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análise
Discurso impõe dificuldades a emergentes
SHEILA D'AMORIM
EM SÃO PAULO
Por trás dos discursos empolgados de fortalecimento
da liderança dos países em
desenvolvimento e de ações
coordenadas para criar uma
espécie de vacina mundial
contra novas crises financeiras, o encontro do G20 encerrado ontem em São Paulo,
impôs um desafio às economias emergentes: assumir o
risco de trocar a preocupação com o controle da inflação por políticas de aumento
de gastos públicos e de redução de juros como forma de
evitar recessão e desemprego nos próximos dois anos.
Apontada como a solução
para o curtíssimo prazo, a
combinação de expansão fiscal e monetária mexe com
fantasmas de um passado
muito recente dessas economias, cujo histórico de disciplina fiscal e controle de preços é de um pouco mais de
dez anos. Por isso mesmo, a
proposta é vista como uma
ameaça e divide opiniões.
O Brasil é um bom exemplo para esse caso. No comando da reunião, o ministro Guido Mantega (Fazenda) fez uma defesa empolgada da aceleração de gastos
públicos e redução dos juros
como um instrumento de
curto prazo. Para ele, mesmo
que isso leve a um desequilíbrio fiscal em algumas economias, será momentâneo e
se justifica porque o risco
maior é viver uma recessão.
A posição dele reflete o desejo da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e parcialmente o do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente tem cobrado de sua equipe medidas
que impeçam a qualquer custo um recuo na taxa de crescimento do país nos dois últimos anos de sua gestão. Lula
quer entrar na disputa pela
sua sucessão com uma taxa
anual crescimento de, pelo
menos, 4%.
Ao mesmo tempo, o presidente exige que o presidente
do Banco Central, Henrique
Meirelles, assegure o controle da inflação. Ele sabe que
isso atinge diretamente o
eleitorado mais pobre. As posições antagônicas da equipe
brasileira foram refletidas
nas discussões do G20, onde
a movimentação diplomática é sutil e evita confrontos
diretos. Mas, nem por isso,
esconde as divergências.
Não foi à toa que o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, notou que o tema de usar política fiscal e
monetária expansionista
não é consenso entre a delegação brasileira e se esquivou de comentar a situação
do Brasil nessa área. Nos debates, Mantega fechou questão com chineses e outros
emergentes na defesa de que
o quadro que se desenha à
frente é de deflação e não
pressão inflacionária.
Portanto, não há problema
em os países acelerarem gastos públicos. O rombo inicial
e temporário nas contas públicas poderá ser compensado mais à frente com retomada de crescimento e
maior arrecadação.
Meirelles ficou alinhado
com Jean-Claude Trichet,
presidente do Banco Central
Europeu, ponderando que
essa discussão não deve ser
descolada da preocupação
com a trajetória da inflação.
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