São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Executivo que construiu imagem de empresa no Brasil é envolvido em falência de fornecedoras da TIM

Mago da Parmalat tenta escapar de quebra

DA REPORTAGEM LOCAL

Gianni Grisendi, o executivo que ao longo dos 11 anos em que esteve no comando da Parmalat do Brasil transformou o laticínio de origem italiana num gigante, lutava no final do ano passado para preservar seus sigilos bancário, fiscal e telefônico e o direito de deixar o país.
No dia 27 de novembro de 2003, o juiz Carlos Henrique Abrão, da 42ª Vara Cível de São Paulo, proibiu Grisendi e outros executivos de deixarem o país, decretou a quebra de todos os seus sigilos e solicitou ajuda da Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), principal órgão de combate à lavagem de dinheiro no país, para recuperar recursos enviados ao exterior.
A decisão, no entanto, não tem ligação direta com o caso Parmalat, mas com o de outra empresa de origem italiana: a Tecnosistemi Brasil e do seu braço operacional -a Eudósia Brasil.
A quebra dessas empresas também foi decretada em 27 de novembro pelo juiz Carlos Henrique Abrão. A medida foi estendida a 13 empresas do grupo. Uma delas, a Aquasparta Administradora de Bens e Participações, tem Grisendi no controle.
A Tecnosistemi, subsidiária do grupo italiano Tecnosistemi SpA, é fornecedora de equipamentos e serviços de telefonia móvel para a TIM (Telecom Itália Mobile). Após cinco anos no país, a empresa foi à lona com uma dívida de R$ 100 milhões com bancos e fornecedores.
Em sua sentença, o juiz Abrão afirma que "o que se encontrou em todas as empresas, após seis meses de profícua análise e inesgotável campo de visão, sem dúvida nenhuma se compara analogamente ao grupo Parmalat, de estrutura obscura e altamente complexa, donde a figura do sr. Gianni Grisendi não é estranha".
Segundo um dos advogados da Tecnosistemi e da Eudósia, João Boyadjian, "a afirmação do juiz é gratuita, não se sabe de onde ele tirou a relação com as 13 empresas às quais estendeu a falência e menos ainda com a Parmalat".
Na verdade, os dois grupos italianos têm fortes laços de parentesco. O grupo Tecnosistemi SpA, que controla as operações brasileiras falidas, tem como um dos acionistas a Parmalat, além do Meliorbanca, um grupo financeiro italiano. A ligação está estabelecida em comunicado da Tecnosistemi SpA, de julho de 2000.

Suspensão
Por enquanto, Grisendi está livre do incômodo de não poder deixar o país e ter sua vida financeira vasculhada, como determinou o juiz Abrão. Em dezembro, os desembargadores da 5ª e 6ª câmaras do Tribunal de Justiça de São Paulo concederam liminar suspendendo a falência do grupo.
A promotora de falências do Ministério Público, Maria Cristina Viegas, 42, que recomendou a decretação da quebra, diz que a medida postergará o esclarecimento da intrincada teia de participações societárias e as operações do grupo no país.
"Em 11 anos como promotora de falências, nunca tinha visto uma situação tão confusa. Os números dos balanços são impressionantes. Chama a atenção no ativo imobilizado da Tecnosistemi a existência de R$ 900 mil em computadores, valor desproporcional para o tamanho da empresa", diz Viegas.
Também despertou a atenção da promotora o depoimento de Grisendi, realizado no dia 15 de outubro do ano passado.
Na ocasião ele declarou que, "em 1998, a pedido do presidente da Parmalat [Calisto Tanzi], interveio para possibilitar a constituição da Eudósia e da Tecnosistemi no país".
Na época, Grisendi ainda comandava a Parmalat brasileira -de onde saiu em fevereiro de 2000. A multiplicidade de atividades é característica desse executivo. Em 2001, ele era ao mesmo tempo presidente da TIM e sócio de uma de suas fornecedoras -a Eudósia, por meio da Aquasparta.
Seu advogado, Renato Mange, afirma que a Aquasparta deixou de ser sócia da Eudósia em abril de 2002 e que, portanto, não deveria ter sido incluída na falência do grupo. No entanto, segundo dados da Serasa, tal vínculo permanecia até dezembro passado.
Quando comandava a Parmalat, Grisendi notabilizou-se pelo patrocínio do Palmeiras e, à frente da Bombril -para onde foi em maio de 2002-, reergueu o Santos Futebol Clube. Aficionado por futebol, costumava descer de helicóptero no campo de treinamento do Palmeiras, em São Paulo.
Em seu depoimento no processo da Eudósia, Grisendi diz ter colocado Edna Rodrigues da Silva Abud -sua secretária na Parmalat- e Atílio Ortolani, também funcionário da empresa, como sócios da Tecnosistemi e da Eudósia. Isso para substituí-lo à frente de seus negócios porque esteve com problemas de saúde e impossibilitado de assinar documentos durante um período.
Nomeado presidente da Bombril em maio de 2002, Grisendi deixou a empresa em junho passado, em meio à crise do grupo controlador, Cirio Finanziaria, do empresário italiano Sérgio Cragnotti. Agora, foi chamado de volta. (SANDRA BALBI)


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