São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO FINANCEIRO

Apesar da recente desvalorização, moeda americana precisa cair mais para atingir níveis de 1995

Dólar segue acima das médias dos anos 90

CHRISTOPHER SWANN
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON

Talvez seja tentador pensar que as coisas não podem ficar muito piores para o dólar.
A antes poderosa nota verde perdeu cerca de um terço de seu valor em comparação com seu pico contra o euro dois anos atrás e 25% em relação a um leque maior de parceiros comerciais. Com a economia americana voltando a crescer com força, a queda do dólar parece ainda mais paradoxal.
A moeda americana não parece estar próxima de um piso histórico. Quando se leva em conta o valor real em termos de comércio (que considera as diferentes inflações internacionais), o dólar ainda está um pouco acima de sua média desde 1970. Continua 7% acima da média negociada da década de 90, e teria de cair mais 13% para atingir o ponto mais baixo que alcançou ante o marco alemão em 1995.
Com o atual déficit de conta corrente perto de 5% do PIB e o declínio do interesse internacional pelos ativos americanos, parece totalmente possível uma queda aos baixos níveis de 1995.
"Podemos estar vendo o início de uma longa tendência de queda do dólar, que dure cinco, dez anos", afirmou Mark Zandi, economista-chefe da consultoria Economy.com.
As autoridades americanas têm poucos motivos para protestar contra a queda da moeda. Os números da atividade industrial mostraram o maior nível de novas encomendas desde os anos 50. Enquanto isso, os retornos corporativos têm aumentado pelo crescente valor em dólar dos lucros das subsidiárias estrangeiras.
A reação em termos de inflação ou taxas de juros maiores foi desprezível. A queda de 25% do dólar em valor negociado desde o início de 2002 causou um aumento dos preços das importações não-petrolíferas de apenas 1,8%.
O principal motivo disso, segundo Nariman Behravesh, economista-chefe da consultoria Global Insight, é que aqueles que exportam para os EUA estão cortando as margens para continuar no mercado. "Muitas empresas estão contidas pelo medo de perder participação no mercado para a China e outras economias asiáticas", afirmou.
Também não há sinal de que as preocupações sobre o dólar estejam prestes a causar uma fuga dos títulos do Tesouro dos EUA, o que provocaria uma alta das taxas de juros. Considerando a melhora no otimismo econômico, o aumento no rendimento dos títulos foi surpreendentemente pálido.
"O fato de os asiáticos continuarem comprando Tesouros em grande quantidade ajudou a manter a calma no mercado e as taxas de juros sob controle", disse Paul Lambert, diretor-executivo e chefe de câmbio no Deutsche Asset Management.
Talvez mais surpreendente tenha sido a fraca reação da Europa. Os pessimistas tinham afirmado que o euro em ascensão eliminaria qualquer sinal de recuperação na zona euro. Até agora houve poucos indícios de que isso esteja acontecendo. O aumento do euro parece ser amplamente superado pela melhora na demanda global.
"Existem alguns indícios de que a economia alemã, orientada para as exportações, está começando a ganhar terreno sobre a França e a Itália", disse Paul Meggyesi, estrategista de câmbio no JP Morgan.
Alguns analistas acreditam que o dólar poderá manter a tendência de baixa até que as autoridades indiquem seu descontentamento. Consequentemente, a atenção deverá se concentrar na reunião do G7 em fevereiro.
A última reunião do G7 em Dubai foi considerada uma contribuição para a última fase de queda do dólar. Uma declaração inspirada pelos EUA sobre os méritos das taxas de câmbio flexíveis foi interpretada por alguns no mercado como que deveriam permitir a queda do dólar.
"Até agora não há indícios de que a queda do dólar esteja testando a tolerância das autoridades econômicas", disse Tim Stuart, estrategista monetário do Morgan Stanley em Nova York.



Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Leite derramado: Parmalat transferiu R$ 198 mi em 2003
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.