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ARTIGO
Três anos após pico da Nasdaq, investidores querem segurança
FLOYD NORRIS
DO "THE NEW YORK TIMES"
Há exatamente três anos,
tudo parecia brilhante para os
investidores. Hoje, há pouco para
comemorar -os que um dia viam
tudo positivo hoje parecem obcecados pelo que pode dar errado.
Foi em 10 de março de 2000 que
o índice composto Nasdaq atingiu o pico de 5.048,62 pontos. Ele
tinha duplicado desde o verão anterior, e as pessoas que advertiam
sobre uma bolha nas ações de tecnologia estavam enganadas há
tanto tempo que poucos ainda
lhes davam atenção.
Mas em breve elas iriam provar
que estavam certas. Em pouco
mais de um mês o Nasdaq perdeu
um terço de seu valor, e, embora
depois tenha se recuperado temporariamente, nunca mais chegou perto de seu antigo pico.
Então, em março de 2001 começou uma recessão. Seis meses depois, vieram os atentados ao
World Trade Center e ao Pentágono. A recessão provavelmente
terminou no final de 2001, mas os
efeitos posteriores da bolha continuam afetando negativamente a
economia. A indústria de telecomunicações -cuja bolha foi muito maior do que a da internet, pelo
menos pela medida de dólares investidos e perdidos- continua
deprimida, e o termo "recuperação sem empregos" é corrente.
"A diferença marcante entre hoje e aquela época é que a confiança
suprema de que as coisas dariam
certo foi substituída por um fascínio mórbido pelo que pode dar
errado", disse Robert J. Barbera,
principal economista do ITG/
Hoenig. Na época, um urso, Barbera hoje acha que os preços estão
deprimidos devido às preocupações sobre o Iraque, e espera uma
recuperação se a guerra der certo
sob a perspectiva americana.
Warren E. Buffett fez diversos
pronunciamentos de urso quando as ações estavam perto do pico, e se recusou a comprar ações
de tecnologia para a carteira da
Berkshire Hathaway, a empresa
que dirige. Em consequência, os
investidores aos poucos concluíram que ele tinha perdido o faro.
De meados de 1998 até o pico três
anos atrás, o preço das ações da
Berkshire caiu 47%, enquanto o
índice composto Nasdaq aumentava 166%. Desde então, a Berkshire subiu 56%, enquanto o índice
caiu 74%.
Buffett continua não se impressionando com as avaliações. Em
sua carta anual aos acionistas, divulgada na semana passada, ele
disse que encontrava muito poucas ações que pareciam dignas de
compra. "Esse fato desanimador é
testemunha da insanidade das
avaliações atingidas durante a
grande bolha", ele escreveu. "Infelizmente a ressaca pode mostrar-se proporcional à festa."
Os principais valores de Buffett,
de oito ações -sendo os maiores
da Coca-Cola e da American Express- caíram 2% no ano passado, muito melhor que o declínio
de 23% registrado pela Standard
& Poor's 500.
Para a maioria dos investidores,
segurança se tornou a palavra-chave. Talvez o investimento mais
seguro em que se possa pensar é
um bônus do Tesouro com proteção contra a inflação, e os investidores correram para eles. De modo geral, calcula a Lehman Brothers, os investidores em títulos
do Tesouro protegidos contra a
inflação tiveram ganhos de 46%
nos últimos três anos.
Na alta do mercado, a crença
nas ações se espalhou para quase
todo o mundo. Mas acontece que
havia pouca segurança na diversificação internacional. O mercado
japonês está deprimido há anos,
mas até ele se recuperou nos meses anteriores ao pico do mercado
americano. Desde então, o Nikkei
225 caiu mais de 60% (medido em
dólares). Os mercados da França
e da Alemanha perderam mais da
metade de seu valor, e o da Grã-Bretanha teve queda quase igual.
Entre as empresas americanas,
algumas se saíram bem desde
março de 2000. Sete das 30 ações
industriais do Dow Jones subiram, lideradas pela Altria, a antiga
Philip Morris, que ganhou 88%.
Johnson & Johnson, Procter &
Gamble e 3M, todas consideradas
desinteressantes no pico e todas
perdedoras nos últimos seis meses da corrida da Nasdaq, subiram ao menos 50% nos últimos
três anos.
Outro setor que se beneficiou de
vendas surpreendentemente fortes, o de automóveis, não conquistou os favores de Wall Street.
Detroit manteve as vendas altas,
mas apenas com grandes descontos, e recentemente surgiram sinais de que as vendas podem estar
começando a cair. Desde o pico, a
Ford caiu 68% e a GM, 60%.
A lista de empresas que caíram
pelo menos 90% inclui Lucent,
Qwest, JDS Uniphase, Gateway,
LSI Logic, Corning e Sun Microsystems. Enquanto isso, Cisco,
Yahoo, EMC, El Paso, AMR, Delta, Motorola, Texas Instruments,
Nextel e AOL perderam pelo menos 80%.
É um desempenho que parecia
impensável três anos atrás, quando era considerado garantido que
os grandes riscos traziam grandes
retornos. Embora os riscos devam certamente estar bem menores hoje, poucos investidores estão dispostos a corrê-los.
Tradução de Luiz Roberto
M. Gonçalves
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