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"Somos uma empresa moreninha", diz Reichstul
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia a seguir trechos da entrevista que o presidente da Petrobras concedeu à Folha:
Folha - De quem foi a idéia de
mudar o nome da Petrobras?
Henri Philippe Reichstul- A
Und apresentou três propostas. A
primeira, conservadora, mantinha o nome no Brasil e no exterior. A segunda era manter o nome Petrobras aqui e usar PetroBrax lá fora. A mais ousada era
PetroBrax aqui e fora. Escolhemos essa.
Folha - Mas foi idéia de quem?
Reichstul- Ninguém pensou
em mudar o nome. A idéia era
mudar o logo para adequar a
marca ao planejamento estratégico, ao que queremos ser em 2005.
Uma empresa de energia e não
mais de petróleo. Por isso, o ideal
seria tirar o "petro".
Tudo começou com o BR verde
e amarelo, Brasil verde e amarelo.
Será que a Petrobras vai virar internacional assim? A British Petroleum acabou de mudar seu nome para Beyond Petrol. Tirou o
British por problemas no exterior.
Folha- A decisão foi discutida
na diretoria da empresa?
Reichstul- No mês passado,
houve uma reunião. O pessoal da
casa, mais conservador, queria
manter o nome da empresa. Os de
fora achavam que valia mudar. Eu
fiquei no meio.
Folha - E agora, vai ser Petrobras ou PetroBrax?
Reichstul- As razões que nos
levaram a querer mudar continuam. No exterior, queremos que
seja PetroBrax. Vou brigar para
usar esse nome lá fora. Erramos
ao achar que o nome Petrobrax
seria do gosto do consumidor
brasileiro. Mesmo pessoas que
abastecem o carro na Shell não
gostaram. "Como fazem uma coisa dessas e não me avisam?" A Petrobras é de todos, tem história.
Somos uma empresa moreninha.
Queremos ser universal, do brasileiro que dá certo, do brasileiro
com excelência, sem vergonha de
ser brasileiro.
Folha- O senhor vai insistir na
mudança lá fora, então?
Reichstul- Estou esperando
um pouco, tirei uns dias. Percebi
que é uma questão política, não é
uma decisão apenas empresarial.
Folha- E ela foi tomada assim?
Reichstul- Foi, justificada empresarialmente. A questão é política. Então, tenho de fazer política
para preservar a empresa. E acho
bom, porque a Petrobras não pertence só aos acionistas. A União
tem 35% da companhia e esses representam a sociedade brasileira.
Folha- Como vai ficar, então?
Reichstul- O PetroBrax no
Brasil está enterrado. Foi um erro
de avaliação da marca. Erro que
vejo hoje que pode ser transformado numa força enorme. As
pessoas sentem afeição pela marca Petrobras no mercado brasileiro. Na mão de bons publicitários,
esse sentimento se transforma em
poder de mercado. Não conhecíamos bem isso. Temos uma marca
Petrobras que é muito mais forte
do que a gente imaginava. As pesquisas não captaram isso.
Folha- Para alguns, PetroBrax
era sinal de privatização...
Reichstul- O caminho da privatização é enfraquecer uma
companhia e deixar ela ser comida pelas beiradas. É não reagir a
essa concorrência que está se instalando aqui e a nível internacional, que hoje vale US$ 30 bilhões
em Bolsa.
Folha- Tudo bem, mas por que
se contratou a Und sem licitação?
Reichstul- Você vai fazer um
estudo de marca e vai anunciar
num mercado concorrencial que
vai fazer isso? Num mercado monopolista, tudo bem. Faz concurso público, dá prêmio.
Folha- O presidente sabia da
mudança?
Reichstul- A proposta foi nossa, mas ele sabia.
Folha- Fomos informados de
que ele não sabia que ia mudar rápido. Achava que era só um estudo.
Reichstul- Pode ser que ele tenha ficado com essa impressão.
Folha- O ministro (Rodolpho)
Tourinho (Minas e Energia) sabia
que a mudança atingiria o nome da
empresa no Brasil?
Reichstul- Ele é presidente do
conselho, que também tem o ministro Pedro Parente (Casa Civil),
o (Francisco) Gros (do BNDES).
Folha- Não é errado usar uma
agência de publicidade para subcontratar a Und?
Reichstul- Isso eu soube ex
post. Vamos pegar um pessoal de
marca de uma agência ou uma
empresa que só faz isso?
Folha- Quando o PetroBrax virou um problema, o senhor se sentiu abandonado por aqueles que
aprovaram as mudanças?
Reichstul- O presidente da Petrobras sou eu. Quem trouxe a
questão fui eu. Eu sou responsável
por essa questão. Erramos e voltamos atrás, com tranquilidade.
Burrice seria continuar. Se meus
consumidores não querem, não
vou brigar com eles.
Folha- O senhor esperava que o
ministro Tourinho saísse em sua
defesa?
Reichstul- Senti o tempo todo
apoio do ministro. Talvez fosse férias. Sinto-me superapoiado pelo
governo. Onde eu vou me dizem:
"voltou atrás, que bom". Tripliquei o valor da empresa em dois
anos, limpei uma caixa preta,
reorganizamos a companhia. O
Pelé faz 99 gols, um bate na trave e
o cara é um horror? Não é assim.
Folha- O Alexandre Machado,
seu assessor responsável pelo Petrobrax, continua na empresa?
Reichstul- Continua. Está trabalhando normalmente.
(FELIPE PATURY e DAVID FRIEDLANDER)
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