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FMI faz alerta para riscos na área de crédito
FERNANDO CANZIAN
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O diretor para o Hemisfério
Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional), o indiano Anoop Singh, afirmou ontem que Brasil e região devem
se preocupar com aumentos indiscriminados na concessão de
crédito, pois isso traria riscos
ao sistema financeiro.
"O crescimento rápido do
crédito merece acompanhamento de perto das autoridades. Na América Latina, o crédito tende a aumentar rapidamente, elevando os riscos envolvidos", disse Singh.
"Os BCs devem acompanhar
com cuidado para ter certeza
de que os bancos não estão diminuindo seus padrões de análise de concessão de crédito",
completou. Singh participou,
em São Paulo, do lançamento
de relatório do FMI sobre os
países americanos e da região
do Caribe em seminário na
Fundação Getúlio Vargas.
Nos últimos cinco anos, o volume de concessão de crédito
como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) no Brasil
aumentou de 21% para 33%,
com dezenas de novas modalidades no mercado e estratégias
agressivas dos bancos para
atrair clientes.
No mesmo evento, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que o
volume de crédito total na economia brasileira ainda "permanece bem aquém das de outras
regiões, inclusive de emergentes. E evidencia espaço para expansão", disse.
"A relação de crédito total sobre o produto expandiu, mas é
muito inferior a de países como
Malásia, Tailândia, e Coréia [do
Sul]", afirmou Meirelles. "Crescente parcela da população está
tendo acesso ao crédito. Mas
ainda estamos em um patamar
substancialmente inferior
àqueles países que já estão enfrentando um limite, como é o
caso dos EUA."
Outros riscos
Além do eventual risco com a
concessão de créditos, o relatório do FMI assinala que Brasil e
região podem sofrer impactos
negativos de uma desaceleração maior da economia norte-americana e da queda nos preços das commodities (grãos,
minérios, etc.).
Em resposta a essas considerações, o secretário de Acompanhamento Econômico do
Ministério da Fazenda, Nelson
Barbosa, disse que o Brasil estaria preparado, com saldo comercial e reservas, até para
uma eventual "recessão típica"
nos EUA, que poderia durar entre 12 a 18 meses.
Sobre as commodities, Barbosa afirmou que haveria uma
queda nas exportações e nos
ganhos comerciais, mas que o
país seria beneficiado, por outro lado, por pressões menores
sobre a inflação.
Barbosa manteve a previsão
da Fazenda de crescimento de
4,7% neste ano e de 5% em
2008 (o FMI prevê 4,4% e 4%,
respectivamente).
"Crescer 5% no ano que vem
é um desafio que temos. E existem condições para isso", disse
Barbosa. Segundo ele, o governo espera um crescimento de
6,5% na demanda doméstica
em 2008. Para chegar aos 5%
de crescimento seria descontado 1,5 ponto percentual relativo à demanda que será atendida pelas importações.
Apesar dos alertas, Singh fez
vários elogios ao Brasil. Disse
que o país "é líder" de uma "nova era" na América Latina, que
inclui "estabilidade macroeconômica e inflação baixa".
O funcionário do Fundo afirmou ainda que, apesar de crescentes, os gastos públicos no
Brasil "estão melhor contidos"
do que em outros países. "O superávit fiscal [economia para
pagar juros] também é mais robusto que em outros países."
Gastos sociais
Barbosa, da Fazenda, defendeu a política de aumento dos
gastos públicos direcionados a
programas sociais e à Previdência. Segundo ele, essas despesas
já equivalem a 42% do PIB. "O
governo sabe que precisa manter o controle do gasto. Mas, no
caso dos gastos sociais, o que
houve foi uma redistribuição
da renda do setor privado" [em
direção aos mais pobres].
Já sobre a demora em os resultados macroeconômicos serem revertidos em queda da desigualdade social, Singh afirmou: "A história nos deu a lição
de que leva tempo para mudar
esse quadro. Mas há evidências
de que o país entrou em uma
nova fase, e que essa tendência
[de redução das desigualdades]
deve se autoalimentar".
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