Segundo ministro, linhas podem ser retomadas hoje, com aviões e tripulantes da BRA, mas administradas pela OceanAir

No setor aéreo, anúncio não foi surpresa; Jobim recebeu recentemente German Efromovich, dono da OceanAir, duas vezes

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciou ontem à tarde no Rio de Janeiro acordo pelo qual a empresa aérea OceanAir assumirá a operação da BRA por 90 dias. De acordo com o ministro, "provavelmente" hoje as linhas da BRA voltarão a ser operadas, com aviões e tripulantes da companhia, mas administradas pela OceanAir.
"A BRA operará nos próximos dias gerida pela OceanAir. Aí então caminhamos para a solução do problema dos passageiros, não só daqueles que estão em trânsito mas também aqueles que já têm passagem comprada", disse Jobim, depois de proferir palestra na ESG (Escola Superior de Guerra), no Rio. A BRA tem 70 mil passagens vendidas até 2008, no valor de R$ 22 milhões.
"O acordo é de fretamento. Eles vão usar nossos aviões e nossa tripulação para transporte aéreo", afirmou à Folha Danilo Amaral, diretor da BRA. Segundo ele, a OceanAir assumirá os custos da operação.
O diretor declarou que as condições comerciais do acordo, como a divisão da receita desses vôos, serão discutidas neste fim de semana. Ele confirmou que parte dos vôos da BRA, sob o comando da OceanAir, será retomada hoje.
Segundo a Folha apurou, entre as outras companhias aéreas o anúncio era esperado. Jobim recebeu recentemente duas vezes o empresário German Efromovich, dono da OceanAir, para falar sobre a possibilidade de a companhia assumir as rotas da BRA.
Executivos ouvidos pela reportagem afirmaram que, com o anúncio, o governo se expõe ao risco de uma ação por improbidade administrativa por parte das empresas. Quando uma companhia aérea deixa de operar, uma licitação tem que ser aberta caso uma mesma linha interesse a mais de uma empresa, já que é uma concessão de serviço público.
Nota da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) fala em um "primeiro acordo" fechado entre as duas empresas, apenas para este fim de semana. Segundo a Folha apurou, será difícil um acordo mais permanente ser aprovado pela agência reguladora.
Para o ministro, com o acordo "resolvemos a questão BRA, para depois encontrar uma solução definitiva em termos das negociações BRA-OceanAir". "Com isso, esperamos pacificar o setor aéreo nesse aspecto", completou ele, para quem as negociações podem resultar "em uma fusão, sei lá".
Amaral, da BRA, negou. "Não estamos trabalhando com um cenário de fusão", disse.
Não é a primeira vez que as duas unem suas operações. Em maio deste ano, BRA e OceanAir anunciaram um compartilhamento de vôos que durou entre junho e setembro último. O fim da parceria ocorreu porque a BRA não se adaptou à política comercial de Efromovich, como tarifas e comissões pagas a agentes de viagem.
Embora tenha dito que as negociações foram tocadas pela Anac, Jobim afirmou ter conversado sobre a parceria entre BRA e OceanAir com os presidentes das duas empresas.
"Desde ontem [anteontem] de manhã, a Anac estava operando com a BRA e a OceanAir para fazer um entendimento entre elas. Acabei de conversar com o presidente da BRA [Humberto Folegatti] e conversei ontem à noite com o presidente da OceanAir, o German. O assunto da parte comercial estaria fechado", disse.
De acordo com o ministro, alguns aviões da BRA, cuja crise financeira a obrigou a pedir suspensão de vôos na última terça, têm mandado judicial de apreensão. As empresas de leasing donas da frota da BRA, que vem atrasando parcelas do aluguel dos aviões, foram procuradas por Efromovich, que comunicou o acordo fechado com a companhia aérea e tentou tranquilizá-las.
A Webjet vinha negociando para assumir a operação de cinco aviões que eram usados pela BRA. Paulo Henrique Coco, presidente da companhia, afirmou que tem uma reunião marcada na próxima segunda na Anac e que a empresa também tem interesse em assumir vôos domésticos da BRA.


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