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LEITE DERRAMADO
Executivo que construiu imagem de empresa no Brasil é envolvido em falência de fornecedoras da TIM
Mago da Parmalat tenta escapar de quebra
DA REPORTAGEM LOCAL
Gianni Grisendi, o executivo
que ao longo dos 11 anos em que
esteve no comando da Parmalat
do Brasil transformou o laticínio
de origem italiana num gigante,
lutava no final do ano passado para preservar seus sigilos bancário,
fiscal e telefônico e o direito de
deixar o país.
No dia 27 de novembro de 2003,
o juiz Carlos Henrique Abrão, da
42ª Vara Cível de São Paulo, proibiu Grisendi e outros executivos
de deixarem o país, decretou a
quebra de todos os seus sigilos e
solicitou ajuda da Coaf (Conselho
de Controle de Atividades Financeiras), principal órgão de combate à lavagem de dinheiro no
país, para recuperar recursos enviados ao exterior.
A decisão, no entanto, não tem
ligação direta com o caso Parmalat, mas com o de outra empresa
de origem italiana: a Tecnosistemi
Brasil e do seu braço operacional
-a Eudósia Brasil.
A quebra dessas empresas também foi decretada em 27 de novembro pelo juiz Carlos Henrique
Abrão. A medida foi estendida a
13 empresas do grupo. Uma delas,
a Aquasparta Administradora de
Bens e Participações, tem Grisendi no controle.
A Tecnosistemi, subsidiária do
grupo italiano Tecnosistemi SpA,
é fornecedora de equipamentos e
serviços de telefonia móvel para a
TIM (Telecom Itália Mobile).
Após cinco anos no país, a empresa foi à lona com uma dívida de
R$ 100 milhões com bancos e fornecedores.
Em sua sentença, o juiz Abrão
afirma que "o que se encontrou
em todas as empresas, após seis
meses de profícua análise e inesgotável campo de visão, sem dúvida nenhuma se compara analogamente ao grupo Parmalat, de estrutura obscura e altamente complexa, donde a figura do sr. Gianni
Grisendi não é estranha".
Segundo um dos advogados da
Tecnosistemi e da Eudósia, João
Boyadjian, "a afirmação do juiz é
gratuita, não se sabe de onde ele
tirou a relação com as 13 empresas às quais estendeu a falência e
menos ainda com a Parmalat".
Na verdade, os dois grupos italianos têm fortes laços de parentesco. O grupo Tecnosistemi SpA,
que controla as operações brasileiras falidas, tem como um dos
acionistas a Parmalat, além do
Meliorbanca, um grupo financeiro italiano. A ligação está estabelecida em comunicado da Tecnosistemi SpA, de julho de 2000.
Suspensão
Por enquanto, Grisendi está livre do incômodo de não poder
deixar o país e ter sua vida financeira vasculhada, como determinou o juiz Abrão. Em dezembro,
os desembargadores da 5ª e 6ª câmaras do Tribunal de Justiça de
São Paulo concederam liminar
suspendendo a falência do grupo.
A promotora de falências do
Ministério Público, Maria Cristina Viegas, 42, que recomendou a
decretação da quebra, diz que a
medida postergará o esclarecimento da intrincada teia de participações societárias e as operações do grupo no país.
"Em 11 anos como promotora
de falências, nunca tinha visto
uma situação tão confusa. Os números dos balanços são impressionantes. Chama a atenção no
ativo imobilizado da Tecnosistemi a existência de R$ 900 mil em
computadores, valor desproporcional para o tamanho da empresa", diz Viegas.
Também despertou a atenção
da promotora o depoimento de
Grisendi, realizado no dia 15 de
outubro do ano passado.
Na ocasião ele declarou que,
"em 1998, a pedido do presidente
da Parmalat [Calisto Tanzi], interveio para possibilitar a constituição da Eudósia e da Tecnosistemi no país".
Na época, Grisendi ainda comandava a Parmalat brasileira
-de onde saiu em fevereiro de
2000. A multiplicidade de atividades é característica desse executivo. Em 2001, ele era ao mesmo
tempo presidente da TIM e sócio
de uma de suas fornecedoras -a
Eudósia, por meio da Aquasparta.
Seu advogado, Renato Mange,
afirma que a Aquasparta deixou
de ser sócia da Eudósia em abril
de 2002 e que, portanto, não deveria ter sido incluída na falência do
grupo. No entanto, segundo dados da Serasa, tal vínculo permanecia até dezembro passado.
Quando comandava a Parmalat, Grisendi notabilizou-se pelo
patrocínio do Palmeiras e, à frente
da Bombril -para onde foi em
maio de 2002-, reergueu o Santos Futebol Clube. Aficionado por
futebol, costumava descer de helicóptero no campo de treinamento do Palmeiras, em São Paulo.
Em seu depoimento no processo da Eudósia, Grisendi diz ter colocado Edna Rodrigues da Silva
Abud -sua secretária na Parmalat- e Atílio Ortolani, também
funcionário da empresa, como
sócios da Tecnosistemi e da Eudósia. Isso para substituí-lo à
frente de seus negócios porque esteve com problemas de saúde e
impossibilitado de assinar documentos durante um período.
Nomeado presidente da Bombril em maio de 2002, Grisendi
deixou a empresa em junho passado, em meio à crise do grupo
controlador, Cirio Finanziaria, do
empresário italiano Sérgio Cragnotti. Agora, foi chamado de volta.
(SANDRA BALBI)
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