São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

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Ajuda a montadoras emperra nos EUA

Fantasma de "nacionalização" e desacordos sobre a reestruturação seguram a aprovação de socorro pelo Congresso

Bernanke se opõe a empréstimo direto ao setor e sugere concordata e fusões de empresas socorridas pelo governo

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Negociações entre a Casa Branca e o Congresso dos EUA sobre um socorro de US$ 15 bilhões às três gigantes da indústria automotiva -GM, Chrysler e Ford- emperraram em torno de desacordos sobre restruturações de longo prazo e garantias contra acréscimos futuros à ajuda governamental. No centro do impasse estão ainda críticas contra a percepção de "nacionalização" das empresas.
O presidente George W. Bush e o Congresso já concordaram a princípio com a concessão de US$ 15 bilhões em um empréstimo de curto prazo principalmente para GM e Chrysler. O dinheiro viria de um fundo de apoio a inovações tecnológicas, e o Departamento do Tesouro obteria garantias para um equivalente em ações a 20% de qualquer empréstimo.
"Estamos fazendo progresso, mas não temos nenhum anúncio [de acordo]", afirmou na tarde de ontem a líder da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi.
Um dos pontos sob discussão é o requerimento de que as três montadoras notifiquem um "czar" apontado pelo presidente antes de realizar transações superiores a US$ 25 bilhões. Outro desacordo é sobre a exigência de que abandonem processos contra Estados que querem elevar padrões mínimos contra emissão de poluentes.
Mas o principal problema é o que acontecerá com as montadoras após os US$ 15 bilhões serem gastos. Pela proposta inicial, elas estarão aptas a pedir novos empréstimos se apresentarem até 31 de março um plano de restruturação de longo prazo que comprove sua sustentabilidade. A Casa Branca e congressistas republicanos, porém, querem aumentar as garantias exigidas das empresas antes de permitir a liberação de novos empréstimos.
"Não vai haver financiamento de longo prazo se [as montadoras] não provarem que podem sobreviver", disse a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino. "A proposta que vimos ontem não atinge nosso objetivo de proporcionar viabilidade de longo prazo para a indústria", completou Mitch McConnell, líder republicano no Senado.
Se concedido, o empréstimo incomodará ainda ao Fed. O presidente do BC dos EUA, Ben Bernanke, enviou carta ao Senado dizendo ser contrário a dar empréstimos a montadoras e sugerindo a concordata como alternativa. Bernanke também disse que seria mais prudente o Congresso analisar medidas para além da ajuda direta, entre as quais fusões de empresas assistidas pelo governo.
A discussão sobre o nível de interferência que o "czar" do presidente poderá ter na indústria automotiva também é alvo de críticas, devido ao temor de nacionalização de fato das empresas. A supervisão sugerida pelo Congresso indica que o governo controlaria que tipo de carros serão produzidos, quais critérios ambientais e de eficiência de combustível serão usados e que investimentos poderão fazer. Dependendo de como a restruturação ocorrer, Washington poderá também se tornar um grande acionista das três gigantes. E, com isso, Bush se distanciará ainda mais da cartilha básica seu governo (ao menos antes da crise), de estimular a iniciativa privada com o mínimo de intervenção.
Caso as modificações ao plano forem aprovadas nesta semana no Congresso, a GM e a Chrysler poderão receber seus cheques já no próximo dia 15. A Ford afirmou que não precisa de empréstimos de curto prazo e prefere ter uma linha de crédito com o governo. As montadoras antes pediam US$ 34 bilhões em socorro.


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