São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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Setor informal responde por 10% da economia brasileira

DA SUCURSAL DO RIO

A divulgação dos dados definitivos do PIB de 2005 permitiu ao IBGE esmiuçar melhor dados como a contribuição de cada setor da economia para o crescimento naquele ano.
O instituto mostrou, por exemplo, que 59% das ocupações eram informais. No entanto, na hora de calcular o valor agregado pelo setor informal à economia, o percentual não passou de 10,1%.
Essa aparente contradição entre uma presença muito grande do setor informal nas ocupações, mas muito pequena em termos de quanto ele agrega à economia, é explicada por duas razões. A primeira é que a renda gerada por esse tipo de emprego é, em média, menor do que a dos empregos formais.
A segunda tem a ver com a metodologia de cálculo desses indicadores. Um pedreiro que faz um trabalho temporário para uma grande empresa de construção, por exemplo, entra no cálculo de ocupações informais por não ter vínculo formal com seu empregador. No entanto, o valor produzido por ele nesse serviço acaba entrando no cálculo da produção do setor formal, já que a empresa para a qual ele trabalhou temporariamente é formalizada.
"Não é possível, nas pesquisas do IBGE, identificar o quanto um trabalhador informal produziu inserido dentro de uma atividade formal. A gente não consegue chegar a uma empresa e perguntar qual a porcentagem de sua produção foi feita por um trabalhador formal e qual foi realizada por um informal", explica Roberto Olinto, do IBGE.
Apesar dessa limitação, Olinto diz que o patamar de 10% é muito parecido com o verificado em outros países que também analisam o peso da informalidade em suas economias. "O número de empregos formais pode ser muito alto, mas a produtividade dessa atividade é muito baixa. O percentual [do valor agregado pelo setor informal] não é muito mais do que isso [apontado pelo IBGE]".
Na avaliação de José Julio Senna, sócio-diretor da MCM Consultores, a alta taxa de informalidade e sua baixa produtividade ajuda a explicar por que o Brasil cresce menos do que outros países que lideram os rankings de crescimento econômico.
"Parte significativa do crescimento econômico chinês é explicada pela migração de empregos de setores de baixíssima produtividade, como a agricultura rudimentar, para outros de alta produtividade, como as indústrias no setor urbano. Esse trabalhador que migra de um setor para outro acaba produzindo mais bens e turbinando o avanço chinês", diz Senna.
Para ele, o dado indica a necessidade de reformular a legislação trabalhista para atrair, no país, mais pessoas que estão no setor informal para o formal.
"Esse alto percentual de quase 60% de ocupações informais mostra que, se conseguíssemos fazer reformas que facilitem a migração desses trabalhadores para o setor formal, o Brasil poderia dar um salto fantástico no crescimento econômico. Dentro do setor formal, é muito mais fácil treinar o trabalhador, e ele próprio terá mais estímulo para investir em sua capacitação", diz Senna.


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