São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

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Brasil deveria economizar, afirma assessor de Obama

Karime Xavier/Folha Imagem
Richard Thaler, professor da Universidade de Chicago

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Conselheiro informal do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, o professor de economia comportamental da Universidade de Chicago Richard Thaler diz que é melhor para o Brasil crescer menos, mas sem que a população tome crédito exageradamente, do que copiar o exemplo do seu país, onde o endividamento excessivo levou à atual crise. Como parte do projeto "The Global Leadership Series" (Série de Liderança Global), iniciativa da universidade e da consultoria MindQuest, Thaler realiza palestra hoje à noite na Livraria Cultura, em São Paulo, para lançar o livro "Nudge: O Empurrão para a Escolha Certa" (Editora Campus).

 

FOLHA - Que tipo de medida o governo pode tomar para deixar a sociedade mais confiante nestes tempos turbulentos?
RICHARD THALER
- O poder público pode influenciar a maneira como as pessoas sentem a economia, porém há um limite. Nos EUA, neste momento, os números são tão ruins que nenhum discurso otimista vai ajudar. A reação para esta crise não tem sido de pânico, e sim de um medo racional de forte queda na atividade.

FOLHA - A decisão racional dos consumidores de comprar menos e das empresas de segurar investimentos pode fazer a crise piorar. É possível administrar essa cautela?
THALER
- Os EUA entraram nesse problema por tomarem crédito demais: o governo, os mutuários que contraíram hipotecas que não podiam bancar, os investidores que, com dinheiro emprestado, compraram papéis lastreados nessas hipotecas. Não sugeriria que os brasileiros fizessem o mesmo.

FOLHA - Mas os especialistas sempre disseram que um dos problemas do país é justamente o baixo consumo e o pequeno uso de crédito.
THALER
- Mantenham-se assim [risos]. É verdade que os EUA cresceram mais rápido porque tomaram financiamentos, porém assumiram muitos riscos. Para mim, um crescimento de 6,8% [do Produto Interno Bruto brasileiro] é bastante, e, se vocês conseguiram essa taxa sem o superendividamento, sigam nesse caminho.

FOLHA - O que o senhor sugere para o consumidor comum?
THALER
- Aumentar a sua poupança, porque, se a crise chegar, será preciso atravessá-la.

FOLHA - Como a economia vai continuar bem se ninguém comprar?
THALER
- Ela pode apenas se desacelerar. Acho que a economia sobrevive com um pouco de frugalidade. O Brasil vai ser a inveja do mundo em 2009 se se desacelerar para 2,5% ou 3%.

FOLHA - Reduzir os juros também contribui?
THALER
- Sei que vai soar meio bobo, mas o problema com a inflação não desapareceu. Os preços das commodities caíram rapidamente assim como foram inflados, e não está claro qual é o preço correto de acordo com os fundamentos.


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