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Gasolina pode ter adição menor de álcool
Governo estuda reduzir mistura para que excedente de etanol seja direcionado ao mercado e ajude a conter avanço do preço
Proporção de álcool na gasolina está hoje em 25% e pode cair para até 20%, diz ANP; usineiros dizem que preço ainda deve subir mais
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
O governo estuda a possibilidade de reduzir o percentual de
álcool misturado à gasolina para tentar segurar o preço do
combustível renovável, em alta
em dez Estados brasileiros. E
uma campanha é preparada para orientar os consumidores a
reduzir o consumo do álcool.
A redução do álcool na gasolina, avaliada pela ANP (Agência
Nacional do Petróleo) e pelo
Ministério de Minas e Energia,
poderá ser anunciada em até
duas semanas. Já os anúncios
devem ser veiculados principalmente no rádio, nos Estados
onde abastecer com gasolina
está mais vantajoso.
Segundo a Folha apurou, no
entanto, não há consenso dentro do governo em relação à
medida. Os ministérios de Minas e Energia e a Casa Civil estão a favor, e o Ministério da
Agricultura, contra.
Em outubro, o preço do álcool subiu cerca de 10%, tornando-o desvantajoso em relação à gasolina nos Estados de
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Roraima, Pará, Amapá,
Espírito Santo, Amazonas,
Piauí, Acre e Minas Gerais.
Em
média, o preço foi de R$ 1,475
em setembro para R$ 1,624.
Hoje, a gasolina nos postos
tem 25% de álcool anidro em
sua composição. "Podemos
descer até 20% ou um patamar
intermediário", disse o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima.
Com a redução para 20%, seriam adicionados 100 milhões
de litros de álcool por mês no
mercado, o que poderia forçar
os preços para baixo.
Flex
Com a proliferação dos carros flex, que correspondem à
quase totalidade da venda de
veículos novos de passeio no
país, o consumo de álcool disparou. Até setembro, as vendas
do combustível cresceram 27%
no ano. Por mês, são 1,45 bilhão
de litros. Já a de gasolina está
em queda de 1% neste ano, na
faixa de 2 bilhões de litros/mês.
O álcool misturado à gasolina
difere do produto vendido nas
bombas por não ter adição de
água e é conhecido como álcool
anidro. Aquele utilizado para
abastecer carros tem 7% de
água em sua composição, chamado álcool hidratado.
Se o governo decidir pela redução de álcool anidro na gasolina para 20%, a oferta mensal
de álcool aumentará em 107
milhões de litros, ou cerca de
7% das vendas atuais (considerando a transformação do produto anidro em hidratado).
A última vez em que o governo recorreu ao expediente foi
em 2006. Na época, especialistas apontavam que, com os preços do açúcar em alta no mercado externo, produtores optaram por direcionar parte da
produção de cana para o açúcar. A decisão vigorou por nove
meses, quando o percentual foi
elevado para 23%. A medida
acabou revogada em meados de
2007, quando se passou a usar o
percentual de 25% de novo.
"Neste ano, o motivo alegado
pelos produtores foi o excesso
de chuva, que prejudicou a produção de cana-de-açúcar", disse Lima.
Ele afirmou que a possibilidade de formação de estoques
reguladores de álcool não é
considerada. A alternativa foi
discutida em 2006: o governo
criaria reservatórios para o
produto, que poderia ser usado
quando a oferta caísse, elevando seu preço. "Os estudos mostraram que essa medida seria
muito cara", diz Lima.
Marcos Jank, presidente da
Unica (entidade que reúne os
produtores de cana-de-açúcar),
esteve em Brasília para tentar
convencer o governo a esperar
até dezembro para avaliar melhor a safra.
Para Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da entidade, não adianta o governo
tentar reduzir o percentual da
mistura. Ele avalia que o preço
ainda vai subir mais e o ajuste
vai acontecer quando o consumidor avaliar que o preço do álcool está muito alto. "O ajuste
vai ser via mercado", disse.
De acordo com Rodrigues,
houve frustração da safra, e a
produção de álcool e açúcar será menor do que a esperada,
apesar do aumento da quantidade de cana colhida.
Desvantagem
Para saber se é mais vantajoso abastecer com álcool ou gasolina, o consumidor deve dividir o preço do litro do álcool pelo da gasolina. Se o resultado
for superior a 0,7, é melhor
abastecer com gasolina. A conta considera o potencial de
energia liberada com a queima
dos dois combustíveis.
Colaborou HUMBERTO MEDINA, da Sucursal de Brasília
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