São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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Telefonia atrairá investidor externo

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O setor de telefonia fixa e móvel continuará a responder por parte considerável dos investimentos diretos estrangeiros (IDE) neste ano. Na avaliação da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica) e de analistas, do fluxo estimado de US$ 15 bilhões em IDE, ao menos US$ 3 bilhões irão para o setor.
Essa estimativa, entretanto, não considera eventuais ingressos para fusões e aquisições, dentro de um processo de concentração do mercado. Ou seja, significa somente o que deve ser investido desde a ampliação de serviços para clientes corporativos e residenciais de renda mais elevada, no caso da telefonia fixa, a gastos com migração do sistema TDMA para o GSM, na telefonia móvel. Pelos dados do Banco Central, até novembro de 2003, havia ingressado no país US$ 10,908 bilhões em IDE, dos quais US$ 2,428 bilhões para o setor de telecomunicações.
São dois os grandes alvos disponíveis para investidores em telefonia fixa: a Embratel e a Intelig.
A Embratel foi colocada à venda por sua controladora, a concordatária MCI, que em 1998 pagou US$ 2,25 bilhões por 51,8% das ações com direito a voto. O eventual interessado na Embratel terá que desembolsar cerca de US$ 1 bilhão para assumir o controle.
Carlos Slim, da Telmex, aparece como um dos candidatos à compra. O mexicano já tem negócios no Brasil: em agosto de 2003, uma de suas empresas, a America Móvil, adquiriu a BCP (telefonia móvel) por US$ 625 milhões.
Além dele, estão na disputa um consórcio formado pelas operadoras de telefonia fixa Telemar, Telefônica e Brasil Telecom e o Telos, fundo de pensão dos próprios funcionários da Embratel.
Um eventual controle da Embratel seria estratégico: a empresa detém 50% do mercado de transmissão de dados -justamente um dos segmentos mais rentáveis para as operadoras fixas.
A Intelig tem como sócios a inglesa National Grid (que detém 50% da empresa), a France Telecom (possuidora de 25% das ações) e a norte-americana Sprint (que possui os outros 25%). Até setembro, devia cerca de US$ 150 milhões para indústrias de equipamentos de telefonia.
"A tendência é que o setor de telefonia fixa conclua o processo de concentração até meados deste ano. Ficaria nas mãos de Telefônica, Brasil Telecom, Telemar e Embratel, considerando-se que seja a Telmex que a adquira", diz a especialista em telecomunicações Ana Paula Oliveira.
Para Oliveira, os negócios mais rentáveis para essas operadoras nos próximos anos estarão nas áreas de transmissão de dados e internet. Na lista de segmentos com potencial de expansão estão os serviços com base na tecnologia IP (medula de acesso à internet, que permite, além do acesso à rede, transmissão de voz e realização de videoconferência).
Outros dos serviços a serem explorados pelas operadoras fixas são os de banda larga no mercado residencial e de micro/pequenas empresas baseados em ADSL (exige que o usuário possua uma linha telefônica, mas ela pode ser usada para falar e navegar ao mesmo tempo), o desenvolvimento de pacotes de transmissão de voz e dados e de internet para nichos de mercado e terceirização de serviços de telecomunicações de clientes ("outsourcing").

Fator renda
O indutor da preferência das operadoras fixas pelos serviços voltados a empresas e usuários de classes mais altas chama-se renda: há hoje no Brasil 10 milhões de linhas ociosas de telefonia fixa.
Quando se observa o chamado fator de teledensidade percebe-se o quanto o país ainda está atrás em termos de acesso à telefonia. Até agosto de 2002, o Brasil tinha 42 telefones fixos e celulares ativos para cada grupo de cem habitantes. No Chile, esse mesmo indicador chega a 66 telefones por grupo de cem habitantes. Nos EUA, 115, e, no Reino Unido, país que detinha maior índice de telefones por habitantes, a 144.
De acordo com a Anatel, o Brasil tinha em novembro 43 milhões de celulares (75% pré-pagos). Em contrapartida, o número de telefones fixos em operação era estimado em 39,4 milhões. A queda de renda faz com que muitas famílias, em vez de manter aparelho fixo (pelo qual paga-se assinatura mensal), optem por celulares pré-pagos -na maioria, usados apenas para receber chamadas.
Segundo Jacqueline Lison, analista do setor de telecomunicações da Fator Doria Atherino, parte das operadoras de telefonia móvel deverá direcionar a transferência de seus sistemas de TDMA para GSM. TDMA é a sigla, em inglês, para acesso múltiplo por divisão de tempo, tecnologia capaz de transformar os sinais analógicos de voz em dados digitais. É o sistema dos EUA e está presente em 35 países e territórios das Américas.
O GSM (sistema global de comunicação móvel) é a tecnologia digital predominante na Europa. No Brasil, as operadoras Oi, TIM e Claro o utilizam. Os aparelhos contêm um cartão que armazena as informações do usuário, como a agenda, e pode ser usado o mesmo número em outros países.
Segundo Lison, entre as empresas que devem fazer a migração, a médio e longo prazo, está uma subsidiária da TIM, a TIM Sul (PR, SC e Pelotas-RS), a Tess (interior de SP) e a Telemig (MG).
""De um modo geral, as empresas de telefonia estão bem. Até a Embratel, que tem a maior dívida [estimada em R$ 4 bilhões], foi favorecida pela estabilização do dólar e a queda do risco-país. Mas ninguém começou a dar retorno aos investimentos", diz Lison.


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