São Paulo, segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

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Governo não espera mais fábrica de semicondutores

Unidade foi justificativa para padrão japonês de TV

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A principal justificativa para a escolha do padrão japonês de TV digital, em detrimento do norte-americano e do europeu, não existe. Alardeada pelo governo federal como contrapartida à escolha da tecnologia japonesa, a instalação de uma fábrica de semicondutores no Brasil não está mais no horizonte do próprio governo, segundo a Folha apurou.
A escolha do padrão tecnológico para a modulação (sistema de transmissão) da TV digital foi precedida por uma guerra de lobbies norte-americanos, europeus e japoneses ao longo do primeiro semestre do ano passado. Por trás de cada lobby estavam os interesses das grandes indústrias eletroeletrônicas de cada país ou região.
Ao final, a grande cartada do governo para a escolha do modelo japonês -preferido pelas grandes emissoras de TV- foi a suposta instalação da fábrica de semicondutores no país.
Os japoneses nunca prometeram a fábrica -foi o governo que sempre vendeu a idéia de que isso aconteceria se o padrão japonês fosse escolhido. Semicondutores são componentes básicos da indústria de eletroeletrônicos, que controlam o funcionamento de qualquer equipamento.
No dia do anúncio da escolha do padrão japonês, em junho de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mencionou a fábrica. Disse que o Brasil procurou o Japão porque "precisava ter uma indústria de semicondutores". Mencionando o acordo, disse que haveria cooperação para "elaboração de um plano estratégico para a implantação no Brasil da indústria de semicondutores".
Dentro da área técnica do governo, segundo a Folha apurou, já não há essa expectativa, nem no médio prazo. Oficialmente, o Ministério das Comunicações afirma que a fábrica poderá ser construída quando o mercado brasileiro tiver escala. O Ministério do Desenvolvimento informa não conhecer tratativas nesse sentido.
"Não temos planos específicos neste momento, mas não podemos predizer o futuro", disse Takayuki Sumita, diretor da Divisão de Informação e Comunicação Eletrônica do Departamento da Política de Comércio e Informações do Ministério da Economia, Indústria e Comércio do Japão.
"São necessários muitos pré-requisitos para a instalação da fábrica. É preciso mão-de-obra qualificada, é preciso a garantia de uma cadeia de fornecedores de insumos, entre outras condições", afirmou Sumita. "Vai levar algum tempo até alguma empresa japonesa decidir construir uma fábrica."
Havia ainda um financiamento de banco japonês (JBIC), sem valor definido, com promessa de cobrir "toda a demanda", abertura da tecnologia do conversor para produção, incorporação das inovações feitas por instituições brasileiras, assento no conselho que define os rumos tecnológicos do padrão e isenção para pagamento de royalties.
As vantagens também estavam nas propostas feitas pelos europeus e pelos americanos.
Outra vantagem na argumentação defendida pelas principais emissoras de TV e pelo Ministério das Comunicações era a capacidade técnica mais aprimorada para TV de alta definição, mobilidade, portabilidade e interatividade.
Para Pedro Alem, da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), há outras alternativas de cooperação com os japoneses. "Existe uma série de iniciativas em andamento na área de transferência de tecnologia, cooperação e treinamento de pessoal."


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