São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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PÉ NO FREIO

Dados da produção industrial fazem economistas reduzirem projeções de crescimento no 3º trimestre e no ano

Analistas vêem até PIB negativo no trimestre

MARCELO BILLI
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira patinou no terceiro trimestre. Analistas já admitem que ela pode até ter encolhido um pouco. A queda da produção industrial em setembro azedou as projeções e previsões para o PIB (Produto Interno Bruto) anual e trimestral.
Ontem, os economistas passaram o dia revendo cálculos. As projeções para o terceiro trimestre estão entre estabilidade e queda de até 0,65% em relação ao segundo. Para o ano, as previsões estão mais para crescimento de 3% - ou abaixo disso- do que para os 3,5% que predominavam nas análises até a semana passada.
Juros altos por muito tempo, um pouco de queda de confiança de empresários e consumidores e o dólar que não pára de cair são os principais motivos apontados para o desempenho fraco do terceiro trimestre.
"É óbvio que a economia está refletindo todo o movimento de alta na taxa de juros que começou no ano passado", diz Fábio Silveira, da MS Consult. "O PIB do terceiro trimestre deve vir relativamente estável, talvez com uma pequena queda." A projeção da MS, por enquanto, é de crescimento pífio no período, com alta de 0,1% em relação ao segundo trimestre: queda no PIB agrícola, estabilidade da indústria e algum crescimento do setor de serviços.
Para a consultoria Tendências, o resultado da indústria aumenta a chance de um PIB negativo no trimestre e menor que 3% no ano.
Mário Mesquita, do ABN Amro, lembra de três fatores que ele considera ter contribuído para a desaceleração do terceiro trimestre: a queda na confiança causada pela crise política, uma acomodação por conta do ritmo forte do segundo trimestre e o impacto negativo das altas dos juros.
Mesquita não descarta a possibilidade de o PIB ter encolhido um pouco no trimestre, mas tampouco acha que esse será um cenário que deve se repetir. Pelo contrário, o cenário que ele traça para os próximos meses é otimista. Os dados da produção industrial, ele aponta, mostraram que o setor de bens de capital foi o único que continuou crescendo.
Com redução do uso da capacidade instalada e a continuidade dos investimentos em máquinas, a capacidade de expansão da economia aumenta e, portanto, há espaço para crescer sem que haja pressão inflacionária, o que permitirá que o BC continue derrubando os juros.
A queda dos juros, aliás, tornou-se o mantra de analistas ontem. A maioria esmagadora avalia que o resultado do trimestre e a valorização do câmbio deixam claro que os juros estão mais altos do que deveriam. "A taxa de juros real está muito alta. Se o BC tem que tomar uma medida racional, é acelerar a queda da taxa de juros", alerta o economista Afonso Celso Pastore. "[A queda dos juros é] a única coisa que um economista de cabelos brancos como eu pode pedir", brinca o analista.
Pastore diz que o resultado também mostra que o desempenho da economia neste ano ficará aquém do previsto anteriormente. "Vamos ter que suar muito para crescer 3%", comenta.
Por conta da forte desaceleração da indústria, os economistas já vêem com preocupação o desempenho da economia neste último trimestre do ano. O Bradesco está revendo sua projeção de crescimento para os últimos três meses do ano, em relação ao terceiro trimestre, de 1,8% para 1,4%.
"Se conseguirmos crescer entre 1,4% e 1,5% no último trimestre, a expansão do PIB no ano talvez chegue a 3,15%", diz Octávio de Barros, economista-chefe do banco. No terceiro trimestre, segundo ele, a taxa de expansão será zero.
Para esse período, a projeção de Cecília Hoff, do Grupo de Conjuntura da UFRJ, é de uma variação entre 0 e 0,3% no PIB. Sua projeção original era de alta de 0,6%. Para o ano, a estimativa baixou de 3,6% para 3,2%. "As hipóteses não mudaram. Deve haver uma retomada no último trimestre por causa dos juros em queda e da recuperação dos bens não-duráveis com a melhora do emprego e da massa salarial", diz.
Diante de um cenário de desaceleração da economia no terceiro trimestre, alguns analistas já acenam com a possibilidade de o Banco Central acelerar o corte da taxa básica de juros, a Selic. "O que vai dar o tom da política monetária serão os dados de outubro e novembro", diz Alexandre Matias, economista-chefe da UAM (Unibanco Asset Management).
A projeção da UAM para o PIB no terceiro trimestre é de queda de 0,65% e para o ano recuou de 3,25% para 3%. Na opinião de Matias, se os números de outubro e novembro também vierem ruins, o BC verá que está faltando impulso para a economia. "Nesse caso, em dezembro ou o mais tardar em janeiro do ano que vem o BC vai atuar, acelerando a queda da taxa de juros", diz Matias.
Joel Bogdanski, gerente de política monetária do Itaú, diz que, "se há uma semana alguém me perguntasse se o BC poderia acelerar a queda dos juros, diria que não. Mas, se a produção industrial continuar em queda por mais um ou dois meses e o real seguir valorizado, creio que o BC será estimulado a acelerar o corte".


Colaborou Pedro Soares, da Sucursal do Rio


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