São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Correção e emergentes incorretos

Corcoveio no mercado deste início do ano causa boatos de "correção de preço". Mas qual o fundamento do rumor?

"CORREÇÃO" É uma palavra que começa a circular mais freqüentemente entre os rapazes do mercado financeiro, especialmente os lá de fora. "Correção de preços": os ativos financeiros de países ditos emergentes subiram demais em 2006, estavam caros demais e alguns tropeços dos mercados neste início de ano sugeriram a ocasião de vendê-los. Ou também a obrigação de vendê-los, no caso de alguns investidores que perderam dinheiro com commodities (combustíveis, metais, grãos etc.), em especial com a queda contínua do preço do petróleo.
De resto, como bons fatos ainda não estão à disposição para que se pense melhor o que vem acontecendo, os rapazes do mercado e seus porta-vozes também inventam pacotes de explicações mal amanhadas, com a notícia que calhar no dia.
Isto é, suas poções explicativas misturam eventos como a incompetência e a confusão da política econômica da ditadura tailandesa, o risco de a Indonésia controlar capitais, a valorização da moeda coreana e Hugo Chávez, que acabou de dizer que o socialismo é o estágio superior do bolivarianismo e ameaça garfar empresas privadas. Cereja do bolo: "Parece que há algum aumento de aversão ao risco". E daí?
Daí que toda essa especulação pode ser apenas cascata, mera racionalização bem fajutada de gente assustada ou que perdeu dinheiro nas oscilações de preços deste início do ano. Mas pode ser que as ligeiras confusões dos mercados neste início do ano talvez sejam mesmo um sintoma de redução do apetite mundial por risco. Isto é, por ativos de países emergentes, Brasil inclusive. Mas qual o fundamento da análise?
As Bolsas emergentes vão mal no início de 2007, caem faz seis dias. No Brasil, a Bovespa vem sendo arranhada por oscilações nas ações de petróleo e metais. Mas os mercados que mais interessam, os de moedas e juros, estão tranqüilos e o dinheiro continua fluindo para o país.
Os preços de commodities estão caindo devido em parte ao contágio do petróleo, pois não houve, nem poderia ter havido, em prazo tão curto, alteração essencial nos fundamentos econômicos. Em parte, os preços caem também porque investimentos em índices de commodities não renderam o esperado na metade final do ano passado, e há gente reorganizando sua carteira de aplicações.
De resto, sempre há o boato de que "um "hedge fund" estaria vendendo tudo" para compensar "enormes perdas" no mercado de combustíveis ou qualquer outro investimento ruim. Quando o mercado corcoveia, trata-se de boato recorrente, ainda mais depois que, em setembro do ano passado, o Amaranth Advisors foi à breca e perdeu bilhões de dólares devido a negócios errados com o preço do gás.
Enfim, a informação disponível para pensar se surgiu alguma nova tendência nos mercados emergentes ainda é precaríssima. "Correção" e "aumento de aversão ao risco", por ora, são apenas mantras. As corcoveadas no mercado brasileiro, por ora restritas à Bolsa, servem apenas para abrir oportunidades de compra de ações para quem acha que o Ibovespa vai mesmo continuar a viagem à estratosfera.


vinit@uol.com.br

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