São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Emergentes reclamam que ajuda financeira fica restrita aos discursos

JULIO WIZIACK
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
MAURÍCIO MORAES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Embora os representantes do G-20 discursarem em torno da proposta de uma compensação financeira vinda dos países desenvolvidos aos emergentes, nenhum dos representantes mostrou-se abertamente favorável, principalmente os EUA.
O subsecretário do Tesouro americano, David McCormick, limitou-se a afirmar que os EUA estão comprometidos na solução dessa crise, defendendo uma revisão profunda das instituições financeiras. "Na reunião da próxima semana estaremos focados nos princípios das reformas para evitar outras crises", comentou.
McCormick reforçou que os EUA estão prontos para colocar mais recursos na economia real caso seja necessário, mas deixou dúvidas sobre a relevância do G20. "Acredito que o papel desse grupo é importante e vamos dar todo o apoio, mas ele [o G20] não é o único fórum de debate."
A Ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, também seguiu nessa direção. "Encontramo-nos todos na necessidade de estabelecer um plano de ação concreto e um cronograma para colocar em prática uma nova arquitetura [financeira] mundial", disse.
A ministra também mencionou um novo pacote de ajuda do governo francês às pequenas e médias empresas, no montante de 22 bilhões, o qual deve ser enviado ao Parlamento.
Há ainda outros pontos de discórdia nos bastidores.
Segundo o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, apesar de estarem comprometidos na contenção dos efeitos dessa crise, os países desenvolvidos deverão apresentar resistência à proposta do G20 de monitorar o mercado de fundos derivativos e de hedge a partir da criação de organismos permanentes, no âmbito do G20, de detecção de risco. Afinal, ainda de acordo com o ministro, são os países desenvolvidos, especialmente os EUA, que administram a maior quantidade e volume de investimentos. "Eles terão problemas porque a proposta [do G20] acarretaria limitação de seu raio de ação", explicou Mantega.
"Guido Mantega está certo quando diz que o crescimento, no próximo ano, virá das nações emergentes. É justo, portanto, tentar apoiar esse crescimento porque será a única fonte de avanço que teremos", disse Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), sem dar nenhum detalhe sobre a forma de tal ajuda.
Durante a crise, o Fundo concordou em socorrer a Islândia, a Hungria e a Ucrânia. O Federal Reserve, banco central dos EUA, também colocou à disposição do Brasil e da Coréia do Sul, entre outros países, linhas especiais de "swap" (troca de moeda americana por reais, uma espécie de empréstimo sem pagamento de juros) no valor de US$ 30 bilhões cada.


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