São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

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Setor privado diz que decisão é equivocada

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O setor privado -potenciais investidores nas rodovias e grandes usuários- reagiu mal à decisão do governo federal de suspender o processo de concessão de trechos de rodovias. A avaliação é que o país pode estar perdendo uma oportunidade de atrair capitais que hoje estão disponíveis. Ontem, as cotações de várias empresas ligadas à área de infra-estrutura tiveram queda forte na Bolsa.
Os papéis ON (ordinários) da CCR Rodovias, que pertencem ao Ibovespa (principal índice da Bolsa), caíram 7,38%. As ações ON da OHL Brasil despencaram 12,61%.
E isso em um dia em que a Bolsa de Valores de São Paulo registrou alta de 0,78%.
"Não tenha dúvida de que esse é um recado do mercado", afirmou Renato Vale, presidente da CCR.
Além do adiamento da retomada do processo de concessão de trechos de rodovias federais, os investidores temem a criação de uma "pedagiobrás" -uma estatal para administrar diretamente a cobrança do pedágio. "Esse modelo já foi testado e não funcionou", disse Vale.
Antes da privatização, rodovias como a Dutra (SP-Rio) e a ponte Rio-Niterói tinham cobrança de pedágio feita diretamente pelo extinto DNER (atual Dnit, Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes). "Para nós, é difícil de entender, mas há uma opção política", afirmou Moacyr Servilha Duarte, presidente da ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias). "O país está perdendo uma oportunidade, porque hoje existe abundância de capital no mundo para investir em infra-estrutura.
É preciso atrair esse capital para o Brasil", disse. "Essa situação nos preocupa, porque havia uma expectativa de que esses trechos estariam arrumados e entregues ao tráfego em boas condições", afirma Geraldo Vianna, presidente da NTC & Logística (Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística). "Nós vamos perder tempo, não se concedeu um metro de estrada no primeiro mandato", lamentou o executivo.

"Perplexos"
"Estamos perplexos. Essa medida vai na contramão de tudo", disse Saturnino Sérgio da Silva, diretor do Departamento de Infra-Estrutura da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). "Quando o governo diz que quer a menor tarifa, concordamos. Mas não ter o serviço é o pior dos mundos", disse, em referência ao péssimo estado das rodovias. Luiz Afonso dos Santos Senna, professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e ex-diretor da ANTT, também avalia que a decisão é um erro.
"Com pedágio público, não há compromisso entre o valor da tarifa e as obras que precisam ser feitas na rodovia", disse.
A CCR é a maior operadora de concessões de rodovias do país. Cerca de 95% de sua receita vem da cobrança de pedágios nas rodovias em que opera. A companhia opera seis concessões de rodovias, como AutoBan e NovaDutra.
Nos primeiros nove meses de 2006, a CCR teve lucro líquido de R$ 314,5 milhões. A OHL Brasil é a segunda maior companhia do setor, com quatro concessionárias que operam em rodovias no Estado de São Paulo, como Autovias e Centrovias. O lucro líquido da OHL acumulado entre janeiro e setembro do ano passado ficou em R$ 80,9 milhões.


Colaborou FABRICIO VIEIRA, da Reportagem Local

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