São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

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Mercado Aberto

guilherme.barros@uol.com.br

Infra-estrutura vai a Dilma para questionar concessões

Os grandes empresários ligados à infra-estrutura ficaram perplexos, ontem, com a declaração de Dilma Rousseff (Casa Civil) de que o governo iria desistir do programa de concessão de sete rodovias federais para criar uma empresa estatal que ficaria encarregada da manutenção das estradas e que cobraria pedágio.
O susto foi ainda maior pelo fato de Dilma ter dado a informação um dia depois de o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ter anunciado um plano de estatização das empresas de energia e telefonia.
A Fiesp reuniu ontem alguns dos grandes empreiteiros que seriam prejudicados com a decisão.O encontro foi comandado por Saturnino Sérgio, diretor de infra-estrutura da Fiesp, e contou com a participação de representantes da Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Odebrecht e CCR. "Todos ficamos perplexos com a decisão do governo", diz Saturnino Sérgio.
Também pego de surpresa com a decisão do governo, o empresário Paulo Godoy, presidente da Abdib (associação do setor de infra-estrutura), irá se reunir hoje, em Brasília, com Dilma Rousseff para discutir, entre outros temas, se há mesmo intenção do governo de suspender as concessões de rodovias. "Vou verificar se, de fato, há essa intenção ou se foi um mal-entendido", diz Godoy.
Godoy acha que, neste momento, é preciso ter cabeça fria, e que pode ter ocorrido uma leitura equivoca. Ele diz que não acredita que o governo vá desperdiçar a oportunidade que o país tem hoje de atrair grandes investidores para as obras em infra-estrutura.
Segundo Godoy, o país precisa atrair um total R$ 85 bilhões para esses investimentos, e, por isso, ele espera que a decisão não tenha ainda sido tomada pelo governo. "Não acredito que o governo vá abandonar o caminho das concessões", diz.
Mesmo que o governo volte atrás ou que diga que foi mal interpretado, a declaração de Dilma Rousseff trará, no mínimo, duas conseqüências. A primeira, mais evidente, será a de que o programa de concessão irá sofrer mais um atraso, e as estradas continuarão em péssimo estado de conservação.
Em segundo lugar, colocou uma pulga atrás da orelha do empresariado, que começa a ver em Dilma Rousseff uma certa vocação estatizante e que agora começa a desabrochar. A dúvida dos empresários é se ela conta ou não com o apoio do presidente Lula.
Caso mantida, a decisão não só estará na contramão mundial -incluindo até dos Estados Unidos, que têm a maior malha rodoviária do planeta- como correrá o risco de não dar certo, como já se viu no passado, com o pedágio público.
"Nós preferimos pagar um pedágio mais caro e ter uma estrada boa a pagar uma quantia menor e ter uma estrada em péssimo estado de conservação", afirma Neuton Gonçalves, diretor da NTC & Logística (a associação dos transportadores de carga e logística).

Brasil é um dos mais protecionistas sobre globalização

O Brasil é um dos países mais protecionistas do mundo quando o assunto é globalização. Estudo do instituto de pesquisa Market Analysis, em parceira com o canadense Global Scan, mostra que o apoio à globalização caiu 20% no país nos últimos dois anos e atingiu seu menor nível da década.
"Os brasileiros acompanham um desencantamento global mundial, que é vivido pela maioria dos países emergentes, como Rússia, China e Índia, entre outros", diz Fabián Echegaray, cientista político e diretor da Market Analysis. Segundo a pesquisa, o "desencantamento" acontece por uma percepção de que, cada vez mais, a globalização fica no plano econômico e comercial sem muitos avanços nas áreas sociais e ambientais.
Já a característica de "protecionismo" do país está ligada à maneira do brasileiro de querer "adaptar" a globalização às suas próprias necessidades, com "proteção e benefícios", diz Echegaray.

CATRACA LIMPA
O Grupo Wolpac, de sistemas de controle de acesso no setor de transportes, preparou duas novidades para 2007 com a expectativa de gerar 40% de crescimento no mercado de segurança. O primeiro produto é a Woclean, uma catraca com sistema de higienização de mãos e braços para ambientes nos quais a assepsia é fundamental. "Criamos esse produto de acordo com a necessidade da Perdigão, mas já estamos negociando com outras empresas-clientes", diz Fabiano Oton Wolf, diretor comercial da Wolpac. A segunda novidade é o Wolcell, uma tecnologia importada de Israel e usada para controle de acesso à distância, que permite abrir uma porta de qualquer lugar do mundo por uma ligação telefônica. No total, a Wolpac, que existe há 40 anos, tem nove famílias de produtos, totalizando 32 diferentes itens.

MORRER NA PRAIA
A construção de dois grandes empreendimentos na praia de Stella Maris, em Salvador, estão emperrados. Um da Iberostar, de R$ 75 milhões, e outro da rede Catussaba, de R$ 60 milhões. As empresas estão em disputa na Justiça por conta do fechamento de um acesso. A Catussaba acusa a Iberostar de ter fechado uma rua. Já a Iberostar afirma que não existe uma via pública em seu espaço e que o seu terreno foi invadido por um trator que abriu a passagem no final do ano passado. A Catussaba nega a invasão. Procurada, a Prefeitura de Salvador não se manifestou sobre o caso.

EXPANSÃO
A Caixa abre dois escritórios de representação no exterior. O primeiro, em fevereiro, será no Japão, na cidade de Hamamatsu, onde vivem 20 mil brasileiros. O segundo, em março, em Jersey City, Nova Jersey, nos Estados Unidos. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, 70% dos brasileiros residentes nos EUA estão no nordeste americano.

NO AR
Na esteira da crise aérea, a OceanAir, de German Efromovich, prepara-se para realizar um grande investimento neste ano. Já está fechada a compra de dois Boeing-767/300 ER para as novas linhas internacionais. As duas aeronaves desembarcam no Brasil até o próximo mês. Também estão em negociação pelo menos oito Boeing-787. Para este ano, já estão certos mais seis MK-28, dois Fokker-100 e os dois Boeing.

"SOÇIALISMO"
Delfim Netto está impressionado com o socialismo de Hugo Chávez. Segundo ele, "o socialismo do século 21 praticado por Chávez se escreve com cedilha".

NOVA DIREÇÃO
O empresário Carlos Eduardo Uchôa Fagundes é o novo presidente do Conselho Regional de Administração de São Paulo. Uchôa Fagundes substitui Roberto Cardoso Carvalho.


com ISABELLE MOREIRA LIMA e JOANA CUNHA

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