São Paulo, segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

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Analistas temem efeitos de plano de Bush

Especialistas acreditam que congelamento de juros possa afetar mercado de títulos lastreados em créditos imobiliários de alto risco

Medida anunciada pelo governo dos EUA visa facilitar pagamento de prestações e evitar execução de hipotecas

DA BLOOMBERG

O plano do presidente dos EUA, George W. Bush, de congelar os juros em alguns créditos imobiliários de alto risco ("subprime") pode acabar sendo uma cura que dá origem a outra doença. Analistas temem que a medida possa forçar os investidores no mercado de bônus lastreados em contratos de crédito imobiliário de moradias a reavaliar as suas carteiras. Esse mercado, de US$ 6,3 trilhões, foi criado com um fundo comum de empréstimos com pagamento de juros para os investidores.
"Se o governo interferir e mudar contratos, isso definitivamente terá o efeito de esfriar a securitização dos contratos de crédito imobiliário", disse Milton Ezrati, economista-sênior e estrategista de mercado da Lord Abbett & Co., que supervisiona US$ 120 bilhões em ativos. "Quando o governo intervém e diz que você fechou um contrato para fazer um determinado acordo, mas já não pode ter esse acordo, acho que isso dá margem a processos na Justiça."
Bush e o secretário do Tesouro, Henry Paulson, anunciaram na semana passada acordo com as instituições que concedem crédito para congelar as taxas em alguns empréstimos "subprime" por cinco anos. Nesse mercado, as taxas de juros iniciais da hipoteca são menores -como uma forma de atrair mais usuários- e aumentam durante o restante do contrato.
"A medida poderia causar a redução da confiança na viabilidade de avanço dos mercados de bônus e de crédito imobiliário e levar ao aumento dos juros e das taxas que reajustam os contratos de crédito imobiliário para todos", disse Kenneth Hackel, diretor-gerente de estratégia de renda fixa da RBS Greenwich Capital Markets.
Hackel disse que vem "recebendo muitos telefonemas" de clientes "batendo os punhos na mesa e fazendo barulho".
O American Securitization Forum, grupo do setor de crédito imobiliário que colaborou com os reguladores na elaboração do plano, disse que ele tem como objetivo trabalhar com os contratos existentes. Como parte de um contrato típico de bônus, as empresas de crédito terão que modificar os empréstimos apenas nos casos em que essa operação gerar mais retorno para os detentores de bônus do que uma execução de hipoteca, com arresto do imóvel. Os acordos também estabelecem que os empréstimos não podem ser modificados a não ser que a inadimplência seja "razoavelmente previsível".
As instituições estariam agindo no interesse dos investidores em bônus porque a execução causaria perdas maiores, disse em nota o American Securitization Forum.
"Não é justo, mas é provavelmente a melhor solução tanto para os que estão fazendo os pagamentos como para os que não podem arcar com aumentos nas prestações", disse Andrew Harding, diretor de investimentos de renda fixa da Allegiant Asset Management, que administra US$ 18 bilhões.

Prejuízo bilionário
A redução do valor das hipotecas e empréstimos alavancados já causou perdas de US$ 66 bilhões aos bancos no mundo. O Goldman Sachs estimou no mês passado que as perdas no mercado de crédito imobiliário em todo o mundo possam chegar a US$ 726 bilhões.
As execuções de hipotecas com arresto do imóvel quase dobraram em outubro em relação ao mesmo mês de 2006, em grande parte porque os tomadores com históricos de crédito precários não conseguiram manter os pagamentos depois de aumentos.


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