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São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

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CONCENTRAÇÃO

À luz de "tendência nacionalista" do governo, presidentes das duas empresas dizem que negociação é necessária

Usiminas e CSN estudam fusão na siderurgia

Antônio Gaudério - 11.mai.00/Folha Imagem
Fábrica da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) em Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro


PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM IPATINGA (MG)

Em meio às transformações pelas quais passa a siderurgia no mundo, duas das principais empresas brasileiras do setor, a Usiminas e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), já falam abertamente em fusões.
Esse deve ser o tema que vai contaminar o setor no próximo ano, alimentado pela "tendência nacionalista" do governo federal comandado pelo PT, de acordo com o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares.
Ele vê a fusão como uma "necessidade". Foi o primeiro industrial brasileiro do setor a fazer tal defesa -no ano passado, com o fracasso do negócio entre a CSN e a anglo-holandesa Corus, Soares disse que a associação entre a Usiminas e a CSN se tornaria viável. Mas, até então, estava só. Ontem, na fábrica da Usiminas, em Ipatinga (MG), Benjamin Steinbruch, o presidente da CSN, admitiu que o setor tem "interesse" nessa questão.
"Estamos discutindo isso. Interesse nós temos. Está no começo, ainda, não é fácil. É bastante difícil e complexa a operação. São grupos societários completamente distintos, mas acho que temos de ter boa vontade. A gente tem que tentar viabilizar uma siderurgia brasileira forte", afirmou.
Mas há divergências entre Usiminas e CSN nessa questão. Se para Soares isso é uma necessidade urgente, para Steinbruch "não é uma coisa imprescindível nem uma coisa de vida ou morte". Ou seja, é importante a discussão, mas usando o tempo necessário para achar o bom termo.
"Se for bem-feito e funcionar, realmente ajuda bastante. É complexo, não é fácil e vai demorar um pouquinho", afirmou Steinbruch.
O presidente da Usiminas disse que esse processo já está se espalhando rapidamente pelo mundo e que essas transformações criarão "desafios e oportunidades", não podendo o Brasil ficar fora ou atrasado em relação a isso.
A fusão implica principalmente a conquista de novos mercados. E também a obtenção de ganhos tecnológicos, com capacidade de agregar maior valor aos produtos, o que melhoraria consideravelmente os rendimentos das empresas brasileiras.
Soares citou exemplos de consolidações que estão ocorrendo no Japão, na França e no complexo exportador da Rússia e da Ucrânia, que está avançando. "O Brasil tem que reagir a isso. Essa tendência já chegou", disse ele, que aponta três caminhos para as empresas brasileiras: combater essa tendência, não fazer nada -"o que é muito pior"- ou trabalhar para que isso ocorra de forma favorável ao setor brasileiro.
Dados da World Steel Dynamics, até 2000, mostram que a produção mundial do aço cresce nos países emergentes. Em 1970, 15% da produção era controlada por países em desenvolvimento, contra 85% pelos desenvolvidos. Há três anos, os emergentes produziam 37% do aço mundial. E as estimativas para 2010 indicam que 58% da produção do aço estará com os emergentes.
Como Estados Unidos e França, segundo Soares, estão, aos poucos, reduzindo a produção de aço, os emergentes terão que estar bem capacitados para conquistar esses mercados.
"A indústria do aço está passando por uma transformação importante. Está havendo fusões regionais. Temos que nos consolidar aqui para vender lá [no exterior]", disse o presidente da Usiminas, empresa que, em 1999, incorporou a Cosipa.

O jornalista Paulo Peixoto viajou a Ipatinga a convite da Usiminas


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