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Dilma vence, e superávit será reduzido
Apesar de manter meta em 4,25% do PIB, equipe econômica vai buscar superávit primário próximo de 3,75% no ano
Governo avalia que será possível manter tendência de redução da relação dívida pública/PIB apesar da redução do indicador
VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A redução do superávit primário neste ano não provoca
mais divisões dentro do governo. O grupo palaciano -formado pelos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro
(Relações Institucionais)-
venceu as resistências da equipe econômica, que já aceita reduzir a economia do governo
para o pagamento de juros da
dívida pública federal.
Fixada em 4,25% do PIB, a
meta de superávit vai cair neste
ano diante da decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
de aumentar os investimentos
públicos, principalmente na infra-estrutura, para tentar reduzir gargalos da economia e estimular investimentos privados.
O governo aumentará de
0,2% do PIB (cerca de R$ 4,6 bilhões) para 0,5% do PIB (mais
de R$ 11 bilhões) o total gasto
com obras consideradas prioritárias e de grande retorno econômico. Essas despesas podem
ser desconsideradas no cálculo
final do superávit, segundo
acerto feito com o FMI na época em que o país tinha acordo
com a instituição.
Com isso, apesar de manter
os 4,25% do PIB como número
oficial, na prática a economia
efetiva que o setor público fará
para reduzir o seu endividamento será menor, podendo ficar em 3,75% do PIB, o mesmo
valor definido no governo FHC.
Inicialmente, a equipe econômica estava dividida em relação a essa redução, malvista
pelo mercado. A saída de Carlos
Kawall do comando do Tesouro, por exemplo, teve como um
dos motivos -além dos pessoais- a inflexão na área fiscal
que será observada neste primeiro ano de mandato.
Agora, porém, os técnicos da
área econômica já aceitam diminuir a meta. Refizeram suas
contas e chegaram à conclusão
de que será possível manter a
redução da dívida pública em
relação ao PIB num ritmo aceitável mesmo que mais despesas
com investimento façam cair o
superávit para 3,75%.
Com superávit menor, a queda da relação dívida/PIB também será mais lenta. Uma economia equivalente a 4,25% do
PIB puxaria a relação para cerca de 48,25% no início do próximo ano nos cálculos do governo. Com superávit de 3,75%, a
projeção é que vá a 48,75%,
contra os atuais 49,30%.
Segundo relato feito à Folha
por auxiliar do presidente, o
importante é que a dívida "vai
continuar caindo". Ele também
destaca que "fomos nós que
elevamos a meta [de superávit]". Para ele, com o atual cenário econômico, um superávit
de 3,75% "já é alto".
Apesar de aceitar a queda do
superávit primário neste ano, a
equipe econômica avalia, porém, que dificilmente o saldo
no final do ano ficará em 3,75%
do PIB. A aposta é num número entre 3,90% e 4,10%, abaixo
da meta atual, mas ainda acima
da vigente no governo FHC.
A diminuição do superávit ficou mais palatável para a área
econômica diante do esforço
para aumentar a taxa de crescimento em 2007. A avaliação é
que, se isso se confirmar, a redução da relação da dívida com
o PIB poderá ser maior do que
o esperado. Na pior das hipóteses, a queda será mais lenta.
Auxiliares de Lula lembram
ainda que o governo, no PAC
(Plano de Aceleração do Crescimento), fixará regras que vão
"disciplinar o crescimento das
despesas do governo", dando
mais "previsibilidade" sobre o
comportamento dos gastos federais nos próximos anos.
Apesar da redução do superávit primário neste ano, o governo avalia que o controle de
gastos, aliado à queda dos juros, ajudará na estratégia de
médio e longo prazo de déficit
nominal zero, na qual a arrecadação do governo será suficiente para pagar os juros da dívida.
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