São Paulo, segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

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Analista vê ameaça a favorito no Madeira

Para especialista, deságio pode tirar do páreo consórcio da Odebrecht, pois construtora teria mais interesse na obra do que na energia

Três consórcios disputam leilão da hidrelétrica de Santo Antônio, previsto para hoje; previsão é que geração se inicie em 2012

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os participantes dos consórcios Madeira Energia, Energia Sustentável do Brasil e Ceisa, que disputarão o leilão da hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira (RO), previsto para hoje, passaram a última semana fechados em reuniões, em locais desconhecidos.
Em pauta, as contas finais que poderão levar à conquista da maior licitação na área de energia em curso no mundo: as usinas que produzirão 3.150 MW (megawatts) a partir de 2012 e poderão requerer investimentos de R$ 9,5 bilhões.
Mesmo com liminares em julgamento, que poderiam impedir o leilão, a tensão em cima dos números finais se deu porque levará a concessão o consórcio que oferecer o maior deságio em relação aos R$ 122 o MWh (megawatt-hora), estabelecidos pelo governo.
Como esse valor diz respeito a 70% da energia produzida, que será vendida para o mercado cativo, os consórcios têm os 30% restantes para recuperar o desconto oferecido no leilão. Esses 30% serão comercializados no mercado livre, no qual o preço cobrado pela energia oscila em função da demanda.
"Como o valor da energia negociada no mercado livre tem ficado em torno de R$ 140 a R$ 150 o MWh, poderá haver um deságio considerável", diz Nivalde de Castro, coordenador do Gesel (Grupo de Estudos do Setor Elétrico), da UFRJ.
Para ele, são exatamente essas contas finais que poderão tirar do páreo o favorito Madeira Energia, formado por Odebrecht, Andrade Gutierrez, Cemig, Furnas e Banif/Santander.
"A Odebrecht passou seis anos trabalhando em cima desse projeto, que conhece com profundidade e em detalhes como nenhum outro consórcio", afirma Castro. "Só que a líder do consórcio é a construtora, que tem mais interesse na obra do que na geração de energia propriamente dita. É a chamada "armadilha das empresas de construção", que ajudou a inviabilizar a participação do consórcio da Eletronorte."
Segundo ele, ao querer manter para si o lucro da obra, em vez de dividir com participantes do consórcio e, com isso, aumentar o deságio, a construtora poderá inviabilizar a proposta do Madeira Energia. Tal hipótese não aconteceria no consórcio da Ceisa (Camargo Corrêa, Chesf, CPFL Energia e Endesa). Isso porque as participações de Endesa e Chesf, empresas da área de energia, superam os 50%, o que eliminaria os efeitos da "armadilha da empresa de construção".
Além disso, aponta um dos participantes, o consórcio tem a seu favor o fato de a Endesa poder pleitear vantagens tributárias e benefícios fiscais do governo espanhol e conseguir um diferencial competitivo.
Já o consórcio Energia Sustentável, formado por Eletrosul e Suez, poderá contar com dinheiro mais barato, captado no exterior. "A Suez é grande e deverá buscar empréstimos com taxas de juros menores e prazos maiores", diz Castro.
Para Célio Bermann, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, os recursos públicos, por meio de financiamentos do BNDES, serão fundamentais para o sucesso do leilão. "Esse leilão é um marco para o modelo do setor, já que será o primeiro empreendimento desse porte a contar com a participação da iniciativa privada", diz Bermann. "Como os riscos são muito grandes, sem a garantia do BNDES poderia não haver interessados."
Entre os riscos, Bermann cita o fato de não haver um número definido de famílias com direito a indenização por parte do vencedor. A área no entorno da usina tem sido ocupada por pessoas em busca de possíveis indenizações das áreas a serem inundadas.


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