UOL


São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUROS

Presidente do banco diz que compromisso da instituição é com metas de inflação e que política monetária é exclusiva do Copom

Meirelles diz que BC não será "precipitado"

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mandou um recado ao mercado, a setores empresariais e a membros do governo. Em discurso, disse que "o BC tem compromisso com metas de inflação e não com taxas de juros". E que não pode haver "açodamento" (precipitação) na condução da política monetária.
"A obtenção de taxas sustentáveis de crescimento, compatíveis com as necessidades do país, depende, em última análise, de continuarmos a consolidar o que já estamos conquistando", afirmou o presidente do BC. "Não há atalhos nesse processo", completou, na abertura de seminário da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos).
De acordo com o presidente do BC, "a experiência mostra que o custo do açodamento na condução da política monetária costuma ser elevado", em clara referência a descontrole da inflação.
As declarações ocorrem em um período em que integrantes do governo Lula e da própria equipe do BC dão declarações acerca da redução dos juros ou especulam sobre a chamada "taxa de juros de equilíbrio" (juros que permitem o crescimento sem o retorno da inflação). De setores empresariais, como a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), partem reivindicações para uma taxa de juros reais de 4% a 8%.
De todas, a mais assertiva declaração foi dada pelo ministro José Dirceu (Casa Civil). Na semana passada, Dirceu afirmou que os juros "vão cair em dezembro". A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, ao qual cabe a decisão sobre os juros, ocorre na terça e quarta-feiras da próxima semana.
Anteontem, o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, considerou como "muito razoável" um patamar de juros reais de 6% a 8%. Detalhe: foi Dirceu o primeiro a afirmar que o governo trabalha para ter em "breve" juro real (descontada a inflação) nesse nível.
Também anteontem, em Londres, o diretor da Área Internacional do BC, Alexandre Schwartsman, declarou que o único jeito de descobrir qual a taxa de equilíbrio "é ir testando". "Pode ser 8% [como estima Dirceu] ou 9% ao ano", comentou. Schwartsman é subordinado direto de Meirelles.

Sem metas
Ao ler o pronunciamento ontem, o presidente do BC acrescentou um comentário que não constava na cópia do discurso entregue aos jornalistas. Disse: "É parte do debate que as pessoas possam expressar seus desejos e suas previsões". E prosseguiu com o texto original: "Não temos, nem poderíamos ter, metas para a taxas de juros, seja ela real ou nominal. Nosso compromisso é com as metas de inflação", afirmou.
Questionado, em rápida entrevista, se sua citação a "açodamento" era destinada a membros do governo ou a algum setor, o presidente do BC reafirmou "que não pode haver precipitação na política monetária. E a política monetária é exclusividade do Copom".
Foi enfático quando questionado sobre a possibilidade de o governo pressionar o BC para intensificar a velocidade no corte dos juros, por conta do resultado negativo de setores como a indústria (a produção caiu 0,5% em outubro). "O próprio presidente Lula já esclareceu, por meio de nota, que essa [a definição dos juros] é uma responsabilidade exclusiva do Copom."
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) chegou a divulgar nota informando que, diante desse resultado do setor, o ideal seria o Copom anunciar um corte de até dois pontos percentuais.
Ao comentar, no discurso, a atuação do BC e os efeitos da política monetária sobre a atividade econômica e a inflação, Meirelles lembrou que, desde junho, a taxa de juros já foi reduzida em nove pontos percentuais (de 26,5% ao ano para 17,5%).
"Essa redução foi acompanhada de queda nas taxas de juros reais de mercado, cujos efeitos em grande parte ainda não se fizeram sentir [na economia]", disse. "Temos plena certeza de que essa queda dos juros reais é compatível com a sustentação, nos próximos meses, da recuperação da atividade econômica", completou.

"Precificado"
Para Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco (e que acompanhou o discurso de Meirelles), o Copom, em sua última reunião do ano, fará um corte de 1,5 ponto percentual nos juros. "O mercado já precifica isso. Ou nós terminamos o ano com 16% ou com 16,5%. Pessoalmente, estou mais propenso a imaginar que vamos ter redução de 1,5 ponto."
Segundo Barros, dois fatores colaboram para esse corte: a inflação sob controle e o ainda reduzido nível de consumo (o que não permitiria inflação de demanda).
"Embora os efeitos das quedas dos juros não tenham sido sentidos, há espaço para o corte de pelo menos um ponto", disse o ex-presidente do BC Gustavo Loyola.


Texto Anterior: Investimento: Banco Mundial prevê US$ 7,5 bilhões ao Brasil
Próximo Texto: Nos EUA, Federal Reserve mantém juros em 1% e já não teme deflação
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.