São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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Na contramão mundial, país eleva estímulo

Além do Brasil, só o Japão, entre grandes economias, anunciou recentemente medidas de incentivo, com pacote de US$ 81 bi

Para OCDE, Brasil deveria começar a enxugar medidas de apoio já no começo de 2010; Banco Mundial e FMI também pedem moderação

ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO

O pacote de medidas anunciado ontem pelo governo brasileiro ocorre num momento em que os principais organismos internacionais já discutem como e quando começar a desmontar os planos de estímulo trilionários adotados no mundo desde o ano passado. Mais: a OCDE recomendou que o Brasil comece a enxugar medidas já no começo do ano que vem.
Com a economia mundial apresentando sinais de recuperação, parte das discussões hoje está centrada em retirar a ajuda estatal. O temor é que, se isso ocorrer cedo demais ou com muita pressa, a economia possa desabar para uma nova recessão. Mas a adoção de mais estímulos não está no centro dos debates, especialmente em relação às economias emergentes, que dão mais sinais de força do que as nações ricas.
A posição mais contundente sobre o assunto é a do presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, que vem afirmando desde a metade do ano que não são necessários mais pacotes de estímulo. Além dos riscos de inflação, o dirigente vem afirmando de que as medidas tomadas pelos governos também podem criar bolhas de ativos.
Diz mais: as soluções adotadas recentemente para combater a crise atual poderão se tornar o problema em um futuro não muito distante. "Se houver bolhas de ativos que não forem atacadas corretamente, você pode novamente prejudicar a confiança em 2010, ano que é a minha principal preocupação."
Para Zoellick, os pacotes já adotados devem prosseguir até 2010 e as medidas para o desmonte desses planos devem ser coordenadas entre os países.
Já a OCDE (grupo que reúne 30 das maiores economias do planeta) afirma que a recuperação dos não membros da entidade -entre eles, o Brasil e a China- se tornou uma fonte de ajuda para os países ricos e que a "grande questão" em várias dessas economias é a retirada dos pacotes de estímulo para não gerar inflação.
"Uma política sensata de retirada dos estímulos é recomendável para o início de 2010, caso a recuperação ocorra de acordo com o esperado", afirma a entidade em documento divulgado em novembro.
O desmonte dos pacotes de estímulos também faz parte das preocupações nos discursos do FMI. O diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, vem dizendo que os planos de ajuda ainda devem ser mantidos, mas, em nenhuma das suas declarações recentes, fala em ampliação dos gastos.
Segundo ele, o enxugamento dos estímulos "deve esperar uma recuperação segura da demanda privada, assim como uma estabilidade financeira mais firme. Recomendamos errar pelo lado da cautela, visto que sair cedo demais é mais caro do que sair tarde demais".
Entre as grandes economias, além do Brasil, só o Japão tomou recentemente medidas de estímulo, com um pacote de US$ 81 bilhões, mas o segundo maior PIB do planeta ainda está derrapando no seu processo de recuperação, enfrentando deflação e uma moeda valorizada que prejudica a venda de produtos para o exterior.


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