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SOCIAIS & CIA.
Fundo poderá atenuar poluição do pré-sal
Especialistas em sustentabilidade dizem que, com recursos, será possível explorar o petróleo sem elevar dano ambiental
Debate deve ser feito sem a urgência de calendários eleitorais, dizem analistas; para Palocci, governo não negligenciará fontes limpas
ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Há soluções possíveis para o
dilema entre desenvolvimento
sustentável e a exploração de
petróleo na camada pré-sal,
mas elas devem ser debatidas e
trabalhadas sem a urgência de
calendários eleitorais ou de interesses privados.
Esse é o resumo do debate
travado entre especialistas em
energia e sustentabilidade e o
relator do projeto de lei que
cria o Fundo Social do Pré-Sal,
deputado federal Antonio Palocci (PT-SP), promovido pelo
Instituto Ethos.
A exploração de uma fonte
fóssil e altamente poluidora no
momento em que o mundo, por
razões climáticas, entra numa
grande corrida por fontes limpas de energia (como a biomassa e a hidrelétrica) é a principal
causa do dilema sustentável
envolvendo o pré-sal. E vem gerando acalorados debates entre
economistas, ambientalistas e
políticos desde o anúncio da
descoberta das reservas, em
novembro do ano passado.
"Não se pode fechar os olhos
para tamanha riqueza, mas a
exploração incorreta de tais recursos pode gerar uma grande
decepção, talvez irreversível,
pois seus problemas ambientais são simplesmente desconhecidos", alertou no debate o
físico José Goldemberg.
Representando a visão do governo, o deputado Antonio Palocci disse que o Fundo Social
será uma das respostas mais
importantes do projeto do pré-sal para esse dilema, uma vez
que "parte importante" de seus
recursos será destinada para
fins de adaptação e mitigação
das mudanças climáticas, o que
inclui investimentos em pesquisa e tecnologia de fontes
limpas de energia.
"Muita gente anda preocupada com o fato de que o pré-sal
tire o foco do Brasil das energias limpas, que são uma tendência mundial. Não concordo
com isso. Nossas riquezas naturais, como a Amazônia, as hidrelétricas ou o etanol, são
mais importantes do que o pré-sal, inclusive em termos econômicos", disse Palocci.
No relatório do Fundo Social,
aprovado na semana passada
pela Comissão Especial da Câmara, ficou de fora a divisão dos
recursos por áreas, o que torna
impossível avaliar a dimensão
das verbas destinadas às questões climáticas. Segundo o relator, esses percentuais serão definidos a cada plano plurianual
do governo federal.
No debate, Palocci afirmou
que a exploração do pré-sal não
"poluirá" a matriz energética
brasileira, tampouco aumentará a emissão de gases do efeito
estufa no país, uma vez que praticamente todo o petróleo produzido nos campos do pré-sal
será exportado. Mas esqueceu
de considerar que o processo de
exploração do petróleo também gera emissões.
Para o economista José Eli
da Veiga, que se disse "tranquilizado" com o desenho do Fundo Social apresentado pelo deputado, a tramitação do projeto
de lei no Congresso também
exige atenção, uma vez que a
partilha dos recursos é alvo de
inúmeras emendas por parte
dos parlamentares.
Dificuldades
Palocci disse não acreditar
em dificuldades. "Na escolha
do que fazer com os recursos, a
questão da adaptação e mitigação às mudanças climáticas parece bem-vista no Congresso."
O economista Ignacy Sachs,
que também participou do debate, questionou o que poderá
ocorrer se, em razão do agravamento das questões climáticas,
surgirem restrições futuras cada vez mais rigorosas para a exploração de energias fósseis.
Para o deputado, além de as
previsões apontarem a utilização em escala mundial desse
produto ainda por muitos anos,
é preciso ter em mente que,
apesar do discurso sustentável
de vários países, a prática é diferente. "Veja, por exemplo, as
barreiras impostas ao etanol
brasileiro, um produto extremamente limpo, nos Estados
Unidos e na Europa."
Ao final do evento, Goldemberg concluiu que não há contradição intrínseca entre o pré-sal e o desenvolvimento sustentável, desde que a exploração seja feita com cuidado. "Tenho grande preocupação ao ver
a sede ao pote de alguns setores
da sociedade em relação ao pré-sal, inclusive entre políticos. Se
isso for feito em ritmo acelerado, poderemos ter graves problemas ambientais, que até
agora são desconhecidos."
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