São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2001

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"Somos uma empresa moreninha", diz Reichstul

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a seguir trechos da entrevista que o presidente da Petrobras concedeu à Folha:

Folha - De quem foi a idéia de mudar o nome da Petrobras?
Henri Philippe Reichstul
- A Und apresentou três propostas. A primeira, conservadora, mantinha o nome no Brasil e no exterior. A segunda era manter o nome Petrobras aqui e usar PetroBrax lá fora. A mais ousada era PetroBrax aqui e fora. Escolhemos essa.

Folha - Mas foi idéia de quem?
Reichstul
- Ninguém pensou em mudar o nome. A idéia era mudar o logo para adequar a marca ao planejamento estratégico, ao que queremos ser em 2005. Uma empresa de energia e não mais de petróleo. Por isso, o ideal seria tirar o "petro".
Tudo começou com o BR verde e amarelo, Brasil verde e amarelo. Será que a Petrobras vai virar internacional assim? A British Petroleum acabou de mudar seu nome para Beyond Petrol. Tirou o British por problemas no exterior.

Folha- A decisão foi discutida na diretoria da empresa?
Reichstul
- No mês passado, houve uma reunião. O pessoal da casa, mais conservador, queria manter o nome da empresa. Os de fora achavam que valia mudar. Eu fiquei no meio.

Folha - E agora, vai ser Petrobras ou PetroBrax?
Reichstul
- As razões que nos levaram a querer mudar continuam. No exterior, queremos que seja PetroBrax. Vou brigar para usar esse nome lá fora. Erramos ao achar que o nome Petrobrax seria do gosto do consumidor brasileiro. Mesmo pessoas que abastecem o carro na Shell não gostaram. "Como fazem uma coisa dessas e não me avisam?" A Petrobras é de todos, tem história. Somos uma empresa moreninha. Queremos ser universal, do brasileiro que dá certo, do brasileiro com excelência, sem vergonha de ser brasileiro.

Folha- O senhor vai insistir na mudança lá fora, então?
Reichstul
- Estou esperando um pouco, tirei uns dias. Percebi que é uma questão política, não é uma decisão apenas empresarial.

Folha- E ela foi tomada assim?
Reichstul
- Foi, justificada empresarialmente. A questão é política. Então, tenho de fazer política para preservar a empresa. E acho bom, porque a Petrobras não pertence só aos acionistas. A União tem 35% da companhia e esses representam a sociedade brasileira.

Folha- Como vai ficar, então?
Reichstul
- O PetroBrax no Brasil está enterrado. Foi um erro de avaliação da marca. Erro que vejo hoje que pode ser transformado numa força enorme. As pessoas sentem afeição pela marca Petrobras no mercado brasileiro. Na mão de bons publicitários, esse sentimento se transforma em poder de mercado. Não conhecíamos bem isso. Temos uma marca Petrobras que é muito mais forte do que a gente imaginava. As pesquisas não captaram isso.

Folha- Para alguns, PetroBrax era sinal de privatização...
Reichstul
- O caminho da privatização é enfraquecer uma companhia e deixar ela ser comida pelas beiradas. É não reagir a essa concorrência que está se instalando aqui e a nível internacional, que hoje vale US$ 30 bilhões em Bolsa.

Folha- Tudo bem, mas por que se contratou a Und sem licitação?
Reichstul
- Você vai fazer um estudo de marca e vai anunciar num mercado concorrencial que vai fazer isso? Num mercado monopolista, tudo bem. Faz concurso público, dá prêmio.

Folha- O presidente sabia da mudança?
Reichstul
- A proposta foi nossa, mas ele sabia.

Folha- Fomos informados de que ele não sabia que ia mudar rápido. Achava que era só um estudo.
Reichstul
- Pode ser que ele tenha ficado com essa impressão.

Folha- O ministro (Rodolpho) Tourinho (Minas e Energia) sabia que a mudança atingiria o nome da empresa no Brasil?
Reichstul
- Ele é presidente do conselho, que também tem o ministro Pedro Parente (Casa Civil), o (Francisco) Gros (do BNDES).

Folha- Não é errado usar uma agência de publicidade para subcontratar a Und?
Reichstul
- Isso eu soube ex post. Vamos pegar um pessoal de marca de uma agência ou uma empresa que só faz isso?

Folha- Quando o PetroBrax virou um problema, o senhor se sentiu abandonado por aqueles que aprovaram as mudanças?
Reichstul
- O presidente da Petrobras sou eu. Quem trouxe a questão fui eu. Eu sou responsável por essa questão. Erramos e voltamos atrás, com tranquilidade. Burrice seria continuar. Se meus consumidores não querem, não vou brigar com eles.

Folha- O senhor esperava que o ministro Tourinho saísse em sua defesa?
Reichstul
- Senti o tempo todo apoio do ministro. Talvez fosse férias. Sinto-me superapoiado pelo governo. Onde eu vou me dizem: "voltou atrás, que bom". Tripliquei o valor da empresa em dois anos, limpei uma caixa preta, reorganizamos a companhia. O Pelé faz 99 gols, um bate na trave e o cara é um horror? Não é assim.

Folha- O Alexandre Machado, seu assessor responsável pelo Petrobrax, continua na empresa?
Reichstul
- Continua. Está trabalhando normalmente. (FELIPE PATURY e DAVID FRIEDLANDER)


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