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Analistas defendem maior flexibilização para o setor aéreo
Para especialistas, falta modernizar gestão da Infraero e colocar iniciativa privada na administração de aeroportos
Outra corrente afirma que problemas são falta de órgão responsável pela construção de políticas para o setor e ausência de lei atualizada
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
A liberalização pela qual o setor aéreo passou no Brasil não
foi suficiente, defendem especialistas: faltou flexibilizar as
tarifas aeroportuárias, modernizar a gestão da Infraero, incluir a iniciativa privada na administração de aeroportos e
derrubar restrições regulatórias que ainda persistem.
A partir dos anos 90, o setor
aéreo no Brasil começou a passar por reformas regulatórias,
cujo objetivo foi estimular a entrada de novas companhias no
mercado e liberalizar preços.
Apesar de a liberalização do
setor ter sido interrompida em
2003, quando várias companhias entraram em crise e regras como restrição à importações de aviões foram colocadas,
houve benefícios desse processo. O transporte aéreo, segundo
Alessandro Oliveira, do Nectar,
é hoje mais competitivo e eficiente e as tarifas médias caíram, o que estimulou mais pessoas a viajarem de avião.
Por outro lado, diz ele, também como conseqüência do livre mercado, os vôos estão concentrados em poucos aeroportos e a cobertura aérea piorou.
Ele lembra que as regras da infra-estrutura aeroportuária
permaneceram rígidas: os aeroportos ainda são controlados
por uma estatal que possui administração centralizada.
"Não há flexibilidade para
negociar incentivos para operação em determinados aeroportos", afirmou.
No estudo, Oliveira defende
uma eventual privatização da
Infraero ou a abertura maior do
setor para a iniciativa privada.
Outra sugestão dada no texto é
a realização de PPPs (Parcerias
Público-Privadas).
Especialistas também sugerem a abertura de parte do capital da Infraero para acionistas, a fim de aumentar a governança corporativa ou permitir
a administração de novos aeroportos pela iniciativa privada.
"Se Congonhas, Guarulhos e
Viracopos fossem unidades isoladas, competiriam entre si",
analisa Paulo Bittencourt Sampaio, especialista em aviação.
Vazio regulatório
A visão de que o país deve caminhar para uma liberalização
da infra-estrutura aeroportuária, entretanto, não é consenso
no mercado. Alguns analistas
acreditam que o real problema
do setor aéreo é o chamado "vazio regulatório", ou seja, a falta
tanto de um órgão que seja efetivamente responsável pela
construção de políticas públicas quanto de uma legislação
atualizada para o setor.
Em relação ao primeiro caso,
há quem defenda a dissolução
do Conac (Conselho de Aviação
Civil) e a alocação da responsabilidade do setor dentro de um
ministério. O Conac, criado em
2000, é um órgão formado por
seis ministros, que se reúnem
para discutir a formação de políticas para o setor. Apesar da
crise da aviação no ano passado, a última reunião do Conac
aconteceu em 2003. A maioria
das medidas aprovadas nunca
chegou a entrar em vigor.
Nos EUA e na Europa, a desregulamentação do setor deu
lugar a uma atuação mais direta
de parlamentares. Foram criadas as EAS (Essencial Air Services) e a PSO (Public Services
Obligation), localidades que
deveriam ser atendidas em nome do interesse nacional, mesmo que as rotas não fossem
muito atraentes do ponto de
vista comercial.
Código ultrapassado
Em relação à legislação, o Código Brasileiro de Aeronáutica,
criado antes da Constituição de
1988, é avaliado como ultrapassado por especialistas.
Um estudo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de
novembro de 2002 falava sobre
a necessidade de atualização do
código e também da criação da
Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil).
"A implementação da agência se dará antes da definição do
marco regulatório, o que pode
não significar grandes avanços
no sentido de uma política adequada para o segmento aéreo
regional, uma vez que a função
das agências é a de implantar,
regular e fiscalizar as leis e políticas que já se encontram em
vigor", afirma o estudo. Até hoje, apesar da criação da Anac,
no ano passado, não há definição sobre um marco regulatório para o setor.
Documento obtido pela Folha mostra que o governo já
considerou a hipótese de voltar
a regular de perto o setor. Em
2003, época em que se planejava a fusão Varig-TAM, grupo de
estudo formado pelo BNDES e
pelo antigo DAC (Departamento de Aviação Civil) elaborou
um conjunto de diretrizes para
a organização da indústria. O
projeto naufragou após chegar
ao Ministério da Fazenda.
Além de prever o monopólio
dos vôos internacionais para
uma única empresa, o projeto
incluía mudanças nos contratos das empresas que fariam
vôos domésticos com a inclusão de metas operacionais, política tarifária, garantias de performance, entre outros aspectos regulatórios.
(MP e JL)
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