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Petróleo terá novo modelo de exploração
Governo, que tirou de licitação 41 blocos na região de megacampo da bacia de Santos, quer participação maior na receita
No modelo atual, vencedor de licitação paga apenas royalties e impostos sobre o faturamento; setor privado critica as mudanças
VALDO CRUZ
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As regras de licitação dos 41
blocos localizados na bacia de
Santos vão mudar para um sistema em que a vencedora deverá ficar apenas com parte da receita do petróleo e do gás explorado, com o restante ficando
com a União.
O governo decidiu que nessas
áreas não irá mais prevalecer a
situação atual em que o vencedor da licitação fica com todo o
faturamento do produto explorado, pagando apenas impostos
e royalties. A apropriação de
parte da receita é a fórmula que
o governo encontrou para ficar
com parte da produção de petróleo nessas áreas, conforme o
Painel antecipou ontem. Falta
definir como será a divisão.
A decisão, tomada na reunião
de anteontem do Conselho Nacional de Política Energética,
segue modelo adotado por outros países, como Bolívia e Líbia. No primeiro, conforme
contas do governo brasileiro,
82% do petróleo fica com o governo. No segundo, 85%.
A decisão de retirar os 41 blocos da 9ª rodada de licitação da
ANP (Agência Nacional do Petróleo) foi adotada porque o governo avalia que a descoberta
da Petrobras de que a região
contém petróleo leve, de excelente qualidade e em grande
quantidade, muda a disputa.
O governo soube que as empresas inscritas no leilão já tinham informações preliminares do potencial da região, e a
tendência era se configurar
uma "disputa feroz e selvagem"
pelos lotes na bacia de Santos,
onde fica a área de Tupi -na
qual a estatal acredita haver potencial de exploração de 5 bilhões a 8 bilhões de barris de
petróleo.
A justificativa para a mudança de regras é que o modelo
atual segue um padrão de exploração de risco para a empresa vencedora. Já as áreas da bacia de Santos deixaram de ser
uma zona de risco com a descoberta de seu potencial.
O modelo atual, porém, não
será abandonado. Os 280 lotes
mantidos na 9ª rodada, por
exemplo, continuarão seguindo as regras atuais por serem
consideradas áreas de risco de
exploração. Durante a reunião
do conselho, por sinal, foi aventada a possibilidade de cancelar
toda a rodada, mas a decisão foi
pela exclusão apenas dos 41
blocos da bacia de Santos.
O governo refuta as críticas
do setor privado de que poderia
estar mudando as regras durante o jogo. Isso ocorreria, segundo um ministro, se o governo fizesse o leilão, definisse
uma vencedora e só depois mudasse o modelo, como ocorreu
na Bolívia.
A idéia do governo não é
"dar" para a Petrobras a exploração da área, e sim continuar
contando com a participação
privada nas licitações. Mas com
mudanças que garantam, segundo o governo, um retorno
adequado para o país. Para o
próximo leilão da ANP, 66 empresas estavam classificadas,
entre elas grandes nomes da indústria do petróleo, como Esso,
Shell, Chevron e BG.
No governo, segundo a Folha
apurou, há insatisfação em relação à participação do empresário Eike Batista. Causou mal-estar o fato de o empresário ter
feito propostas salariais elevadas para gerentes da Petrobras
e levado para sua empresa profissionais com muita informação sobre as áreas de exploração no Brasil.
A empresa de Eike (OGX), no
entanto, estava classificada como "operador B", ou seja, sem
acesso a águas profundas, onde
se espera encontrar o petróleo
da chamada "nova fronteira"
de exploração (camada pré-sal,
mais profunda). Das 66 empresas, 26 foram classificadas como "operador A", podendo disputar áreas em águas profundas.
Além da Petrobras e da OGX,
de Eike, outras empresas brasileiras como a Vale do Rio Doce,
a Odebrecht e a Queiroz Galvão
estão qualificadas. A Petrobras
e a Queiroz Galvão podem disputar áreas em águas profundas, a Vale e a Odebrecht, não.
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