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Ajuda a montadoras emperra nos EUA
Fantasma de "nacionalização" e desacordos sobre a reestruturação seguram a aprovação de socorro pelo Congresso
Bernanke se opõe a empréstimo direto ao setor e sugere concordata e fusões de empresas socorridas pelo governo
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Negociações entre a Casa
Branca e o Congresso dos EUA
sobre um socorro de US$ 15 bilhões às três gigantes da indústria automotiva -GM, Chrysler
e Ford- emperraram em torno
de desacordos sobre restruturações de longo prazo e garantias contra acréscimos futuros
à ajuda governamental. No centro do impasse estão ainda críticas contra a percepção de "nacionalização" das empresas.
O presidente George W.
Bush e o Congresso já concordaram a princípio com a concessão de US$ 15 bilhões em
um empréstimo de curto prazo
principalmente para GM e
Chrysler. O dinheiro viria de
um fundo de apoio a inovações
tecnológicas, e o Departamento do Tesouro obteria garantias
para um equivalente em ações a
20% de qualquer empréstimo.
"Estamos fazendo progresso,
mas não temos nenhum anúncio [de acordo]", afirmou na
tarde de ontem a líder da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi.
Um dos pontos sob discussão
é o requerimento de que as três
montadoras notifiquem um
"czar" apontado pelo presidente antes de realizar transações
superiores a US$ 25 bilhões.
Outro desacordo é sobre a exigência de que abandonem processos contra Estados que querem elevar padrões mínimos
contra emissão de poluentes.
Mas o principal problema é o
que acontecerá com as montadoras após os US$ 15 bilhões serem gastos. Pela proposta inicial, elas estarão aptas a pedir
novos empréstimos se apresentarem até 31 de março um
plano de restruturação de longo prazo que comprove sua sustentabilidade. A Casa Branca e
congressistas republicanos, porém, querem aumentar as garantias exigidas das empresas
antes de permitir a liberação de
novos empréstimos.
"Não vai haver financiamento de longo prazo se [as montadoras] não provarem que podem sobreviver", disse a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino. "A proposta que vimos ontem não atinge nosso objetivo
de proporcionar viabilidade de
longo prazo para a indústria",
completou Mitch McConnell,
líder republicano no Senado.
Se concedido, o empréstimo
incomodará ainda ao Fed. O
presidente do BC dos EUA, Ben
Bernanke, enviou carta ao Senado dizendo ser contrário a
dar empréstimos a montadoras
e sugerindo a concordata como
alternativa. Bernanke também
disse que seria mais prudente o
Congresso analisar medidas
para além da ajuda direta, entre
as quais fusões de empresas assistidas pelo governo.
A discussão sobre o nível de
interferência que o "czar" do
presidente poderá ter na indústria automotiva também é alvo
de críticas, devido ao temor de
nacionalização de fato das empresas. A supervisão sugerida
pelo Congresso indica que o governo controlaria que tipo de
carros serão produzidos, quais
critérios ambientais e de eficiência de combustível serão
usados e que investimentos poderão fazer. Dependendo de
como a restruturação ocorrer,
Washington poderá também se
tornar um grande acionista das
três gigantes. E, com isso, Bush
se distanciará ainda mais da
cartilha básica seu governo (ao
menos antes da crise), de estimular a iniciativa privada com
o mínimo de intervenção.
Caso as modificações ao plano forem aprovadas nesta semana no Congresso, a GM e a
Chrysler poderão receber seus
cheques já no próximo dia 15. A
Ford afirmou que não precisa
de empréstimos de curto prazo
e prefere ter uma linha de crédito com o governo. As montadoras antes pediam US$ 34 bilhões em socorro.
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