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Indústria critica retirada de blocos do leilão
Decisão do governo poderá prejudicar os investimentos de empresas, diz presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás
Associação dos Engenheiros da Petrobras diz que estatal não pode desembolsar quase US$ 1 bi e depois "entregar de mão beijada"
RAQUEL ABRANTES
DA SUCURSAL DO RIO
Representante da indústria
de petróleo e gás criticou ontem a alteração do atual modelo de concessão do país e a decisão do governo de retirar os 41
blocos da megarreserva da bacia de Santos da 9ª Rodada de
Licitações no final do mês.
O presidente do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás),
João Carlos de Luca, afirmou
que a decisão prejudica os investimentos das empresas para
o leilão. A entidade reúne 230
associados, dos quais 46 companhias que atuam na exploração e produção de petróleo, como Esso, Shell, Repsol e outras,
inclusive a Petrobras.
"Não discutimos questão de
soberania. Mas a exclusão dos
blocos às vésperas da licitação
afeta a previsibilidade e a credibilidade dos contratos. A suspensão da 8ª Rodada já tinha
gerado descontinuidade, e a 9ª
Rodada será realizada sem os
blocos mais importantes, mas o
governo tem poderes para isso", afirmou De Luca.
Presidente da Statoil, Jorge
Camargo disse que o anúncio
da descoberta também demonstra a necessidade de investimentos para transformar
o potencial em produção e empregos. "Estamos com certa insegurança em relação ao modelo que o país quer, mas devemos preservar o que já foi conquistado. Precisamos de clareza para planejar os investimentos na produção, que só vão surtir resultados em 10, 12 anos",
destaca Camargo.
As especulações são que o governo possa entregar os blocos
para a exploração da Petrobras
sem passar por leilão.
Cerca de 25% da área de
ocorrência das rochas do pré-sal já está concedida pela ANP
(Agência Nacional de Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis), e a Petrobras, sozinha ou
com associados, detém 70%
dessa fatia.
Retrocesso
Advogado especialista em
petróleo, Guilherme Vinhas
disse que a Lei do Petróleo só
permite a concessão de áreas
mediante licitação, podendo
participar todas as empresas
que se habilitem. "Não dá para
passar direto para a Petrobras.
É um retrocesso muito grande
depois da flexibilização", afirmou.
"A decisão do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) quer manter o modelo
atual já olhando para o outro
[de prestação de serviços]", observa o presidente da Devon,
Murilo Marroquim. Ele disse
ainda que cada empresa deverá
avaliar se o novo modelo será
atraente para investimentos.
"A retirada dos blocos da 9ª
Rodada foi muito infeliz, a 20
dias do leilão. O governo já tinha conhecimento do potencial de pré-sal havia muito tempo. Não precisava esperar até
novembro, depois que as companhias fizeram investimentos", reclamou Marroquim.
O presidente da Encana, Júlio Moreira, ressaltou que a
descoberta na camada pré-sal
ainda não pode ser chamada de
reserva, porque depende de
comprovação.
"O ponto vital desse novo
modelo é como os agentes vão
participar", questiona.
De mão beijada, não
O presidente da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras), Heitor Pereira, alertou sobre o pico da produção de
petróleo, que pode levar a um
terceiro choque, com a previsão do preço do barril a US$
200 em 2010.
"O governo tirou o filé mignon da 9ª Rodada. A empresa
que quiser explorar petróleo no
Brasil tem de correr riscos, porque faz parte da indústria. O
que não pode é a Petrobras correr risco, furar 15 poços, desembolsar quase US$ 1 bilhão e
depois entregar de mão beijada
no leilão", alegou.
Na reunião extraordinária do
CNPE realizada anteontem,
com a presença do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, foi
determinada a exclusão da 9ª
Rodada de Licitações dos blocos situados nas bacias do Espírito Santo, de Campos (Rio de
Janeiro) e de Santos (São Paulo), relacionados às possíveis
acumulações em reservatórios
do pré-sal.
Decidiu-se também pela adoção de providências para a conclusão da 8ª Rodada de Licitações. Além disso, o CNPE determinou que o Ministério de
Minas e Energia avalie mudanças necessárias ao marco legal
para um novo modelo de exploração e produção de petróleo e
gás natural.
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