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São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2003

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ARTIGO

Três anos após pico da Nasdaq, investidores querem segurança

FLOYD NORRIS
DO "THE NEW YORK TIMES"

Há exatamente três anos, tudo parecia brilhante para os investidores. Hoje, há pouco para comemorar -os que um dia viam tudo positivo hoje parecem obcecados pelo que pode dar errado.
Foi em 10 de março de 2000 que o índice composto Nasdaq atingiu o pico de 5.048,62 pontos. Ele tinha duplicado desde o verão anterior, e as pessoas que advertiam sobre uma bolha nas ações de tecnologia estavam enganadas há tanto tempo que poucos ainda lhes davam atenção.
Mas em breve elas iriam provar que estavam certas. Em pouco mais de um mês o Nasdaq perdeu um terço de seu valor, e, embora depois tenha se recuperado temporariamente, nunca mais chegou perto de seu antigo pico.
Então, em março de 2001 começou uma recessão. Seis meses depois, vieram os atentados ao World Trade Center e ao Pentágono. A recessão provavelmente terminou no final de 2001, mas os efeitos posteriores da bolha continuam afetando negativamente a economia. A indústria de telecomunicações -cuja bolha foi muito maior do que a da internet, pelo menos pela medida de dólares investidos e perdidos- continua deprimida, e o termo "recuperação sem empregos" é corrente.
"A diferença marcante entre hoje e aquela época é que a confiança suprema de que as coisas dariam certo foi substituída por um fascínio mórbido pelo que pode dar errado", disse Robert J. Barbera, principal economista do ITG/ Hoenig. Na época, um urso, Barbera hoje acha que os preços estão deprimidos devido às preocupações sobre o Iraque, e espera uma recuperação se a guerra der certo sob a perspectiva americana.
Warren E. Buffett fez diversos pronunciamentos de urso quando as ações estavam perto do pico, e se recusou a comprar ações de tecnologia para a carteira da Berkshire Hathaway, a empresa que dirige. Em consequência, os investidores aos poucos concluíram que ele tinha perdido o faro. De meados de 1998 até o pico três anos atrás, o preço das ações da Berkshire caiu 47%, enquanto o índice composto Nasdaq aumentava 166%. Desde então, a Berkshire subiu 56%, enquanto o índice caiu 74%.
Buffett continua não se impressionando com as avaliações. Em sua carta anual aos acionistas, divulgada na semana passada, ele disse que encontrava muito poucas ações que pareciam dignas de compra. "Esse fato desanimador é testemunha da insanidade das avaliações atingidas durante a grande bolha", ele escreveu. "Infelizmente a ressaca pode mostrar-se proporcional à festa."
Os principais valores de Buffett, de oito ações -sendo os maiores da Coca-Cola e da American Express- caíram 2% no ano passado, muito melhor que o declínio de 23% registrado pela Standard & Poor's 500.
Para a maioria dos investidores, segurança se tornou a palavra-chave. Talvez o investimento mais seguro em que se possa pensar é um bônus do Tesouro com proteção contra a inflação, e os investidores correram para eles. De modo geral, calcula a Lehman Brothers, os investidores em títulos do Tesouro protegidos contra a inflação tiveram ganhos de 46% nos últimos três anos.
Na alta do mercado, a crença nas ações se espalhou para quase todo o mundo. Mas acontece que havia pouca segurança na diversificação internacional. O mercado japonês está deprimido há anos, mas até ele se recuperou nos meses anteriores ao pico do mercado americano. Desde então, o Nikkei 225 caiu mais de 60% (medido em dólares). Os mercados da França e da Alemanha perderam mais da metade de seu valor, e o da Grã-Bretanha teve queda quase igual.
Entre as empresas americanas, algumas se saíram bem desde março de 2000. Sete das 30 ações industriais do Dow Jones subiram, lideradas pela Altria, a antiga Philip Morris, que ganhou 88%. Johnson & Johnson, Procter & Gamble e 3M, todas consideradas desinteressantes no pico e todas perdedoras nos últimos seis meses da corrida da Nasdaq, subiram ao menos 50% nos últimos três anos.
Outro setor que se beneficiou de vendas surpreendentemente fortes, o de automóveis, não conquistou os favores de Wall Street. Detroit manteve as vendas altas, mas apenas com grandes descontos, e recentemente surgiram sinais de que as vendas podem estar começando a cair. Desde o pico, a Ford caiu 68% e a GM, 60%.
A lista de empresas que caíram pelo menos 90% inclui Lucent, Qwest, JDS Uniphase, Gateway, LSI Logic, Corning e Sun Microsystems. Enquanto isso, Cisco, Yahoo, EMC, El Paso, AMR, Delta, Motorola, Texas Instruments, Nextel e AOL perderam pelo menos 80%.
É um desempenho que parecia impensável três anos atrás, quando era considerado garantido que os grandes riscos traziam grandes retornos. Embora os riscos devam certamente estar bem menores hoje, poucos investidores estão dispostos a corrê-los.


Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves


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