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PÉ NO FREIO
Dados da produção industrial fazem economistas reduzirem projeções de crescimento no 3º trimestre e no ano
Analistas vêem até PIB negativo no trimestre
MARCELO BILLI
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia brasileira patinou
no terceiro trimestre. Analistas já
admitem que ela pode até ter encolhido um pouco. A queda da
produção industrial em setembro
azedou as projeções e previsões
para o PIB (Produto Interno Bruto) anual e trimestral.
Ontem, os economistas passaram o dia revendo cálculos. As
projeções para o terceiro trimestre estão entre estabilidade e queda de até 0,65% em relação ao segundo. Para o ano, as previsões
estão mais para crescimento de
3% - ou abaixo disso- do que
para os 3,5% que predominavam
nas análises até a semana passada.
Juros altos por muito tempo,
um pouco de queda de confiança
de empresários e consumidores e
o dólar que não pára de cair são os
principais motivos apontados para o desempenho fraco do terceiro trimestre.
"É óbvio que a economia está
refletindo todo o movimento de
alta na taxa de juros que começou
no ano passado", diz Fábio Silveira, da MS Consult. "O PIB do terceiro trimestre deve vir relativamente estável, talvez com uma pequena queda." A projeção da MS,
por enquanto, é de crescimento
pífio no período, com alta de 0,1%
em relação ao segundo trimestre:
queda no PIB agrícola, estabilidade da indústria e algum crescimento do setor de serviços.
Para a consultoria Tendências,
o resultado da indústria aumenta
a chance de um PIB negativo no
trimestre e menor que 3% no ano.
Mário Mesquita, do ABN Amro,
lembra de três fatores que ele considera ter contribuído para a desaceleração do terceiro trimestre:
a queda na confiança causada pela crise política, uma acomodação
por conta do ritmo forte do segundo trimestre e o impacto negativo das altas dos juros.
Mesquita não descarta a possibilidade de o PIB ter encolhido
um pouco no trimestre, mas tampouco acha que esse será um cenário que deve se repetir. Pelo
contrário, o cenário que ele traça
para os próximos meses é otimista. Os dados da produção industrial, ele aponta, mostraram que o
setor de bens de capital foi o único
que continuou crescendo.
Com redução do uso da capacidade instalada e a continuidade
dos investimentos em máquinas,
a capacidade de expansão da economia aumenta e, portanto, há
espaço para crescer sem que haja
pressão inflacionária, o que permitirá que o BC continue derrubando os juros.
A queda dos juros, aliás, tornou-se o mantra de analistas ontem. A maioria esmagadora avalia
que o resultado do trimestre e a
valorização do câmbio deixam
claro que os juros estão mais altos
do que deveriam. "A taxa de juros
real está muito alta. Se o BC tem
que tomar uma medida racional,
é acelerar a queda da taxa de juros", alerta o economista Afonso
Celso Pastore. "[A queda dos juros é] a única coisa que um economista de cabelos brancos como eu
pode pedir", brinca o analista.
Pastore diz que o resultado também mostra que o desempenho
da economia neste ano ficará
aquém do previsto anteriormente. "Vamos ter que suar muito para crescer 3%", comenta.
Por conta da forte desaceleração
da indústria, os economistas já
vêem com preocupação o desempenho da economia neste último
trimestre do ano. O Bradesco está
revendo sua projeção de crescimento para os últimos três meses
do ano, em relação ao terceiro trimestre, de 1,8% para 1,4%.
"Se conseguirmos crescer entre
1,4% e 1,5% no último trimestre, a
expansão do PIB no ano talvez
chegue a 3,15%", diz Octávio de
Barros, economista-chefe do banco. No terceiro trimestre, segundo
ele, a taxa de expansão será zero.
Para esse período, a projeção de
Cecília Hoff, do Grupo de Conjuntura da UFRJ, é de uma variação entre 0 e 0,3% no PIB. Sua
projeção original era de alta de
0,6%. Para o ano, a estimativa baixou de 3,6% para 3,2%. "As hipóteses não mudaram. Deve haver
uma retomada no último trimestre por causa dos juros em queda
e da recuperação dos bens não-duráveis com a melhora do emprego e da massa salarial", diz.
Diante de um cenário de desaceleração da economia no terceiro trimestre, alguns analistas já
acenam com a possibilidade de o
Banco Central acelerar o corte da
taxa básica de juros, a Selic. "O
que vai dar o tom da política monetária serão os dados de outubro
e novembro", diz Alexandre Matias, economista-chefe da UAM
(Unibanco Asset Management).
A projeção da UAM para o PIB
no terceiro trimestre é de queda
de 0,65% e para o ano recuou de
3,25% para 3%. Na opinião de
Matias, se os números de outubro
e novembro também vierem
ruins, o BC verá que está faltando
impulso para a economia. "Nesse
caso, em dezembro ou o mais tardar em janeiro do ano que vem o
BC vai atuar, acelerando a queda
da taxa de juros", diz Matias.
Joel Bogdanski, gerente de política monetária do Itaú, diz que,
"se há uma semana alguém me
perguntasse se o BC poderia acelerar a queda dos juros, diria que
não. Mas, se a produção industrial
continuar em queda por mais um
ou dois meses e o real seguir valorizado, creio que o BC será estimulado a acelerar o corte".
Colaborou Pedro Soares,
da Sucursal do Rio
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