstimos hipotecários. A 5,5%, como está, significa que, ao terminar outubro, quem tem que pagar suas hipotecas na Espanha gastará 80 euros a mais (R$ 240 ou mais da metade de um salário mínimo).
"Essa taxa não se reduzirá automaticamente, mas apenas quando voltar a confiança", avisa o governador do Banco de Espanha, o BC espanhol, Miguel Ángel Fernández Ordóñez. Claro que ele imagina que a confiança voltará à medida em que as medidas dos diferentes governos começarem a fazer efeito.
O que ninguém explica é porque os sucessivos pacotes de injeção de dinheiro no sistema financeiro não conseguem pelo menos reduzir a desconfiança.
Talvez uma parte da explicação esteja nos comentários de Gerardo Díaz Ferrán, presidente da Confederação Espanhola de Organizações Empresariais, sobre o pacote de entre 30 bilhões e 50 bilhões de euros que o governo da Espanha anunciou para os bancos.
Díaz Ferrán teme que esse dinheiro seja usado para que os bancos paguem dívidas pendentes, com o que não sobraria recursos para empréstimos de que tanto carece a economia espanhola. Insinua até que talvez seja necessário adicionar 30 bilhões de euros para que o crédito chegue às empresas.
O que só mostra que não são apenas os bancos que desconfiam uns dos outros. Todos desconfiam de todos. (CLÓVIS ROSSI)

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