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VINICIUS TORRES FREIRE
Correção e emergentes incorretos
Corcoveio no mercado deste início do ano causa boatos de "correção de preço". Mas qual o fundamento do rumor?
"CORREÇÃO" É uma palavra
que começa a circular
mais freqüentemente entre os rapazes do mercado financeiro, especialmente os lá de fora. "Correção de preços": os ativos financeiros de países ditos emergentes subiram demais em 2006, estavam caros
demais e alguns tropeços dos mercados neste início de ano sugeriram
a ocasião de vendê-los. Ou também a
obrigação de vendê-los, no caso de
alguns investidores que perderam
dinheiro com commodities (combustíveis, metais, grãos etc.), em especial com a queda contínua do preço do petróleo.
De resto, como bons fatos ainda
não estão à disposição para que se
pense melhor o que vem acontecendo, os rapazes do mercado e seus
porta-vozes também inventam pacotes de explicações mal amanhadas, com a notícia que calhar no dia.
Isto é, suas poções explicativas
misturam eventos como a incompetência e a confusão da política econômica da ditadura tailandesa, o risco de a Indonésia controlar capitais,
a valorização da moeda coreana e
Hugo Chávez, que acabou de dizer
que o socialismo é o estágio superior
do bolivarianismo e ameaça garfar
empresas privadas. Cereja do bolo:
"Parece que há algum aumento de
aversão ao risco".
E daí?
Daí que toda essa especulação pode ser apenas cascata, mera racionalização bem fajutada de gente assustada ou que perdeu dinheiro nas oscilações de preços deste início do
ano. Mas pode ser que as ligeiras
confusões dos mercados neste início
do ano talvez sejam mesmo um sintoma de redução do apetite mundial
por risco. Isto é, por ativos de países
emergentes, Brasil inclusive. Mas
qual o fundamento da análise?
As Bolsas emergentes vão mal no
início de 2007, caem faz seis dias. No
Brasil, a Bovespa vem sendo arranhada por oscilações nas ações de
petróleo e metais. Mas os mercados
que mais interessam, os de moedas e
juros, estão tranqüilos e o dinheiro
continua fluindo para o país.
Os preços de commodities estão
caindo devido em parte ao contágio
do petróleo, pois não houve, nem
poderia ter havido, em prazo tão
curto, alteração essencial nos fundamentos econômicos. Em parte, os
preços caem também porque investimentos em índices de commodities não renderam o esperado na
metade final do ano passado, e há
gente reorganizando sua carteira de
aplicações.
De resto, sempre há o boato de
que "um "hedge fund" estaria vendendo tudo" para compensar "enormes perdas" no mercado de combustíveis ou qualquer outro investimento ruim. Quando o mercado
corcoveia, trata-se de boato recorrente, ainda mais depois que, em setembro do ano passado, o Amaranth
Advisors foi à breca e perdeu bilhões
de dólares devido a negócios errados
com o preço do gás.
Enfim, a informação disponível
para pensar se surgiu alguma nova
tendência nos mercados emergentes ainda é precaríssima. "Correção"
e "aumento de aversão ao risco", por
ora, são apenas mantras. As corcoveadas no mercado brasileiro, por
ora restritas à Bolsa, servem apenas
para abrir oportunidades de compra
de ações para quem acha que o Ibovespa vai mesmo continuar a viagem à estratosfera.
vinit@uol.com.br
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