São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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ROBERTO RODRIGUES

Prorrogação na OMC

Se o jogo de Doha for prorrogado, teremos de melhorar ainda mais nossa competitividade

ENQUANTO as reportagens publicadas mundo afora indicam impasses para acabarem ainda neste ano as negociações da Rodada Doha, o agronegócio brasileiro -com todas as crises recentes e o endividamento atual- segue batendo recordes de exportação.
Não deixa de ser uma contradição: afinal, a rodada tem o objetivo explícito e prioritário de liberar o mercado agrícola mundial, de maneira a permitir o crescimento dos países em desenvolvimento.
Em 2000, o agronegócio brasileiro exportou US$ 20,6 bilhões. Em 2006, o valor foi de US$ 49,4 bilhões, um salto de 140%! No primeiro semestre de 2007, as exportações cresceram 25% em relação ao mesmo período do ano passado, permitindo sonhar com um volume próximo de US$ 60 bilhões até o final do ano.
Nos últimos seis anos, o crescimento médio anual foi de 15,7%, quase o dobro do aumento do comércio agrícola mundial. Com isso, já representamos hoje cerca de 5,7% de todo o mercado agrícola planetário, muito mais que os 3% do final da década passada.
Alguns produtos tiveram desempenho simplesmente espetacular: as exportações das carnes (bovina, de frango e suína) cresceram 341,5% nos últimos seis anos; o complexo sucroalcooleiro aumentou as exportações em 529,8%; cereais e farelos cresceram 1.023%; lácteos, 985%, e animais vivos (principalmente gado em pé), 1.473%.
Também os produtos florestais (celulose e madeira) tiveram grande aumento, bem como couro e seus derivados, algodão, café torrado e moído, frutas e sucos.
Outro dado impressionante é a diversificação dos mercados compradores: hoje, exportamos para muitos países onde antes não éramos conhecidos. Em 2006, além de União Européia e Estados Unidos, que são os nossos principais compradores, crescemos muito na China, na Rússia e no Irã. Esses cinco mercados, somados, representam 60% do crescimento dos últimos seis anos.
A participação dos países em desenvolvimento aumentou no período, de 33,9% para 49,1%, enquanto a participação dos países desenvolvidos baixou, em termos relativos, de 66,1% para 50,9%.
O crescimento médio anual para a Ásia foi de 27,5%; para o Oriente Médio, de 27,8%; para a África, de 33,2%; e, para a Europa Oriental, de 36%. Todas essas médias são superiores à média geral de 15,7% ao ano.
Isso é muito relevante, porque reduz a dependência de mercados tradicionais e oferece alternativas sólidas para o futuro.
Três produtos -carnes, açúcar e soja- representaram 75% do crescimento das exportações para os países em desenvolvimento nestes seis anos.
E o álcool vem se apresentando como um produto cujo mercado potencial é difícil de mensurar. Só a Flórida, cujo governador esteve nesta semana no Brasil para discutir o tema (entre outros), consome tanta gasolina quanto o Brasil todo. E o álcool de milho produzido em Iowa chega à Flórida mais caro por terra do que o produto brasileiro, por mar.
Isso sem falar na Ásia, na Europa e em outros Estados americanos. Na verdade, portanto, o crescimento brasileiro nos mercados globais se deveu muito mais à grande capacidade de nossos produtores do que de qualquer acordo comercial.
Mas, se o jogo de Doha não acabar neste ano, precisaremos engraxar as canelas para a prorrogação que fatalmente virá. E isso implica melhorar ainda mais a nossa competitividade, além de fazer promoção comercial pelo mundo afora.


ROBERTO RODRIGUES, 65, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV (Fundação Getulio Vargas), presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura. Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.


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