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Telefonia atrairá investidor externo
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O setor de telefonia fixa e móvel
continuará a responder por parte
considerável dos investimentos
diretos estrangeiros (IDE) neste
ano. Na avaliação da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de
Empresas Transnacionais e da
Globalização Econômica) e de
analistas, do fluxo estimado de
US$ 15 bilhões em IDE, ao menos
US$ 3 bilhões irão para o setor.
Essa estimativa, entretanto, não
considera eventuais ingressos para fusões e aquisições, dentro de
um processo de concentração do
mercado. Ou seja, significa somente o que deve ser investido
desde a ampliação de serviços para clientes corporativos e residenciais de renda mais elevada, no caso da telefonia fixa, a gastos com
migração do sistema TDMA para
o GSM, na telefonia móvel. Pelos
dados do Banco Central, até novembro de 2003, havia ingressado
no país US$ 10,908 bilhões em
IDE, dos quais US$ 2,428 bilhões
para o setor de telecomunicações.
São dois os grandes alvos disponíveis para investidores em telefonia fixa: a Embratel e a Intelig.
A Embratel foi colocada à venda
por sua controladora, a concordatária MCI, que em 1998 pagou
US$ 2,25 bilhões por 51,8% das
ações com direito a voto. O eventual interessado na Embratel terá
que desembolsar cerca de US$ 1
bilhão para assumir o controle.
Carlos Slim, da Telmex, aparece
como um dos candidatos à compra. O mexicano já tem negócios
no Brasil: em agosto de 2003, uma
de suas empresas, a America Móvil, adquiriu a BCP (telefonia móvel) por US$ 625 milhões.
Além dele, estão na disputa um
consórcio formado pelas operadoras de telefonia fixa Telemar,
Telefônica e Brasil Telecom e o
Telos, fundo de pensão dos próprios funcionários da Embratel.
Um eventual controle da Embratel seria estratégico: a empresa
detém 50% do mercado de transmissão de dados -justamente
um dos segmentos mais rentáveis
para as operadoras fixas.
A Intelig tem como sócios a inglesa National Grid (que detém
50% da empresa), a France Telecom (possuidora de 25% das
ações) e a norte-americana Sprint
(que possui os outros 25%). Até
setembro, devia cerca de US$ 150
milhões para indústrias de equipamentos de telefonia.
"A tendência é que o setor de telefonia fixa conclua o processo de
concentração até meados deste
ano. Ficaria nas mãos de Telefônica, Brasil Telecom, Telemar e Embratel, considerando-se que seja a
Telmex que a adquira", diz a especialista em telecomunicações Ana
Paula Oliveira.
Para Oliveira, os negócios mais
rentáveis para essas operadoras
nos próximos anos estarão nas
áreas de transmissão de dados e
internet. Na lista de segmentos
com potencial de expansão estão
os serviços com base na tecnologia IP (medula de acesso à internet, que permite, além do acesso à
rede, transmissão de voz e realização de videoconferência).
Outros dos serviços a serem explorados pelas operadoras fixas
são os de banda larga no mercado
residencial e de micro/pequenas
empresas baseados em ADSL
(exige que o usuário possua uma
linha telefônica, mas ela pode ser
usada para falar e navegar ao mesmo tempo), o desenvolvimento
de pacotes de transmissão de voz
e dados e de internet para nichos
de mercado e terceirização de serviços de telecomunicações de
clientes ("outsourcing").
Fator renda
O indutor da preferência das
operadoras fixas pelos serviços
voltados a empresas e usuários de
classes mais altas chama-se renda:
há hoje no Brasil 10 milhões de linhas ociosas de telefonia fixa.
Quando se observa o chamado
fator de teledensidade percebe-se
o quanto o país ainda está atrás
em termos de acesso à telefonia.
Até agosto de 2002, o Brasil tinha
42 telefones fixos e celulares ativos para cada grupo de cem habitantes. No Chile, esse mesmo indicador chega a 66 telefones por
grupo de cem habitantes. Nos
EUA, 115, e, no Reino Unido, país
que detinha maior índice de telefones por habitantes, a 144.
De acordo com a Anatel, o Brasil tinha em novembro 43 milhões
de celulares (75% pré-pagos). Em
contrapartida, o número de telefones fixos em operação era estimado em 39,4 milhões. A queda
de renda faz com que muitas famílias, em vez de manter aparelho
fixo (pelo qual paga-se assinatura
mensal), optem por celulares pré-pagos -na maioria, usados apenas para receber chamadas.
Segundo Jacqueline Lison, analista do setor de telecomunicações
da Fator Doria Atherino, parte
das operadoras de telefonia móvel
deverá direcionar a transferência
de seus sistemas de TDMA para
GSM. TDMA é a sigla, em inglês,
para acesso múltiplo por divisão
de tempo, tecnologia capaz de
transformar os sinais analógicos
de voz em dados digitais. É o sistema dos EUA e está presente em 35
países e territórios das Américas.
O GSM (sistema global de comunicação móvel) é a tecnologia
digital predominante na Europa.
No Brasil, as operadoras Oi, TIM
e Claro o utilizam. Os aparelhos
contêm um cartão que armazena
as informações do usuário, como
a agenda, e pode ser usado o mesmo número em outros países.
Segundo Lison, entre as empresas que devem fazer a migração, a
médio e longo prazo, está uma
subsidiária da TIM, a TIM Sul
(PR, SC e Pelotas-RS), a Tess (interior de SP) e a Telemig (MG).
""De um modo geral, as empresas de telefonia estão bem. Até a
Embratel, que tem a maior dívida
[estimada em R$ 4 bilhões], foi favorecida pela estabilização do dólar e a queda do risco-país. Mas
ninguém começou a dar retorno
aos investimentos", diz Lison.
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