|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ROBERTO RODRIGUES
Prorrogação na OMC
Se o jogo de Doha for
prorrogado, teremos de
melhorar ainda mais
nossa competitividade
ENQUANTO as reportagens publicadas mundo afora indicam impasses para acabarem
ainda neste ano as negociações da
Rodada Doha, o agronegócio brasileiro -com todas as crises recentes e
o endividamento atual- segue batendo recordes de exportação.
Não deixa de ser uma contradição:
afinal, a rodada tem o objetivo explícito e prioritário de liberar o mercado agrícola mundial, de maneira a
permitir o crescimento dos países
em desenvolvimento.
Em 2000, o agronegócio brasileiro exportou US$ 20,6 bilhões. Em
2006, o valor foi de US$ 49,4 bilhões,
um salto de 140%! No primeiro semestre de 2007, as exportações
cresceram 25% em relação ao mesmo período do ano passado, permitindo sonhar com um volume próximo de US$ 60 bilhões até o final do
ano.
Nos últimos seis anos, o crescimento médio anual foi de 15,7%,
quase o dobro do aumento do comércio agrícola mundial. Com isso,
já representamos hoje cerca de 5,7%
de todo o mercado agrícola planetário, muito mais que os 3% do final da
década passada.
Alguns produtos tiveram desempenho simplesmente espetacular: as
exportações das carnes (bovina, de
frango e suína) cresceram 341,5%
nos últimos seis anos; o complexo
sucroalcooleiro aumentou as exportações em 529,8%; cereais e farelos
cresceram 1.023%; lácteos, 985%, e
animais vivos (principalmente gado
em pé), 1.473%.
Também os produtos florestais
(celulose e madeira) tiveram grande
aumento, bem como couro e seus
derivados, algodão, café torrado e
moído, frutas e sucos.
Outro dado impressionante é a diversificação dos mercados compradores: hoje, exportamos para muitos países onde antes não éramos
conhecidos. Em 2006, além de
União Européia e Estados Unidos,
que são os nossos principais compradores, crescemos muito na China, na Rússia e no Irã. Esses cinco
mercados, somados, representam
60% do crescimento dos últimos
seis anos.
A participação dos países em desenvolvimento aumentou no período, de 33,9% para 49,1%, enquanto a
participação dos países desenvolvidos baixou, em termos relativos, de
66,1% para 50,9%.
O crescimento médio anual para a
Ásia foi de 27,5%; para o Oriente
Médio, de 27,8%; para a África, de
33,2%; e, para a Europa Oriental, de
36%. Todas essas médias são superiores à média geral de 15,7% ao ano.
Isso é muito relevante, porque reduz a dependência de mercados tradicionais e oferece alternativas sólidas para o futuro.
Três produtos -carnes, açúcar e
soja- representaram 75% do crescimento das exportações para os países em desenvolvimento nestes seis
anos.
E o álcool vem se apresentando
como um produto cujo mercado potencial é difícil de mensurar. Só a
Flórida, cujo governador esteve nesta semana no Brasil para discutir o
tema (entre outros), consome tanta
gasolina quanto o Brasil todo. E o álcool de milho produzido em Iowa
chega à Flórida mais caro por terra
do que o produto brasileiro, por mar.
Isso sem falar na Ásia, na Europa e
em outros Estados americanos.
Na verdade, portanto, o crescimento brasileiro nos mercados globais se deveu muito mais à grande
capacidade de nossos produtores do
que de qualquer acordo comercial.
Mas, se o jogo de Doha não acabar
neste ano, precisaremos engraxar as
canelas para a prorrogação que fatalmente virá. E isso implica melhorar ainda mais a nossa competitividade, além de fazer promoção comercial pelo mundo afora.
ROBERTO RODRIGUES, 65, coordenador do Centro de
Agronegócio da FGV (Fundação Getulio Vargas), presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura. Escreve aos sábados, a
cada 15 dias, nesta coluna.
Texto Anterior: No exterior: Companhias nacionais são dominantes Próximo Texto: Indústria critica retirada de blocos do leilão Índice
|