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Cúpula define quem governa o mundo
Reunião de 15 de novembro em Washington, nos EUA, deve deixar claro qual é o grupo que coordena grandes decisões
Discussões se darão em torno de nova regulação e fiscalização do mercado; Brasil quer sistema global, ao qual os EUA se opõem
DO COLUNISTA DA FOLHA
Por ser uma reunião política,
a cúpula do dia 15 em Washington não vai discutir, como é óbvio, os aspectos técnicos da reforma do sistema financeiro internacional. Como diz o ministro Guido Mantega, não teria
sentido os presidentes deliberarem, por exemplo, sobre como regular os fundos de hedge.
A cúpula será, de todo modo,
um avanço se os governantes se
entenderem sobre dois elementos políticos fundamentais: qual deve ser a diretoria do
mundo -ou seja, o grupo que
coordena decisões e busca consensos- e como deve ser gerenciada uma economia que se
globalizou mas ainda e é regulada por instituições nacionais.
O exemplo dado na sexta-feira pelo ministro Mantega é perfeito para mostrar o segundo
dilema: os "xerifes" das Bolsas
nos EUA e no Brasil podem até
funcionar muito bem em relação às operações internas mas
nem sempre conseguem detectar abusos quando a operação
se dá de um país para o outro.
O Brasil, com o apoio de boa
parte dos emergentes, defende
uma supervisão/regulação supranacional. Mas os EUA tradicional e firmemente se opõem,
acompanhados por outros ricos mais discretamente.
Por isso mesmo, um dos mais
lúcidos funcionários internacionais -Pascal Lamy, diretor-geral da OMC (Organização
Mundial do Comércio)- pede
"uma revolução ideológica" para implementar autoridades
supranacionais, tese que ele defendeu em entrevista ao jornal
"Le Monde". "Há organizações
mundiais para comércio, saúde, meio-ambiente, telecomunicações, alimentação. Há dois
buracos negros na governança
global: nas finanças, com suas
bolhas, e na imigração."
Tapar esse "buraco negro"
seria um objetivo central da cúpula de Washington, claro que
não imediatamente. Seria tolice supor que uma única reunião mudaria o sistema.
Basta lembrar que os acordos
de Bretton Woods, que criaram
o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Bird (Banco
Mundial), em 1944, surgiram
após três anos de negociações.
Trevor Manuel, o ministro sul-africano de Finanças, que presidia o G20 no ano passado,
lembrou ontem que o grupo
"não representa os países mais
pobres do mundo". De todo
modo, as discussões em São
Paulo representaram um reforço para o G20 menos abrangente do que gostaria o governo
brasileiro. Em nenhum momento, surgiu a proposta de o
G20 substituir o G7.
A instituição que é mais acarinhada pelo comunicado do
G20 é o velho FMI, ao qual se
reconhece uma capacitação
macro-financeira suficiente
para "um papel de liderança".
Claro que não poderá ser o
FMI atual, em que os EUA, com
sua cota algo superior a 17%,
tem o poder de, sozinho, bloquear boa parte das decisões,
que dependem de uma maioria
de 85% dos votos. Tanto que o
G20 recomenda uma reforma
abrangente do Fundo e também do Bird, para que as cotas e
os votos reflitam as mudanças
no peso econômico dos países
emergentes. Resta ver como se
traduz na prática essa recomendação, o que eventualmente começará a ficar claro em
Washington.
Dominique Strauss-Kahn,
diretor-gerente do Fundo, concordou parcialmente com a demanda: "É a primeira vemos
que temos uma crise global e,
neste momento, os recursos do
FMI são suficientes. Em crises
futuras, podem não ser. Precisamos estar preparados".
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