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TRIBUTAÇÃO
Setor de serviços, o principal afetado pelo aumento da contribuição, prevê que mais empresas atuem sem registro
Cofins maior pode aumentar informalidade
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
O setor de serviços, um dos
mais importantes da economia
-responsável por um terço dos
empregos com carteira assinada,
por um terço da arrecadação tributária e por um terço do PIB-,
vai pagar a maior parte da conta,
estimada em R$ 4 bilhões pelo
governo, que será cobrada das
empresas via aumento da Cofins
(Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social).
A fatura começa a ser cobrada
em fevereiro de 2004, quando entrará em vigor o aumento de 3%
para 7,6% da Cofins a ser paga
pelas empresas tributadas pelo
lucro real.
O vice-presidente da Fesesp
(Federação de Serviços do Estado
de São Paulo), Luigi Nese, afirma
que a primeira consequência será
o aumento da informalidade
-empresas atuando sem registro, sem pagar impostos etc.
Num setor em que a informalidade já é altíssima -60%, segundo Nese-, ter mais empresas
atuando dessa forma só agrava a
situação: o empresário atua "escondido", o trabalhador não tem
seus direitos trabalhistas respeitados e o governo não recebe os
impostos devidos.
Assim, o aumento da Cofins
poderá provocar efeito contrário
às pretensões do governo, que
são a ampliação da oferta de empregos formais e maior arrecadação. Além disso, os preços tenderão a subir porque as empresas
que cumprem suas obrigações
poderão repassar a alta da Cofins
para os produtos. Resultado:
mais inflação.
Calibragem exagerada
No final de outubro, o governo
decidiu, por meio da medida provisória n.º 135, acabar com a cumulatividade (incidência sobre
todas as etapas de produção) da
Cofins. A alíquota subiu 153,3%.
Especialistas em tributação ouvidos pela Folha são unânimes
em dizer que o fim da cumulatividade era uma medida necessária
para aperfeiçoar a sistemática tributária. Mas esses mesmos especialistas têm outra opinião unânime: ao "calibrar" a alíquota em
7,6%, o governo exagerou.
A alíquota teve de ser aumentada para compensar a perda de arrecadação que ocorreria se, com
o fim da cumulatividade, fossem
mantidos os 3%. Resultado: as
atividades que usam muita matéria-prima (as indústrias, por
exemplo) serão beneficiadas. Em
situação oposta, os setores com
uso intensivo de mão-de-obra serão os mais prejudicados.
Nessa segunda categoria está
justamente o setor de serviços,
que terá o terceiro aumento de
tributo em apenas 13 meses -em
janeiro deste ano o PIS (Programa de Integração Social) subiu de
0,65% para 1,65% (mais 153,8%);
em setembro, a base de cálculo da
CSLL (Contribuição Social sobre
o Lucro Líquido) das empresas
tributadas pelo lucro presumido
ou arbitrado foi aumentada de
12% para 32% (mais 166,7%). Em
fevereiro de 2004 subirá a Cofins.
Embora concordem que a alíquota devesse ser menor, os especialistas entendem que não dá para definir qual seria a ideal.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), Horacio Lafer Piva,
afirmou, em entrevista à Folha
no início da semana passada, que
a entidade trabalhava com 7%
para o conjunto PIS/Cofins
-quando a nova alíquota vigorar serão 9,25%. Ou seja, a "calibragem" do governo está 32%
acima da imaginada pela Fiesp
(em torno de 1,25% e 5,75%, respectivamente).
Na sexta-feira, por meio de sua
assessoria, a entidade informou
que preferia não se manifestar sobre os efeitos do aumento da Cofins sobre o setor de serviços.
Questionado sobre o assunto,
Nese disse que a consequência do
aumento da alíquota será o aumento de preços. "Como o setor
presta serviços à indústria, esta
terá de aumentar seus preços
também. O consumidor final vai
acabar pagando a conta."
A Fesesp analisa a possibilidade
de recorrer à Justiça para tentar
barrar o aumento.
Como a Cofins subirá na mesma proporção do PIS, tudo indica que deverá ocorrer, a partir de
fevereiro, o mesmo aumento verificado na receita do PIS nos primeiros nove meses deste ano em
relação a igual período de 2002.
Nesse período, a receita cresceu
16,49% em termos reais, ou seja,
já descontada a inflação. Resultado: em nove meses o governo obteve R$ 1,61 bilhão a mais só com
o PIS. O valor equivale a quase
um mês de arrecadação da CPMF
(R$ 1,73 bilhão em setembro).
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