São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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Política da empresa sofre críticas

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GARANHUNS (PE)

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CASTRO E CARAMBEÍ (PR)

A Parmalat do Brasil adota políticas diferentes de relacionamento com seus fornecedores, dependendo da organização dos pecuaristas e da região do país.
Enquanto a empresa nem sequer mantém contratos com os fornecedores individuais de leite de sua fábrica em Garanhuns (230 km de Recife), em Carambeí (130 km de Curitiba) é a Batávia -empresa controlada pela multinacional- que se sujeita às regras ditadas pelo "pool do leite", formado por três cooperativas.
A falta de contratos permite à empresa alterar a qualquer momento seus preços, clientes e volume a ser adquirido. Os fornecedores são obrigados a entregar o leite à fabrica por 30 dias consecutivos antes de receber a primeira quinzena. Os outros 15 dias só são pagos após mais duas semanas.
Eventual interrupção da entrega por opção do produtor implica a retomada de todo o processo. A estratégia reduz as chances de o pecuarista procurar melhor preço para o seu produto.
"O produtor de leite é um sofredor. Produz sem saber quanto vai receber", disse o presidente do Sindicato Rural de Garanhuns, Antonio Inácio Bezerra, 37.
A situação é oposta à vivida pelos associados das cooperativas Batavo (de Carambeí), Castrolanda (Castro) e Capal (Arapoti). Com potencial de 600 mil litros de leite ao dia, a bacia leiteira do Paraná entrega só 30% na fábrica da Parmalat. O restante é disputado por outras indústrias de laticínios.
"O caminhão [da transportadora] chega aqui e eu não sei se vai levar o leite para Batávia, Danone, Colasso ou Bethânia", disse o produtor do Paraná Jan Loman, 39.
A colocação do leite nas indústrias é feita pelo pool de cooperativas. A organização e o poder de barganha da entidade conferem ao produtor uma "blindagem" contra investidas das indústrias, segundo a Castrolanda.
"Aqui há um monopólio, e a maioria é obrigada a vender à Parmalat, porque não há outra alternativa viável na região", disse Bezerra. "Pelo menos até agora eles têm recebido em dia."
No Paraná, também não houve registro de atrasos.
Para o empresário e pecuarista pernambucano Altamir Marne Holanda Rabelo, 44, a pontualidade no pagamento já não importa mais. Dono de 40 vacas, Rabelo colocou seu plantel à venda, alegando prejuízo. "Aqui, a gente só sabe de fato por quanto vendeu o leite quando vai ao banco."
O setor responde por cerca de 4.000 empregos na região da unidade da Batávia.
O leite para a fábrica em Garanhuns é fornecido por cerca de 400 produtores. A unidade gera 230 empregos diretos.


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