São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2007

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País quer força-tarefa para investigar italianos

Ministério Público pretende trocar informações do Brasil e da Itália sobre Parmalat, Telecom Italia, Tecnosistemi e Cirio

Negócios e remessas de empresas que faliram e suposta corrupção de políticos e servidores públicos estão na mira


26.jan.03/France Presse
Caminhão deixa fábrica da Parmalat em Collechio, nas proximidades de Parma, no norte da Itália


JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Procuradoria Geral da República vai coordenar uma força-tarefa para investigar suposta rede de lavagem de dinheiro e corrupção capitaneada por executivos italianos no Brasil.
As ilegalidades, desconfiam os procuradores, teriam acontecido ao longo de duas décadas, mas atingiram o auge entre 1997 e 2004.
O esquema envolveria grandes empresas italianas que tinham filiais no Brasil. Na lista, estão Parmalat, Telecom Italia, Tecnosistemi (ex-fornecedora da Telecom Italia) e Cirio (ex-controladora da Bombril).
Essas quatro empresas também são investigadas pelo Ministério Público na Itália.
Assim como no Brasil, os inquéritos têm diferentes objetivos e correm em separado -o que dificulta o cruzamento dos dados, na avaliação dos procuradores locais.
No Brasil, as investigações são tocadas nas instâncias cível e criminal. Estão espalhadas pelo Ministério Público de São Paulo e do Rio de Janeiro e pelo Ministério Público Federal em Brasília, São Paulo e Rio.
Os promotores estaduais cuidam dos processos de falência e estão interessados em descobrir se houve desvio de recursos que serviriam ao pagamento de milhares de credores.
Os procuradores federais, por sua vez, querem saber de possíveis crimes contra o sistema financeiro, de desvio e mau uso de dinheiro dos contribuintes e de prevaricação por parte de servidores públicos.
De acordo com o que a Folha apurou, a intenção do Ministério Público é formar um time para esquadrinhar documentos, evidências, relatórios e testemunhos colhidos por colegas italianos.
A desconfiança dos procuradores italianos é que as filiais brasileiras da Parmalat, da Tecnosistemi e da Cirio serviram à lavagem de dinheiro das matrizes.
No Brasil, suspeitam as promotores italianos, o esquema teria funcionado por meio de operações no mercado financeiro, como emissão de ações e negócios fictícios. Já o Ministério Público daqui investiga se houve corrupção de servidores públicos brasileiros e propinas pagas a partidos e políticos para acobertar as operações.
Além das informações que pretende obter da Itália, o Ministério Público Federal contará com a ajuda dos promotores estaduais que investigam a Parmalat, a Tecnosistemi e a Cirio.
Esses inquéritos foram os primeiros a apontar indícios de que um grupo de executivos italianos teria feito negócios suspeitos à frente de filiais brasileiras dessas empresas.
A desconfiança é que o grupo era capitaneado pelo italiano Gianni Grisendi, ex-presidente da Parmalat, da Telecom Italia e da Bombril. Ele também era sócio minoritário da Tecnosistemi.
Outros nomes na lista de investigados na Itália são Calisto Tanzi e Mario Mutti, que eram sócios na Parmalat. Mutti tornou-se, depois, dono da Tecnosistemi. Tanzi e Mutti são acusados na Itália de terem lavado dinheiro e promovido a falência fraudulenta da Parmalat e da Tecnosistemi. Tanzi admitiu culpa diante dos tribunais italianos.


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