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São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2003

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POLÊMICA

Associações favoráveis querem levar proposta conjunta ao governo federal para tentar a liberação dos produtos

Encontro esquenta debate sobre transgênico

CÍNTIA CARDOSO
ALESSANDRA MILANEZ

DA REPORTAGEM LOCAL

Um encontro que está previsto para acontecer hoje, em São Paulo, vai reunir diferentes setores do agronegócio brasileiro para debater sobre os transgênicos.
Boa parte da lista dos convidados tem pelo menos um ponto em comum: é favorável à liberação do plantio e comercialização de organismos geneticamente modificados no Brasil. Aprosoja (Associação Brasileira de Produtores de Soja), Abrasem (Associação Brasileira de Produtores de Semente), Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) são algumas das associações convidadas.
Os participantes pretendem elaborar uma carta com uma posição de consenso para ser encaminhada ao governo federal. A anfitriã do evento será a Abag (Associação Brasileira de Agribusiness), entidade que era presidida pelo atual ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
"Os agricultores ainda são muito desarticulados nessa questão de transgênicos. Temos interesse na liberação de soja transgênica, mas queremos que o debate seja científico, e não apenas político", diz o presidente da Aprosoja Iwao Myiamoto, que confirmou presença no encontro de hoje.
A política, porém, não está afastada do debate sobre transgênicos. Tanto os favoráveis contra os contrários à liberação se acusam mutuamente de praticar lobby com o governo federal e com parlamentares.
A CNA (Confederação Nacional da Agricultura), por exemplo, assume que defende a liberação dos transgênicos em conversas com políticos. Carlos Sporetto, vice-presidente da CNA, afirma que a entidade está acionando ministérios e políticos sobre a necessidade de uma definição rápida sobre o tema. "Fizemos uma enquete e 70% dos produtores são favoráveis à transgenia."
Um dos principais argumentos dos que defendem a liberação dos transgênicos no Brasil é que eles já estariam presentes nas mesas brasileiras há pelo menos sete anos -logo, diante da impossibilidade de inversão do quadro, não haveria saída senão liberar o produto.
Desde 2002, o Greenpeace elabora uma lista com os alimentos brasileiros que teriam substâncias geneticamente modificadas, derivadas de soja RR e milho Bt (ambos produzidos pela Monsanto).
O guia é elaborado com base em informações divulgadas pelas próprias empresas que preenchem um questionário enviado pelo Greenpeace. Tatiana Carvalho, responsável pelo guia, afirma, entretanto, que pode haver traços de transgênicos mesmo entre os que declaram não os produzir. "Não temos condição de testar todos os produtos do mercado. Não somos empresa certificadora."
A organização ambientalista acusa a multinacional Monsanto de fazer lobby pró-transgênico em Brasília. A empresa se defende. Por meio de sua assessoria de imprensa, diz que há apenas um escritório comercial no Distrito Federal que trata dos negócios da Monsanto no âmbito governamental, mas ressalta que hoje a sua posição é de neutralidade.
A Monsanto, por sua vez, rebate ao declarar que o Greenpeace possui ativistas que atuam politicamente. A entidade confirma a prática e diz que mantém representantes para acompanhar as discussões com o objetivo de defender o consumidor.

Vigília
Integrantes de cinco movimentos sociais ligados à luta pela terra, entre eles o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), iniciaram ontem à tarde em Uberlândia (MG) uma "vigília simbólica" em frente à Monsanto.
A idéia é permanecer sob barracos de lona na porta da empresa durante cinco semanas. A manifestação leva o nome "Por um Brasil Livre de Transgênicos". Ontem havia cerca de 200 pessoas no local, mas os organizadores prevêem reunir 800. Caso sejam impedidos de permanecer no local, os sem-terra dizem que vão montar seus barracos no centro da cidade.


Colaborou a Agência Folha


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