São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

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QUEDA-DE-BRAÇO

Consumidor pagará 45% a mais pelo açúcar; novos reajustes devem ser concedidos ao leite e aos enlatados

Varejo cede à industria e libera aumentos

Adriana Zehbrauskas - 6.nov.02/Folha Imagem
CARRINHO CARO A dona-de-casa Simone Medeiros de Assis, 34, de São Paulo, com dois de seus quatro filhos, Mateus e Fernanda; ela elevou sua cota semanal de gastos no supermercado


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O maior reajuste de preços promovido neste ano pelas indústrias vai atingir em cheio o bolso do consumidor nesta semana. Depois da queda-de-braço travada nos últimos dias, grandes redes de supermercados do país e fornecedores finalizaram parte do acordo para aumento do preço açúcar, que será de 43% a 45%.
O varejo, que resistia à proposta de aumento pedido pela indústria, acabou cedendo e, nos últimos dias, as conversas avançaram. Com isso, o açúcar, que custava, em média, R$ 1,20 em outubro, deve custar mais de R$ 1,70 o quilo agora, na venda ao cliente.
Outra má notícia: essas são taxas preliminares. Nas próximas semanas, novas negociações devem ocorrer. Isso porque o reajuste é para o contrato de entrega nos próximos dias.
Além disso, reajustes de outros produtos estão sendo esperados também para os próximos dias, na casa dos dois dígitos.
Fabricantes de leite sugeriram, na última semana, aumento entre 8% e 10%. Os enlatados (ervilha, milho, salsicha etc.) querem um repasse entre 7% e 12%, de acordo com cooperativas de consumo e supermercados. Esses reajustes ainda não estão contabilizados na inflação atual, que apenas em outubro foi de 3,87% (IGP-M).
Conversas concluídas até quinta-feira apontavam para aumento entre 43% e 45% no novo lote de açúcar que está sendo recebido pelo Pão de Açúcar e pela rede Sendas. Isso ajuda a dar fôlego para as redes. Mas não resolve o problema. Os reajustes recaem sobre o lote "conta-gotas" entregue aos poucos às redes. Fornecedores querem aumento próximo a 80%.
Os preços das mercadorias com insumos cotados em dólar sofrem pressão desde meados de maio, quando a moeda começou a subir. O efeito foi sentido aos poucos pelo mercado. Em outubro, as redes de varejo se negaram a aceitar os aumentos dos produtos com insumos importados. Isso porque não há demanda e elas não querem perder margem.
Grandes redes ameaçaram informar o consumidor dos reajustes propostos pelas indústrias, por meio de avisos nas lojas. Os fabricantes, por sua vez, aproveitam a oportunidade para exportar as mercadorias não aceitas pelo varejo. Com isso, recebem em dólares pela venda.
Resultado: o consumidor não encontra o produto ou marca de sua preferência nas gôndolas desde sexta-feira. Se encontra, o preço já subiu -e muito.
Dois líderes em seus setores conversaram com a Folha na última semana sobre esse embate entre indústrias e varejo. As entrevistas estão abaixo.


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