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Governo não espera mais fábrica de semicondutores
Unidade foi justificativa para padrão japonês de TV
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A principal justificativa para
a escolha do padrão japonês de
TV digital, em detrimento do
norte-americano e do europeu,
não existe. Alardeada pelo governo federal como contrapartida à escolha da tecnologia japonesa, a instalação de uma fábrica de semicondutores no
Brasil não está mais no horizonte do próprio governo, segundo a Folha apurou.
A escolha do padrão tecnológico para a modulação (sistema
de transmissão) da TV digital
foi precedida por uma guerra
de lobbies norte-americanos,
europeus e japoneses ao longo
do primeiro semestre do ano
passado. Por trás de cada lobby
estavam os interesses das grandes indústrias eletroeletrônicas de cada país ou região.
Ao final, a grande cartada do
governo para a escolha do modelo japonês -preferido pelas
grandes emissoras de TV- foi a
suposta instalação da fábrica
de semicondutores no país.
Os japoneses nunca prometeram a fábrica -foi o governo
que sempre vendeu a idéia de
que isso aconteceria se o padrão japonês fosse escolhido.
Semicondutores são componentes básicos da indústria de
eletroeletrônicos, que controlam o funcionamento de qualquer equipamento.
No dia do anúncio da escolha
do padrão japonês, em junho
de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mencionou a
fábrica. Disse que o Brasil procurou o Japão porque "precisava ter uma indústria de semicondutores". Mencionando o
acordo, disse que haveria cooperação para "elaboração de
um plano estratégico para a
implantação no Brasil da indústria de semicondutores".
Dentro da área técnica do governo, segundo a Folha apurou, já não há essa expectativa,
nem no médio prazo. Oficialmente, o Ministério das Comunicações afirma que a fábrica
poderá ser construída quando
o mercado brasileiro tiver escala. O Ministério do Desenvolvimento informa não conhecer
tratativas nesse sentido.
"Não temos planos específicos neste momento, mas não
podemos predizer o futuro",
disse Takayuki Sumita, diretor
da Divisão de Informação e Comunicação Eletrônica do Departamento da Política de Comércio e Informações do Ministério da Economia, Indústria e Comércio do Japão.
"São necessários muitos pré-requisitos para a instalação da
fábrica. É preciso mão-de-obra
qualificada, é preciso a garantia
de uma cadeia de fornecedores
de insumos, entre outras condições", afirmou Sumita. "Vai
levar algum tempo até alguma
empresa japonesa decidir
construir uma fábrica."
Havia ainda um financiamento de banco japonês
(JBIC), sem valor definido,
com promessa de cobrir "toda
a demanda", abertura da tecnologia do conversor para produção, incorporação das inovações feitas por instituições brasileiras, assento no conselho
que define os rumos tecnológicos do padrão e isenção para
pagamento de royalties.
As vantagens também estavam nas propostas feitas pelos
europeus e pelos americanos.
Outra vantagem na argumentação defendida pelas
principais emissoras de TV e
pelo Ministério das Comunicações era a capacidade técnica
mais aprimorada para TV de
alta definição, mobilidade, portabilidade e interatividade.
Para Pedro Alem, da ABDI
(Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), há outras alternativas de cooperação
com os japoneses. "Existe uma
série de iniciativas em andamento na área de transferência
de tecnologia, cooperação e
treinamento de pessoal."
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