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Analista vê ameaça a favorito no Madeira
Para especialista, deságio pode tirar do páreo consórcio da Odebrecht, pois construtora teria mais interesse na obra do que na energia
Três consórcios disputam
leilão da hidrelétrica de
Santo Antônio, previsto
para hoje; previsão é que
geração se inicie em 2012
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os participantes dos consórcios Madeira Energia, Energia
Sustentável do Brasil e Ceisa,
que disputarão o leilão da hidrelétrica de Santo Antônio, no
rio Madeira (RO), previsto para
hoje, passaram a última semana fechados em reuniões, em
locais desconhecidos.
Em pauta, as contas finais
que poderão levar à conquista
da maior licitação na área de
energia em curso no mundo: as
usinas que produzirão 3.150
MW (megawatts) a partir de
2012 e poderão requerer investimentos de R$ 9,5 bilhões.
Mesmo com liminares em
julgamento, que poderiam impedir o leilão, a tensão em cima
dos números finais se deu porque levará a concessão o consórcio que oferecer o maior deságio em relação aos R$ 122 o
MWh (megawatt-hora), estabelecidos pelo governo.
Como esse valor diz respeito
a 70% da energia produzida,
que será vendida para o mercado cativo, os consórcios têm os
30% restantes para recuperar o
desconto oferecido no leilão.
Esses 30% serão comercializados no mercado livre, no qual o
preço cobrado pela energia oscila em função da demanda.
"Como o valor da energia negociada no mercado livre tem
ficado em torno de R$ 140 a R$
150 o MWh, poderá haver um
deságio considerável", diz Nivalde de Castro, coordenador
do Gesel (Grupo de Estudos do
Setor Elétrico), da UFRJ.
Para ele, são exatamente essas contas finais que poderão
tirar do páreo o favorito Madeira Energia, formado por Odebrecht, Andrade Gutierrez, Cemig, Furnas e Banif/Santander.
"A Odebrecht passou seis
anos trabalhando em cima desse projeto, que conhece com
profundidade e em detalhes como nenhum outro consórcio",
afirma Castro. "Só que a líder
do consórcio é a construtora,
que tem mais interesse na obra
do que na geração de energia
propriamente dita. É a chamada "armadilha das empresas de
construção", que ajudou a inviabilizar a participação do
consórcio da Eletronorte."
Segundo ele, ao querer manter para si o lucro da obra, em
vez de dividir com participantes do consórcio e, com isso, aumentar o deságio, a construtora
poderá inviabilizar a proposta
do Madeira Energia. Tal hipótese não aconteceria no consórcio da Ceisa (Camargo Corrêa, Chesf, CPFL Energia e Endesa). Isso porque as participações de Endesa e Chesf, empresas da área de energia, superam
os 50%, o que eliminaria os
efeitos da "armadilha da empresa de construção".
Além disso, aponta um dos
participantes, o consórcio tem
a seu favor o fato de a Endesa
poder pleitear vantagens tributárias e benefícios fiscais do governo espanhol e conseguir um
diferencial competitivo.
Já o consórcio Energia Sustentável, formado por Eletrosul e Suez, poderá contar com
dinheiro mais barato, captado
no exterior. "A Suez é grande e
deverá buscar empréstimos
com taxas de juros menores e
prazos maiores", diz Castro.
Para Célio Bermann, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, os recursos públicos, por meio de financiamentos do BNDES, serão fundamentais para o sucesso do leilão. "Esse leilão é um marco para o modelo do setor, já que será
o primeiro empreendimento
desse porte a contar com a participação da iniciativa privada",
diz Bermann. "Como os riscos
são muito grandes, sem a garantia do BNDES poderia não
haver interessados."
Entre os riscos, Bermann cita
o fato de não haver um número
definido de famílias com direito a indenização por parte do
vencedor. A área no entorno da
usina tem sido ocupada por
pessoas em busca de possíveis
indenizações das áreas a serem
inundadas.
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