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JUROS
Presidente do banco diz que compromisso da instituição é com metas de inflação e que política monetária é exclusiva do Copom
Meirelles diz que BC não será "precipitado"
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, mandou um
recado ao mercado, a setores empresariais e a membros do governo. Em discurso, disse que "o BC
tem compromisso com metas de
inflação e não com taxas de juros". E que não pode haver "açodamento" (precipitação) na condução da política monetária.
"A obtenção de taxas sustentáveis de crescimento, compatíveis
com as necessidades do país, depende, em última análise, de continuarmos a consolidar o que já
estamos conquistando", afirmou
o presidente do BC. "Não há atalhos nesse processo", completou,
na abertura de seminário da Febraban (Federação Brasileira dos
Bancos).
De acordo com o presidente do
BC, "a experiência mostra que o
custo do açodamento na condução da política monetária costuma ser elevado", em clara referência a descontrole da inflação.
As declarações ocorrem em um
período em que integrantes do
governo Lula e da própria equipe
do BC dão declarações acerca da
redução dos juros ou especulam
sobre a chamada "taxa de juros de
equilíbrio" (juros que permitem o
crescimento sem o retorno da inflação). De setores empresariais,
como a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),
partem reivindicações para uma
taxa de juros reais de 4% a 8%.
De todas, a mais assertiva declaração foi dada pelo ministro José
Dirceu (Casa Civil). Na semana
passada, Dirceu afirmou que os
juros "vão cair em dezembro". A
próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do
BC, ao qual cabe a decisão sobre
os juros, ocorre na terça e quarta-feiras da próxima semana.
Anteontem, o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, considerou
como "muito razoável" um patamar de juros reais de 6% a 8%.
Detalhe: foi Dirceu o primeiro a
afirmar que o governo trabalha
para ter em "breve" juro real (descontada a inflação) nesse nível.
Também anteontem, em Londres, o diretor da Área Internacional do BC, Alexandre Schwartsman, declarou que o único jeito
de descobrir qual a taxa de equilíbrio "é ir testando". "Pode ser 8%
[como estima Dirceu] ou 9% ao
ano", comentou. Schwartsman é
subordinado direto de Meirelles.
Sem metas
Ao ler o pronunciamento ontem, o presidente do BC acrescentou um comentário que não constava na cópia do discurso entregue aos jornalistas. Disse: "É parte
do debate que as pessoas possam
expressar seus desejos e suas previsões". E prosseguiu com o texto
original: "Não temos, nem poderíamos ter, metas para a taxas de
juros, seja ela real ou nominal.
Nosso compromisso é com as
metas de inflação", afirmou.
Questionado, em rápida entrevista, se sua citação a "açodamento" era destinada a membros do
governo ou a algum setor, o presidente do BC reafirmou "que não
pode haver precipitação na política monetária. E a política monetária é exclusividade do Copom".
Foi enfático quando questionado sobre a possibilidade de o governo pressionar o BC para intensificar a velocidade no corte dos
juros, por conta do resultado negativo de setores como a indústria
(a produção caiu 0,5% em outubro). "O próprio presidente Lula
já esclareceu, por meio de nota,
que essa [a definição dos juros] é
uma responsabilidade exclusiva
do Copom."
A CNI (Confederação Nacional
da Indústria) chegou a divulgar
nota informando que, diante desse resultado do setor, o ideal seria
o Copom anunciar um corte de
até dois pontos percentuais.
Ao comentar, no discurso, a
atuação do BC e os efeitos da política monetária sobre a atividade
econômica e a inflação, Meirelles
lembrou que, desde junho, a taxa
de juros já foi reduzida em nove
pontos percentuais (de 26,5% ao
ano para 17,5%).
"Essa redução foi acompanhada de queda nas taxas de juros
reais de mercado, cujos efeitos em
grande parte ainda não se fizeram
sentir [na economia]", disse. "Temos plena certeza de que essa
queda dos juros reais é compatível com a sustentação, nos próximos meses, da recuperação da atividade econômica", completou.
"Precificado"
Para Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco (e que
acompanhou o discurso de Meirelles), o Copom, em sua última
reunião do ano, fará um corte de
1,5 ponto percentual nos juros. "O
mercado já precifica isso. Ou nós
terminamos o ano com 16% ou
com 16,5%. Pessoalmente, estou
mais propenso a imaginar que vamos ter redução de 1,5 ponto."
Segundo Barros, dois fatores colaboram para esse corte: a inflação sob controle e o ainda reduzido nível de consumo (o que não
permitiria inflação de demanda).
"Embora os efeitos das quedas
dos juros não tenham sido sentidos, há espaço para o corte de pelo menos um ponto", disse o ex-presidente do BC Gustavo Loyola.
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